Créditos da imagem: Reprodução / DF Sports
A nova edição da Copa SP terá 128 times distribuídos em 32 grupos. Metade será eliminada na primeira fase, dando início a inacreditáveis cinco fases de mata-mata até a final. O campeão, portanto, terá nove partidas em pouco mais de três semanas. A imprensa, como sempre, limita-se às críticas protocolares. Afinal, o que importa é ter assunto no início da temporada. E se engana quem pensa que o torneio é uma exceção em termos de maratonas dos aspirantes a profissional. Apenas é o ápice do exagero. Quem paga a conta é o próprio atleta, que chega -quando chega- despreparado ao time profissional. Mais é menos.
Em 2018, um clube como o São Paulo teve a equipe sub-20 envolvida em competições encavaladas. A Copinha foi seguida pela Libertadores. Depois a Copa do Brasil Sub-20 e o Campeonato Brasileiro Sub-20, sem contar a Copa BH e o Campeonato Paulista. No fim do ano, a Supercopa do Brasil e a Copa RS. No total, foram 38 partidas. Um número baixo para profissionais, porém impróprio a jogadores em formação. “Ih, o cara é novo e tem mais é que jogar sem frescura!”. Sim, é o que pensa quem desconhece o desgaste cientificamente comprovado. Estamos falando de adolescentes sem a estrutura física de um profissional, que deveriam ter mais tempo de treinos para ganhar corpo e técnica. Resultado: o talentoso Helinho chegou ao time profissional com o mesmo físico franzino que tinha no começo de 2018. Facilitou a vida dos marcadores.
O número de torneios evidencia algo mais óbvio ainda: tem garotada e agentes em número muito maior que o de oportunidades. Pensa-se que da quantidade virá a qualidade. Um equívoco que dificulta o acompanhamento de nomes com potencial, numa fase delicada do processo. A partir dos 16 anos, um clube deveria afunilar o elenco de garotos, com exames minuciosos para verificar a aptidão física para os passos finais da transição. Não é o que acontece. Vemos elencos sub-20 à beira da superlotação, em vez de filtrados. O clube aumenta progressivamente o quadro de jovens contratados, mas sem perspectiva de utilização no time principal. Não raro acaba emprestando-os a outros clubes (onde tampouco são utilizados) ou os escalando no campeonato sub-23 – mais uma solução tipicamente brasileira, criando um puxadinho atrás do outro.
Deste sistema mal planejado surge uma situação nada incomum. O torcedor vê os times de base acumulando conquistas e acredita que verá a equipe profissional recheada de tais valores. No fim, são os mesmos dois ou três promovidos de sempre. Aí o autoproclamado observador da base garante que será diferente com a ótima geração seguinte. E a seguinte. Não menosprezem a capacidade humana de repetir experiências frustradas sem cogitar algo errado na repetição. No lugar de rever premissas intocáveis, preferem teorias da conspiração contra a base. Mesmo com os supostos boicotados não conseguindo fazer carreira em nenhum lugar – salvo centros nada expressivos, como Sérgio Mota (o eterno injustiçado do SPFC) na segunda divisão chinesa. Mas o que é mais importante? Repensar conceitos ou garantir muitas curtidas?
Sem a diminuição de campeonatos e uma seleção rigorosa para os grupos sub-20 (quando não os sub-17), o número de desperdícios técnicos tende a seguir igual ou aumentar. Se for para continuar com um modelo caro e ineficaz, talvez até seja melhor abrir mão do investimento na base e terceirizar os elencos (apenas para não tomar punições da FIFA, que obriga os clubes a manter times de base em campeonatos). Ou faz bem feito, pensando na evolução dos métodos, ou fecha a torneira. Ainda que isto represente fantasias a menos para a torcida – e mais comentários pouco gentis com o colunista.
Parabéns, como sempre pontual.