Créditos da imagem: Montagem/No Ângulo
Você já sabe tudo sobre as semifinais da Copa do Brasil. O passeio do Santos, mais um, em cima do São Paulo. A vitória suada, sob ameaças, do Palmeiras contra o Fluminense. E que os vencedores jogarão pelo título no final de novembro. Tudo isso, mais a preparação do Corinthians para a volta olímpica comemorativa ao seu sexto título brasileiro – igualando-se ao São Paulo -, meus colegas aqui já levaram a você com plena categoria.
Por isso, continuo contando sobre os presentes que ganhei do Pelé nesses 50 anos de estrada. Como são presentes que dificilmente outros reis darão iguais aos que trilham pelos mesmos caminhos que eu, repito achar que vale a pena.
Fevereiro de 1970, coincidindo com o início da revista onde fui trabalhar, depois de quatro anos no Jornal da Tarde, um marco no jornalismo brasileiro, antes mesmo do primeiro número ir para as bancas, rumamos – eu, Michel Laurence e o fotógrafo Lemyr Martins – ao Retiro dos Padres, no Rio, onde a Seleção Brasileira, ainda sob o comando de João Saldanha, iniciava seus preparativos para o Mundial do México.
Dia de folga do grupo, hora marcada para as entrevistas, fomos conversar com Pelé e convencê-lo segurar – não aceitou levantá-la sobre a cabeça, repetindo os gestos de Bellini, em 58, e Mauro Ramos de Oliveira, em 62 – uma réplica da Taça Jules Rimet, aquela que um ignorante, aproveitando-se da estupidez de seus guardiões, roubou e derreteu, achando que gramas de ouro poderiam valer mais que o que ela representava para o futebol brasileiro.
Pelé topou segurar a réplica com as duas mãos na altura do peito e a fotografia foi para a capa da revista, onde, como brinde aos compradores, foi dada uma moeda que tinha o rosto dele esculpido. Uma bela ideia e um grande erro de marketing. Entre outras coisas, porque espertinhos roubavam a moedinha sem comprar a revista.
Enquanto conversávamos sentados num canto da área externa do hotel, um jogador mineiro, reserva que acabou sendo titular na Copa, talvez pelo tédio de uma concentração, amarrou uma série de notas de 500, grandonas, num barbante, fazendo dele um rabo, que era chutado por ele, enquanto dava voltas e repetia: “parem de me perseguir, vão pra lá, parem de…”.
A brincadeira do colega preocupava Pelé, que não conseguia se concentrar no nosso papo. Respondia uma pergunta e olhava para o companheiro, balançando a cabeça de forma negativa. Até que não aguentou e disse: “não faça isso não. Vá tirar esse rabo e guardar as notas. Dinheiro não atura desaforo. Conheço muitos que não aprenderam isso e hoje…”. O jogador tentou argumentar, e Pelé foi ainda mais duro! Muitos nunca souberam dessa lição ou até hoje não a aprenderam.
Já em Guanajuato, México, agora sob as ordens de Zagallo, a seleção treinava no campo da universidade, onde ergueram uma pequena arquibancada para o público. Numa dessas, apareceu por lá um jovem casal de alemães, com um casal de filhos, entre 7 e 9 anos. O banco onde os jornalistas e a comissão técnica se acomodavam, ficava do outro lado do campo. Sempre solícito (risos), Pelé, que não tirava os olhos dos joelhos da bela mamãe, olhou pra gente e mandou: “quero ver se vocês são meus amigos e trazem aquele banco para o lado de cá”. Ação seguinte, foi perguntar ao casal se queria tirar fotos, bater um papo…
No segundo dia de folga, veio a notícia. Os jogadores visitariam uma fábrica de sapatos em Leon, capital do couro, 60 quilômetros de Guanajuato. A cereja do bolo era que todos – inclusive jornalistas – ganhariam pares de sapatos. A cereja era de plástico. Só os jogadores foram presenteados e com apenas um par! Tempos diferentes aqueles.
Pelé foi a Leon, deu uma volta rápida pela fábrica e logo apareceu no pátio externo, onde ficaram os jornalistas. Sabendo o que devia fazer, pegou uma pequena bicicleta e deu pedaladas, para alegria dos fotógrafos. Minutos depois de encostar a bicicleta, apareceu, correndo, esbaforido, o fotógrafo do O Globo, Rodolfo Machado. Pelé pegou novamente a bicicleta e, sem que Rodolfo pedisse, deu mais algumas voltas. Ele sabia que se o Jornal do Brasil, presente, desse a foto e Rodolfo não tivesse mandado uma igual, sobrariam puxões de orelhas.
Eram mesmo outros tempos…
Os presentes que ganhei de Pelé – Parte I
Os presentes que ganhei de Pelé – Parte II
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Que delicia de história, José Maria!
Eram realmente outros tempos, quando os super astros eram muito mais “humanizados”. E o triste é que uma pessoa capaz dessa gentileza, como foi o Pelé, é constantemente criticado como pessoa. Enfim, o nosso país também devia ser menos chato, imagino, rs!
Como pessoa ele, assim como nós todos, não é perfeito. Veja que Pedro, o Apóstolo escolhido por Cristo para erguer a Sua Igreja, o negou três vezes. E um dele, Judas, o traiu. Mas sempre seria bom que os críticos mais severos do Édson buscassem melhor as razões que teve para tomar certas atitudes, antes de crucificá-lo. Nada mais simples nem mais perigoso do que julgar os outros. Abração