Créditos da imagem: Avellaneda
O Santos enfrenta o Independiente, da Argentina, esta noite, em Avellaneda
Sei o que é trabalhar naquele alçapão. Estava lá na noite de 4/5/72, quando o São Paulo perdeu por 2 a 0, também pela Libertadores. O estádio era menor antes da reforma pela qual passou há alguns anos. Não tinha lugar para a imprensa estrangeira. Pelo menos não teve para mim. Fiquei num setor ao lado do reservado para cartolas – onde estavam os brasileiros – e a torcida assistia de pé. Não demorou muito para Sérgio Valentim, goleiro do São Paulo, levar os dois gols. Um, lembro-me bem, de escanteio, com ele mais preocupado em escapar da chuva de moedas e pilhas usadas atiradas pelos torcedores, do que olhar a bola no ar. E fazia muito bem. De pé, no meio da torcida argentina, eu fazia as anotações usando uma caneta BIC, aquela amarelinha, com ponta bem fininha. O hermano às minhas costas socava minha cabeça a cada lance de ataque e/ou de defesa dos locais. Fingindo que torcia. Fui suportando até perto do final do primeiro tempo, quando virei, encostei a pontinha da Bic na ponta do coração do hermano e disse para ele: “posso morrer aqui, filho de uma…, mas levo você junto”. E ele, assustado, olhando para um garoto de seus 11 anos ao lado, respondeu: “non passa nada. Non passa nada”. Em resposta dei mais uma apertadinha. Tudo rapidamente. Logo o árbitro apitou final do primeiro tempo e eu tratei de mudar para o outro lado, guardando papel e caneta. No final, sai para procurar um táxi, junto com o Fernando Pimentel, fotógrafo. Achei que estava dando sorte, tinha um parado logo ali. Errado. Estava reservado para um jornalista brasileiro, paulista. Logo ele chegou. Era meu conhecido. Propus dividirmos a corrida e levei uma enorme raspança. Devia ter reservado um táxi, ensinou-me ele. Anos depois, em outubro de 1981, fui cobrir o Mundial sub-20, na Austrália. O companheiro jornalista era o chefe da delegação brasileira. No jogo pelas quartas, Brasil x Qatar, em Newcastle, assistíamos o jogo juntos – eu, ele, Waldir de Moraes, Elias Zacur – quando o companheiro, de repente, sem fazer nada a ninguém, deixou a cadeira e desapareceu. Só o vimos quando invadiu o campo para tirar satisfação com o árbitro que dava aquela força para Qatar – que venceu por 3 a 2. O chefe da nossa delegação acabou expulso de campo, depois da confusão que arrumou. Na volta, de trem para Sidney, todos juntos, ele se aproximou e me disse: “você não vai mandar essas coisinhas para lá, né?”. Respondi que já havia mandado. E era verdade. Mas que se não tivesse, mandaria de qualquer forma. E nada tinha a ver com a raspança em Avellaneda. Que nem me lembrava mais. Rsrsrs

Em seus mais de cinquenta anos de carreira, teve passagem marcante pelos principais veículos de comunicação do país, como Rede Globo, SporTV, Placar, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Portal Terra. Além de expoente do jornalismo esportivo brasileiro, é advogado de formação.
BAMBI, você chorou?
Interessante e raro registro sobre a passagem do Sao Paulo pela Libertadores de 72