Créditos da imagem: Montagem/No Ângulo
José Mourinho parece estar à deriva. O técnico que surpreendeu a Europa ao levar o Porto ao título da Liga dos Campeões de 2004, com 41 anos de idade, atravessa seu pior momento dentro e fora do campo, em uma carreira quase só de altos.
Depois de ser campeão na temporada passada, o Chelsea está naufragando neste ano, a ponto de a demissão do técnico ser o tema da moda no futebol inglês. E Mourinho tem mostrado um descontrole emocional que faz lembrar Vanderlei Luxemburgo nos anos iniciais da sua decadência.
A lista de títulos de Mourinho é imensa: Em 12 temporadas, são 2 Ligas dos Campeões, 1 Liga da Europa, 8 campeonatos nacionais (os demais foram três vices e um terceiro), 4 copas nacionais, 3 copas de liga e 4 supercopas.
A de Luxemburgo é mais modesta, mas nem tanto: cinco títulos nacionais (recordista), 1 Copa do Brasil, 13 campeonatos estaduais (recorde), dois Rio-SP, além de uma Copa América com a seleção.
O curioso é que Mourinho já dava sinais de decadência, se não técnica, mas emocional há muito tempo. O episódio em que enfiou o dedo no olho do então assistente técnico do Barcelona, Tito Vilanova, atacando pelas costas, em 2011, foi impressionante. Afora a covardia, o que se evidenciou nesse episódio foi a fragilidade, o descontrole, do agressor. Ninguém em seu equilíbrio emocional é capaz de uma agressão dessas se não for um sociopata ou uma pessoa acostumada à violência, o que não são os casos do português.
Isso também aconteceu com Vanderlei Luxemburgo.
O espírito beligerante dos dois, que os levam a confrontar jornalistas mesmo quando fazem perguntas meramente técnicas, foi atraindo uma crescente onda de antipatia para os dois. Ambos confundiram civilidade com subserviência, diplomacia com hipocrisia.
E, ambos com o passar dos anos, foram respondendo às críticas com um nível crescente de arrogância – o que é obviamente muito mais uma demonstração de fragilidade do que de força. Para piorar, foram criando uma legião de desafetos entre os jornalistas, que, apesar de serem profissionais do debate de ideias, como todos os serem humanos não apreciam ser atacados e humilhados em público, como Mourinho e Luxemburgo costumeiramente fazem.
A exemplo do brasileiro, o português também foi subindo o tom do seu discurso de autossuficiência. Do autoproclamado “Special One”, passou ao conceito de que “ninguém ganha nada sendo modesto” até desembocar no impressionante “ao estágio em que cheguei, não há muito o que se possa aprender”. O filósofo grego Sócrates, a quem se atribui a frase “só sei que nada sei”, deve ter rolado sobre seu próprio pó.
Tudo isso no fundo é uma couraça destinada a esconder qualquer insegurança, mínima que seja. E essa fragilidade, que o empurra a ter dificuldade de reconhecer erros, a mostrar um lado mais humano, foi um dos anúncios da queda de Luxemburgo.
Em um número enorme de aspectos, Luxemburgo e Mourinho não são nada semelhantes. Há diferenças gritantes de trajetórias no futebol, de formação acadêmica, nos tipos de polêmicas em que se envolveram e até na quantidade de palavrões que costumam dizer dentro de campo.
Mas o grupo dos grandes técnicos é tão reduzido que as semelhanças são tão raras que saltam aos olhos, como agora.
Uma curiosa coincidência. Neste momento, Mourinho, que é nascido em 1963, tem 52 anos. E Luxemburgo, que nasceu em 52, possui 63.
Quando Luxemburgo tinha exatamente a idade que Mourinho possui hoje, conquistou seu último grande título, o Brasileiro de 2004, pelo Santos. Daí foi para o Real Madrid, fracassou e nunca mais se aprumou.
E Mourinho?
A derrocada da carreira do Luxemburgo impressiona. Como um sujeito que atingiu o ápice (Real Madrid e Seleção Brasileira) pode hoje estar no futebol da segunda divisão chinesa??? Soberba? Autossuficiência? Penso que sim, mas já há algum tempo percebo no velho Luxa uma falta de tesão pelo futebol. E sem tesão, fica difícil se manter no topo. Nesse feliz paralelo traçado pelo colunista (já que, de fato, os dois treinadores têm muitas semelhanças), ficou demonstrado que é bom Mourinho abrir os olhos e perceber que, assim como o treinador brasileiro, ele também é falível. E que essa personalidade intragável que lhe é peculiar apenas deixará o caminho a ser percorrido cada vez mais difícil. Não é fácil caminhar sozinho, ora pois. A bola e a vida não perdoam, gajo! Nem aqui, nem na China! 😉
Ótima comparação, Marcelo! Em 2012 eu estava na Espanha e comprei uma revista que falava sobre o interesse do Barcelona no Neymar, e tinha uma coluna que criticava muito o Mourinho. Fiquei impressionado como parecia uma eventual coluna brasileira escrita sobre o Luxemburgo, lá pra 2008, criticando como se ele se sentia o dono do clube, como só pedia contratações e não usava a base ou o que existia antes, e por aí vai. Serviria perfeitamente 😉
A soberba querer aparecer demais na mídia arrogância em se acha melhor que todos
[…] – Sobre Luxemburgo e Mourinho […]