Créditos da imagem: João Saldanha e Nelson Rodrigues no "Grande resenha Facit", na década de 1960 – Reprodução/Memória Globo
Nos anos 70, os programas sobre futebol na televisão tinham mais ação do que muitos filmes e mexiam com paixões bem mais do que as novelas (é bom esclarecer que tudo começou nos anos 60).
“Foi impedimento ou não?” / “O que será que ele disse ao juiz para ser expulso?” / Por que aquele time ganhou, por que aquele perdeu?”.
Para o torcedor brasileiro, naquela época, as mesas-redondas sobre futebol que iam ao ar nas noites de domingo e segunda-feira nos canais de televisão, tornaram-se uma tradição e, mais ainda, um importante tira-teima dos lances duvidosos que aconteciam nos fins de semana.
A fórmula dos programas eram sempre as mesmas: críticas, análises, exibição dos gols em videotape e entrevistas com dirigentes e jogadores. O sucesso era garantido e os profissionais que faziam parte dos programas, tornaram-se ao lado dos gols e dos craques, atração permanente.
Na TV Educativa, Canal 2, do Rio de Janeiro, o “Esporte Total” era comandado por Luiz Mendes, “o comentarista da palavra fácil”. A mesa-redonda geralmente era composta de Sérgio Noronha, José Inácio Werneck, Achiles Chirol, Luís Lobo e Luís Orlando. O futebol era discutido mais em tese, menos sobre lances específicos.
Na TV Guanabara, Canal 7, do Rio, estação que integrava a Rede Bandeirantes de São Paulo, o programa “Bola na Mesa” tinha Avelino Dias como comandante e contava com a participação de Galvão Bueno – ele mesmo, que era o titular de esportes da emissora -, Márcio Guedes, Paulo Stein, João Saldanha e Oldemário Touguinhó.
“Futebol É Com Onze”, da TV Gazeta, Canal 11, de São Paulo, era comandada por Roberto Petri e sua grande equipe era integrada por Peirão de Castro, Dalmo Pessoa, Nílton Reina, Flávio Azetti, Paulo Victor, Barbosa Filho, Sérgio Baclanos, J. Júnior, Sérgio Salrucci, Raul Wagner, Milton Guimil, Geraldo Blota e José Italiano. Eles eram a atração das noites de segunda-feira, na capital paulista.
No Rio, quem monopolizava as atenções dos apaixonados do esporte, diariamente, às 13hs, era Carlos Lima, na TV Tupi, Canal 6. Seu programa “Operação Esporte”, do qual também participava Geraldo Mazella, tinha um ritmo muito intenso, com muitas entrevistas e informações dos clubes cariocas.
Os programas esportivos do gênero na atualidade são repetitivos e muitos dos personagens envolvidos, nem de longe, têm o carisma e o respeito da maioria dos jornalistas citados acima.
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Matéria de O Globo, publicada em 08/06/2014
Formato hoje consagrado quando se fala de futebol, a mesa-redonda estreou na TV em 1963, na TV Rio, pelas mãos do apresentador Luiz Mendes.
Foi dele que partiu a ideia do formato, depois de assistir a um debate político entre diversos comentaristas e imaginar que o futebol também poderia gerar conversas interessantes.
Walter Clark, então diretor da TV Rio, comprou a ideia e surgiu ali o “Grande revista esportiva”, que mudou de nome ao ganhar o patrocínio da empresa Facit, que fabricava máquinas de escrever. Em 1966, o programa migrou para a TV Globo.
Luiz Mendes era o âncora da discussão e, a seu lado, estavam ninguém menos que nomes como Armando Nogueira, Nelson Rodrigues e João Saldanha, além de José Maria Scassa, Hans Henningsen, Vitorino Vieira e o ex-artilheiro Ademir.
Se hoje em dia as discussões nos programas às vezes se exaltam um pouco, naquela época os integrantes da mesa abandonavam constantemente a técnica e discutiam com paixão de torcedor e defendiam seus times. Nelson Rodrigues era tricolor; José Maria Scassa, rubro-negro; João Saldanha, botafoguense; e Vitorino Vieira e Ademir, vascaínos. Armando Nogueira, outro botafoguense, disse em entrevistas que era o único que tentava ser isento: inclusive usava terno para tentar passar uma imagem de credibilidade.
O programa marcou alguns momentos clássicos, como Scassa dizendo que “quem não é torcedor do Flamengo é contra o Flamengo” e Nelson Rodrigues teimando conta o vídeo que mostrava a veracidade de um pênalti contra o Fluminense. “Se o vídeo diz que foi pênalti, pior para o videoteipe. O videoteipe é burro”, disse Nelson, numa frase que ficou célebre.
Sei que vou soar chato, mas parece que a decadência dessas mesas redondas é só mais uma entre tantas outras decadências no país. Ver a música brasileira de hoje e pensar no que já foi, não é tão diferente de ver as mesas redondas de hoje e pensar que já tivemos Nelson Rodrigues, por exemplo, em uma… 🙁
Você não está sendo chato, pois essa é a nossa triste realidade. A sua comparação foi perfeita.
Não sei oque vcs pensam mas o mesa redonda que até vale um pouco a pena assistir hoje em dia é o da tv gazeta.
O único mesa redonda que ainda consigo assistir é o da tv gazeta e os dois piores que são a meu ver é o terceiro tempo e o jogo aberto da band, o último na verdade é um programa de desfile com um cara comendo a mulher toda hora com os olhos.
O programa do Neto, da Renata Fan , a mesa Redonda da Gazeta e todos da Sportv exceto o Redação são tudo porcaria.