Créditos da imagem: Arquivo/O Globo
Quis o destino que Zezé e seu irmão, Aymoré Moreira, morressem no mesmo ano, em 1998, com diferença de pouco mais de três meses. Seu nome verdadeiro era Alfredo Moreira Júnior, e morreu em 10 de abril, no Rio de Janeiro, tendo como causa uma insuficiência respiratória, provocada por pneumonia.
Há controvérsia com relação ao ano de seu nascimento, pois na maioria das reportagens aparece como sendo em 1907. Tomei como base uma entrevista publicada no ano de 1963, na extinta Revista do Esporte, onde ele afirmava a data de nascimento como sendo 16 de outubro de 1908, na cidade de Miracema (RJ). O apelido “Zezé” foi devido à admiração que tinha por um certo jogador de nome “Zezé” Guimarães, que jogava pelo Fluminense.
Zezé Moreira foi um lateral-direito com forte poder de marcação e que chegava sempre junto. Começou no Sport Clube Brasil, da Praia Vermelha, em 1928, e posteriormente atuou no Botafogo – onde ficou por mais tempo e jogou ao lado de seu irmão Aymoré Moreira – Flamengo e América, todos do Rio. Em São Paulo vestiu a camisa do Palestra, hoje Palmeiras – campeão paulista de 1934 – retornando ao Botafogo para encerrar a carreira em 1943. Assim durou a sua carreira de 15 anos como jogador.
Formado pela Escola de Educação Física, em 1944, logo começou a trabalhar como preparador físico nas categorias de base do Botafogo, até que em 1948 assumiu a direção técnica do time profissional. Foi um grande começo, já que se sagrou campeão, após 13 anos de jejum do time da Estrela Solitária. Também conquistou títulos por outros clubes como Fluminense – campeão carioca em 1951 e 59, campeão da Copa Rio em 1952 e do Rio-São Paulo em 1960, Nacional – campeão uruguaio de 1963 e 69, Vasco – campeão da Taça Guanabara em 1965 e do Rio-São Paulo em 1966, São Paulo – campeão paulista em 1970, Bahia – campeão baiano em 1975, 78 e 79, Cruzeiro – campeão mineiro em 1975 e 77, e da Taça Libertadores em 1976. Treinou também o Belenenses, de Portugal, Palestino, do Chile, Canto do Rio, Corinthians, Sport Recife e América (RJ).
Uma das maiores conquistas como técnico foi o primeiro título da Seleção Brasileira conquistado no exterior – o Pan-Americano do Chile, em 1952. Na Copa de 1954, realizada na Suíça, foi o técnico do Brasil. O time era bom, mas não foi capaz de superar a forte seleção da Hungria, nas quartas-de-final. O seu retrospecto como técnico da Seleção em jogos oficiais é o seguinte: 13 jogos, 9 vitórias, 3 empates e 1 derrota, entre os anos de 1952 e 1955. Ainda na seleção, integrou a comissão técnica nas Copas de 1958, 62, 66 e 70. Foi espião do técnico Telê Santana nas Copas de 1982 e 86.
Outros números de sua carreira como treinador: Corinthians – 58 jogos, São Paulo – 57 jogos, Cruzeiro – 131 jogos, Fluminense – 467 jogos. É o técnico que mais vezes dirigiu o Fluminense na história. Zezé Moreira tinha o costume de comandar os treinos de chapéu, mas fora de campo, a elegância era sua marca registrada, usando sempre terno e gravata. Nos anos 90, quando passou a frequentar mais a cidade natal, de vez em quando o encontrava passeando sempre elegante e com uma postura invejável. Zezé era torcedor do Botafogo, pelo qual jogou e iniciou a carreira de técnico, mas sempre teve uma ligação muito forte com o Fluminense, por quem nutria um carinho e admiração.
Era um inovador de funções táticas. Foi ele quem lançou o zagueiro Pinheiro, do Fluminense, como líbero, descobriu Telê Santana e criou a tática do ponta voltando para ajudar a marcar no meio-campo, função que Telê desempenhava muito bem no time Tricolor. Foi um dos poucos técnicos que durante muitos anos imprimiu uma marca pessoal nas equipes que dirigiu. Elas jogavam de maneira diferente, marcavam por zona, com um beque na sobra, e um falso ponta que ajudava na marcação. Sobre Telê, eram amigos íntimos e essa foi a mensagem na coroa enviada por ele no dia da morte de Zezé: “AO MESTRE, COM CARINHO.”
Zezé Moreira quando veio a falecer já era viúvo e deixou um filho, Wilson Moreira, que também se aventurou no mundo da bola, para seguir a tradição da família, nos anos 50 e 60, jogando pelo Vasco, Fluminense e Botafogo. Depois, foi pra Espanha e atuou pelo Bétis. Ao encerrar a carreira, tornou-se advogado e seguiu a sua vida fora dos gramados.
Assim escreveu o jornalista, Teixeira Heizer, na despedida ao amigo: “Engana-se quem pensa que o futebol morreu um pouco com a morte de Zezé Moreira. Onde houver um campo de futebol, dois times e uma bola, ele estará por ali mais vivo do que nunca. Porque Alfredo Moreira Junior – o lendário Zezé Moreira – vai ficar vivo, não como uma simples legenda, mas como parte da própria História do futebol”.
É o tipo de texto que gosto. É pura história, sobre personagens marcantes do futebol que vão sendo esquecidos aos poucos. Muito bom!
“Sobre Telê, eram amigos íntimos e essa foi a mensagem na coroa enviada por ele no dia da morte de Zezé: ´AO MESTRE, COM CARINHO´”. Ser mestre de um mestre não é para qualquer um não!!!
Ademir, realmente o Zezé era um gentleman e era assim que o víamos no banco de reservas. E muito elegante no trajar. No SCCP em meados dos anos 60, montou muito bem o Corinthians que tinha um time inferior ao Santos, Palmeiras e Botafogo. Seu esquema de jogo fazia o time encarar de igual com os times superiores. Ele recuava o ponta direita para ajudar no meio de campo. No caso no Corinthians era Roberto Bataglia. Excelente técnico de futebol
É sempre muito bom conhecer mais sobre esses grandes personagens do futebol! Eu, por exemplo, não sabia que ele era o treinador que mais dirigiu o Fluminense em todos os tempos…
Realmente, ser mestre de alguém como o Telê é para poucos!
Parabéns por ajudar a revelar a história do nosso futebol, Ademir Tadeu! 😉
Os irmãos Moreiras fizeram história no futebol brasileiro. Excelente narrativa.
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Mais um texto digno de registro. Outra grande figura do esporte brasileiro.