Créditos da imagem: Folha – UOL
A administração de José Carlos Peres no amado Santos Futebol Clube é desastrosa. Mais uma, aliás. Na mesma proporção em que talvez por obra de Deus revelamos craques, somos amaldiçoados pelo Diabo na hora da governança. Saímos do desastre Modestinho, aquele tiozão que toma umas no almoço familiar de domingo e dorme na mesa, para uma gestão que envergonha os santistas com um pingo de noção de ridículo.
Os mais antigos lembram de Mazaroppi, o caipira trapalhão que divertia a criançada no cinema do século passado. Peres é o nosso Mazaroppi de paletó. Suas entrevistas constrangem os santistas. Para lembrar de duas mais recentes, voltemos ao desembarque do time depois do empate em Buenos Aires com o Independiente. Com ares de sabichão que tinha desmascarado uma farsa no caso Sánchez, sapeca na lógica: “Engraçado, né? Se estava suspenso, como jogou a Copa do Mundo pela seleção do Uruguai?”. O esperto presidente confundiu FIFA com Conmebol, seleção com River Plate… Tinha mais. No dia seguinte vai ao SporTV e reclama da falta de “cavalheirismo” dos cartolas do Independiente que, na lógica ética de Peres, teriam o dever de avisá-lo que Sánchez não deveria entrar em campo. Durante dias, viramos piada. Não há indício nenhum que Peres seja desonesto. Mas é de uma incompetência de escala de tsunami. Verdade que recebeu um clube arrasado pela imodéstia de gestão desastrosa do antecessor, que por sua vez… Mas está claro pelo balanço fiscal que o SFC não resiste muito tempo à comédia de uma diretoria que nasceu errada. Para piorar, Peres ganhou a fama no mundo da bola de não cumprir acordos, mudar de ideia como troca de camisa etc. Enfim, o Santos agoniza e só está se segurando graças a Cuca, que aliás está dando todos os toques que sairá em breve, vitimado pela bagunça.
Então, o impeachment é necessário, não? Não, o impeachment vai acabar com o Santos. Nosso clube é fiel à máxima do “nada do que é péssimo não pode ser piorado”. Impeachment não deve ser aplicado em caso de incompetência. Se fosse assim, quase nenhum presidente de time brasileiro sobreviveria até o final do mandato. Não há prova de desonestidade de Peres, o que justificaria a deposição, só de falta de inteligência. Esse legalismo repentino de quem deixou passar as
barbaridades desde os tempos de Marcelo Teixeira é evidentemente uma manobra aética para modificar resultado de urna.
Qual o risco que corremos? Orlando Rollo consegue ser pior do que Peres. O provincianismo, a falta de currículo compatível com a história alvinegra, o desprover de modos, a quase certa composição com alas adeptas da violência física levarão, se concretizada a derrubada de Peres, ao apequenamento definitivo do Santos. Alguém imagina Rollo participando e acrescentando alguma coisa numa mesa de discussão com administradores e bancos sobre a renegociação da dívida do clube, por exemplo? Ou em um evento formal que não seja de bom tom ficar cercando jornalista para dar alguma entrevista sobre a “escola Rollo de saber”, uma coisa como sugerir Paulinho McLaren para técnico?
Entregar a grandeza do Santos ao atual vice em época de futebol cada vez mais profissional não seria apenas a reedição de Maneco das Tintas, Samir, Miguel Assad e tantos outros. Seria renunciar a qualquer sonho de grandeza. Seria a miséria de se contentar em manter o Santos Futebol Clube como o maior time da Baixada. Não, é preciso evitar o confinamento geográfico do Santos.
É preciso, se necessário, que Peres renuncie e se encontre um acordo político que permita no mínimo a realização de novas eleições. Disposição estatutária se arruma, como estamos vendo no caso do impeachment mandrake. Ou, se não for possível, que o nosso Mazaroppi permaneça. O que está conspirando consegue ser bem pior.
Perfeito, não tiro uma vírgula.
Não que o presidente Peres esteja à altura do Santos Futebol Clube, mas para aqueles que conseguem enxergar além, resta evidente o movimento orquestrado pelo seu vice para tirá-lo do poder a qualquer custo. Rollo tem se comportado de maneira infantil, egocêntrica e com viés populista à frente do Santos como jamais testemunhei na história do clube (veja, quão ridícula é a foto que ilustra essa coluna?). Pensar em uma possível “Gestão Rollo” chega a dar calafrios. Sem entrar na questão jurídica, respeitosamente afirmo que o mundo ideal santista seria um mundo sem Jose Carlos Peres, mas, principalmente, sem Orlando Rollo.