Créditos da imagem: Diário do Grande ABC
Depois de assistir à melancólica partida entre Santos e São Caetano da última quarta-feira, nostálgico assumido que sou, lembrei-me dos “anos dourados” da equipe do ABC Paulista (a Associação Desportiva São Caetano foi fundada em 1989 e teve uma ascensão meteórica e histórica no futebol brasileiro no começo dos anos 2000).
Apoio da Prefeitura à parte (tema discutível e que será tratado apenas superficialmente nestas linhas), como era bom ver o Azulão em campo.
O primeiro jogo em que pensei – e dele nasceu a ideia desta coluna – foi justamente contra o Santos: uma goleada de 4 x 0, ocorrida em 2004, do São Caetano sobre o então poderoso time de Diego e Robinho (um verdadeiro baile ao qual estive presente!).
Vale conferir a ficha técnica abaixo para verificar o “tamanho” do clube àquela altura.
Repare no elenco e na qualidade da equipe azul:
São Caetano 4 X 0 Santos, pela semifinal do Paulistão de 2004
SÃO CAETANO
Silvio Luiz; Anderson Lima, Dininho, Serginho e Triguinho; Mineiro, Marcelo Mattos, Fábio Santos e Marcinho; Euller (Somália) e Fabrício Carvalho (Lúcio Flávio)
Técnico: Muricy Ramalho
SANTOS
Doni; Paulo César, Alex, André Luís (Alcides) e Léo; Claiton, Renato, Elano (Róbson) e Diego (Luis Augusto); Basílio e Robinho
Técnico: Emerson Leão
(gols de Euller, Fabrício Carvalho e Marcinho, duas vezes)
Mas calma! Antes que alguém reclame, eu sei que muita coisa aconteceu antes disso. Eu só comecei a escrever por onde as minhas lembranças começaram ao ver a fragilidade do Azulão diante do Santos de Gabigol, pelo corrente Paulistão.
Voltemos ao tempo então.
Foi no ano 2000, mais precisamente na fase mata-mata da folclórica Copa João Havelange (que misturou 116 times de três divisões diferentes), que o São Caetano mais emblemático de todos (de Jair Picerni e Adhemar) começaria “pra valer” a sua linda trajetória em âmbito nacional – e até internacional.
Naquele ano, o Azulão enfileirou os grandes Fluminense, Palmeiras e Grêmio até se garantir na finalíssima contra o Vasco, do Baixinho Romário.
Depois de muita polêmica (queda de parte da arquibancada em São Januário e partida remarcada para o mês seguinte), a equipe carioca, então presidida por Eurico Miranda, levaria o contestado caneco.
São Caetano 1 X 3 Vasco, pela final da Copa João Havelange de 2000
SÃO CAETANO
Silvio Luiz; Japinha (Gilmar), Daniel, Serginho e Cesar; Claudecir, Adãozinho, Esquerdinha (Zinho) e Ailton (Leto); Wágner e Adhemar
Técnico: Jair Picerni
VASCO DA GAMA
Helton; Jorginho (Henrique), Júnior Baiano, Odvan e Jorginho Paulista; Nasa, Clébson, Juninho Pernambucano (Paulo Miranda) e Juninho Paulista (Pedrinho); Euller e Romário
Técnico: Joel Santana
(gols de Romário, Jorginho Paulista e Juninho Pernambucano para o Vasco e Adãozinho para o São Caetano)
Fato é que de ali em diante o São Caetano virou uma espécie de segundo time dos brasileiros e transformou o clima de sua cidade-sede, que passou a respirar futebol.
Em 2002, um verdadeiro pecado. Sabe aquele tipo de oportunidade que acontece apenas uma vez na vida? Pois é… estou me referindo à inesquecível final de Libertadores que escapou entre os dedos daquela pequena grande equipe. No jogo de ida, contra o Olímpia-PAR, uma vitória por 2 a 1. No jogo de volta, em um Pacaembu lotado, a equipe paraguaia devolveu o placar adverso e o Azulão perdeu nos pênaltis a possibilidade de conquistar aquela que hoje é a taça “menina dos olhos” de todo clube brasileiro.
São Caetano 1 X 2 Olimpia, pela final da Copa Libertadores de 2002
SÃO CAETANO
Silvio Luiz; Russo, Daniel, Dininho e Rubens Cardoso; Marcos Senna, Adãozinho, Aílton (Vágner) e Robert (Serginho); Anaílson (Marlon) e Somália
Técnico: Jair Picerni
OLIMPIA
Tavarelli; Isasi, Cáceres, Zelaya e Da Silva; Enciso, Quintana, Orteman e Córdoba (Caballero); Benitez (López) e Báez (Franco)
Técnico: Nery Pumpido
(gols de Aílton para o São Caetano e Córdoba e Báez para o Olimpia)
E assim terminava a passagem do maior treinador da história do clube, Jair Picerni (depois dele, Muricy Ramalho, o saudoso Mário Sérgio e até Tite passaram pelo clube).
Voltando àquela goleada sobre o Santos do início do texto, o São Caetano seria, enfim, campeão naquela temporada (venceu o Paulista de Jundiaí na final e conquistou o campeonato estadual de 2004). No entanto, naquele mesmo ano, a trágica morte do zagueiro Serginho (vítima de um enfarte) ocorrida dentro do campo coincidiria com o início do declínio do clube, que desde então nunca mais se recuperou (em que pese a conquista de alguns bons resultados aqui e acolá).
Além do episódio Serginho, o falecimento do prefeito de São Caetano, Sr. Luiz Olinto Tortorello, também abalaria as estruturas do clube que ele ajudou a fundar e por quem tinha tanta estima.
O período de sua administração (1997-2004) deu um respaldo sem precedentes ao São Caetano, a ponto de o clube conseguir ter um poderio econômico para contratações superior até mesmo ao de seus adversários considerados grandes (a versão oficial é de que nunca houve um apoio financeiro vindo do governo municipal, é bom que se diga).
Por isso tudo, é triste ver o São Caetano com um time tão fraco como o atual, ainda que esta realidade, convenhamos, seja mais condizente com o real tamanho do clube.
De maneira que, mais do que lamentar pelo presente, o torcedor do Azulão deve sempre comemorar o fato de poder ter testemunhado um período mágico do seu clube de coração.
O pequeno São Caetano foi gigante.
E segue o jogo.
PARABÉNS PELA MEMÓRIA ESPORTIVA DO COLUNISTA E DO SITE!
MAIS UM GOLAÇO NO ÂNGULO!
Portuguesa santista também renderia um texto similar
Caramba, viajei no tempo agora!
Muito, muito bom!
Fizemos uma final de campeonato paulista ! Estive no Morumbi na segunda partida.
A derrocada do São Caetano ocorreu após a morte do zagueiro Serginho. Até então, o empresário Samuel Klein, das Casas Bahia, investia alto no clube. Isso deixou de ocorrer a partir do momento em que os negócios do São Caetano passaram a ser investigados, corolário da morte do zagueiro.