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Da decadência progressiva à “incompetência perfeita”
Errei. Falei do conflito, no São Paulo, entre Lei do Eike (tudo vai dar certo) e a consagrada Lei de Murphy. Mas o tricolor paulista “aperfeiçoou” esta última. Não é que tudo o que pode dar errado vai dar errado. Tudo vai dar errado. Simples assim. Se Messi e Cristiano Ronaldo aparecerem hoje no Morumbi, dizendo que escolheram o SPFC para jogar juntos, alguma coisa vai acontecer. Ou vão brigar entre si, ou o elenco de apoio não vai passar uma bola limpa, ou vão se chocar e perder a temporada, ou qualquer outra hipótese. O certo é que não vão ganhar. Em todo campeonato, todos os times começam com chances. Todos, menos um.
Conversei com Danilo Mironga para batizar a nova Lei do fracasso. Ficamos entre dois nomes. Se possível, gostaria que os leitores ajudassem a escolher. A primeira opção é “Lei Costanza“, homenagem a George Costanza, o amigo loser de Jerry Seinfeld na sitcom. A capacidade de escolher errado do personagem era tão grande que, depois dele, o próprio ator (Jason Alexander) não conseguiu emplacar mais nada na televisão – até porque os personagens eram tão perdedores quanto. A segunda candidata, indicada por Mironga, é “Lei do Coiote“, obviamente por causa do cartoon. Você não precisa nem ligar a TV para saber que ele não pegará o Papa Léguas (nem com todo o estoque da Acme) e, pelo menos uma vez, cairá do abismo. Minha única objeção a esta alternativa é que o São Paulo ainda não caiu. Mas tem muito desenho pela frente. Beep-beep?
É bom destacar que não se trata de um conto de fadas, em que o reino feliz é alvo de um feitiço da fada má. O São Paulo virou a fada má. Construiu uma estrutura daninha com todo o esmero. Nada foi deixado de fora. Nem a torcida. Além de cativar a TTI com favores, construiu uma rede de sites e blogs de chapa platinada, para incutir a esdrúxula noção de que verdadeiro torcedor é o que apoia sempre. A imprensa profissional também fez sua parte. Mesmo alguns críticos repentinos passaram anos fazendo vista grossa, quando não criando termos como “mal necessário” ou “mal menor” para o golpe de Juvenal Juvêncio e a eleição de Leco. Só mudaram de postura em solidariedade a amigos atacados pelo próprio Leco, como Rogério Ceni. Não fosse este detalhe, mui provavelmente estariam dizendo que “ao menos tentaram algo diferente” e concluindo: “não é hora de criticar”.
A Lei Costanza/Coiote já está tão impregnada que temos uma inusitada batalha de erros. Jardine é usado como “prova” de que Diego Aguirre deveria ter ficado. Aguirre, um técnico cuja trajetória se repetiu em todos os últimos clubes, sempre com queda de rendimento irreversível (por motivos já explanados). Por que se reverteria justamente no São Paulo? O final de Aguirre era previsível. O de Jardine era previsível. O do próximo também. Ou perde a namorada e o emprego no mesmo episódio, ou mete a cara no falso túnel que ele mesmo pintou. Isso se for bom. Se for ruim (o que tem sido a regra, incluindo Jardine), só aumentam os requintes de crueldade mental. Como perceber, antes de o time entrar em campo, que uma escalação daquelas simplesmente não podia vencer. Era melhor que não vencesse. Preferível sair de cena antes que a peça se estenda e o cenário despenque na plateia.
Os leitores devem estar perguntando se há como revogar essa Lei. Muito difícil. O congresso tricolor está tomado pelas bancadas que a instituíram. Mesmo trocando o governante, entrará outro com a mesma mentalidade. Não é de espantar, pois sim, que membros de oposição tenham aderido alegremente a cargos e voos da alegria (?). Mudar será ainda mais improvável se – e enquanto – a voz das ruas se calar com eventuais vitórias e ainda cantar que o campeão voltou. Não voltou e não voltará tão cedo. Quando o São Paulo entra num campeonato, as torcidas adversárias já sabem: o perdedor chegou. E, se depender das Leis que o assolam, chegou pra ficar.