Créditos da imagem: Diario Olé
Campeonatos de futebol profissional que contam com gigantes do futebol mundial (clubes com faturamento na casa das centenas de milhões de reais), que têm seus direitos de transmissão disputados a tapa por emissoras colossais, dispostas a pagar verdadeiras fortunas para passar seus jogos para milhões e milhões de espectadores, em estádios que, não raramente, estão tomados por dezenas de milhares de fieis, que geram rendas milionárias.
As federações que organizam tais torneios obtêm muito dinheiro da receita movimentada. Poderosas financeiramente e politicamente, só se beneficiam de todo o prestígio e paixão pelos clubes que são os responsáveis por todo o interesse em torno daquilo que organizam.
Tudo isso parece mais do que suficiente para fazer com que o organizador da competição tome o máximo cuidado a fim de garantir que seus participantes e consumidores não desperdicem qualquer esforço, recurso ou atenção, correto?
Mas não. Com relativa frequência, equipes são eliminadas por questões burocráticas, partidas têm seus resultados alterados/anulados e até mesmo um rebaixamento -da Portuguesa, no Brasileirão de 2013, que foi o canto do cisne da equipe do Canindé na elite do futebol brasileiro- foi definido com base naquilo que é considerado “escalação irregular de um atleta”.
O episódio mais recente é o do Santos, que após arrancar um bom empate na Argentina contra o duríssimo Independiente, mesmo estando em crise o ano todo, vê como muito provável que o resultado da partida seja alterado para 3 a 0 para os hermanos por uma questão burocrática envolvendo Sánchez, um atleta que não fez qualquer diferença em campo.
Como se sentem as pessoas continente afora que gastaram mais de 90 minutos de sua atenção assistindo a uma partida que não serviu de absolutamente nada? E os santistas que viajaram para acompanhar a partida em Avellaneda? E o ânimo do torcedor do Peixe para acompanhar a partida de volta, sabendo que sua equipe está condenada a ser eliminada, afinal, precisa golear um duro adversário que sequer teve o mérito de batê-la?
Especialista em direito que é, o amigo e colega Gustavo Fernandes me explicou que, de acordo com o regulamento, é tarefa dos clubes checar se os atletas estão em condições ou não de jogo. Mas o meu ponto não é legal, e sim conceitual.
Clubes de futebol existem para praticar o esporte. Obviamente têm um setor de Recursos Humanos para contratação e gestão trabalhista de seus profissionais, mas isso tem a ver com o vínculo entre a entidade e seus contratados. Já federações têm como atividade fim a realização dos espetáculos que organizam. Ou seja, cabe a elas se certificarem a priori de quem tem condições para disputar suas partidas, e informar publicamente -tanto aos clubes quanto ao público geral. A partir disso, simplesmente não devem aceitar o credenciamento de quem não está em condições, a fim de garantir a todos que, com sua chancela, aquele espetáculo é para valer.
Ou, por algum acaso, um clube pode entrar com doze jogadores em campo, ou uma equipe feminina pode, de repente, aparecer com um jogador contratado, que “não tem problema, é só anular o jogo depois”?
Que a verdade do campo seja alterada por algo descoberto a posteriori, como, por exemplo, o doping deliberado de uma equipe, ou esquemas de corrupção da arbitragem, é completamente diferente de se anular uma partida na qual nada de errado aconteceu, a não ser que o organizador permitiu que a bola fosse rolada por alguém que ele diz que não tinha condições de estar lá. Ora, se não tinha, como é que pôde jogar? Então eu posso entrar em campo, também, se quiser?
Que tenhamos mais cuidado com cada partida. Ela pode representar uma marca histórica ou despertar a paixão do menino. O gol de placa da partida anulada não será refeito nunca mais.
Leia também:
ESSA CONMEBOL É UMA VERGONHA!