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O Flamengo publicou na semana passada seu balanço de 2017. Naturalmente, com os números apresentados e o desempenho esportivo, surgiram várias críticas à gestão baseada em avaliações isoladas de alguns dados, e suportadas por um certo maniqueísmo e pela vontade de ser crítico. Logo surgiram os chavões que já acompanham o clube há algum tempo, como “gasta muito e gasta mal”. Nesta coluna vamos usar alguns dados de 2017 do Flamengo para amparar a tese que mais me incomoda no futebol brasileiro: a falta de estrutura de gestão esportiva.
O Esporte é parte da indústria do Entretenimento, e como tal, tem como característica básica depender de uma soma de talentos para obter sucesso e retorno financeiro. Quando falamos num filme, é necessário a soma de um bom roteiro, um diretor afiado e um elenco que seja capaz de cativar o espectador por cerca de duas horas. No Esporte, em especial no Futebol, esta combinação vem a partir de uma estrutura física bem montada, com o treinador competente e que saiba extrair o melhor de um elenco equilibrado e com talentos. Parece óbvio, em realidade é óbvio, porque é assim mesmo que funciona. Mas a teoria nem sempre se transforma em prática.
Da mesma forma que uma combinação aparentemente vencedora de roteiro, diretor e elenco acaba naufragando nas bilheterias –como, por exemplo, “Os 4 fantásticos”, de 2015, que custou US$ 200 milhões e teve prejuízo de R$ 99 milhões, ou “John Carter”, megaprodução da Disney que custou US$ 450 milhões e teve prejuízo de US$ 200 milhões– nem sempre é possível garantir que as decisões de um clube na hora de contratar um treinador e formar seu elenco serão um sucesso. E os motivos são vários.
Primeiro e mais importante “x” desta equação é saber quem será o responsável pela contratação do treinador e montagem do elenco. Esta figura, como já falei em outros artigos, é a mais importante de um clube e geralmente a função é delegada a um diretor estatutário que não tem a menor noção de estrutura tático-técnica de um equipe. Mais recentemente surgiram os “gestores profissionais”, que são contratadores de atletas aos montes e que, via de regra, acabam montando elencos incompatíveis com o perfil do treinador. E a novidade é a presença de ex-atletas, com perfil parecido com o dos profissionais.
Daí vem o “y” da equação, que é o orçamento. Sendo óbvio novamente, nem todos têm dinheiro para ficar na dúvida entre Guardiola ou Zidane, Mbappè ou Dybala. Logo, e fundamental, é que a restrição orçamentária precisa ser superada por uma avaliação técnica precisa por parte dos gestores esportivos. Mas estes, como citado acima, nem sempre estão aptos a fazer esta avaliação, que deveria ser substanciada por análises técnicas e estatísticas feita por equipe especializada de scout, comum nos grandes clubes europeus, mas que ainda engatinha no Brasil na maioria dos clubes –pelo menos é o que se depreende quando vemos o desempenho de várias contratações consideradas “tiro certo” ou “de ocasião”.
Agora imagine um time grande da Europa, que tem um COO e uma comissão esportiva de qualidade, que tem uma cultura definida e reconhecida, que tem dinheiro. Ou seja, a receita está na mão, os ingredientes na mesa e basta misturá-los. Mas a realidade mostra que o bolo às vezes sai solado. Falamos de futebol, de uma indústria que depende de pessoas, não de uma linha de produção automatizada, que mesmo quando algo dá errado, é possível fazer um recall. A falha do goleiro não tem volta, nem o pênalti perdido. Veja o Manchester United: Top 3 em receitas no mundo há anos. Desde a saída de Alex Ferguson em 2013 passaram 3 treinadores, sendo que os dois últimos foram os badalados Louis Van Gaal e José Mourinho. O último título da Premier League foi em 2012/13, ainda com Ferguson. Na UEFA Champions League foi em 2007/2008. E nos últimos anos foram contratados atletas como Pogba, Lukaku, De Gea, Mata, Fellaini, sem contar os que vieram e já foram. Dá para dizer que o clube não fez a lição de casa, dado sua estrutura e porte? Me parece que não. Dá para dizer que erraram, só pela falta de resultados? Também não.
Agora atravessamos o Atlântico e chegamos ao Rio de Janeiro, Brasil. Vamos para a Gávea, sede do C.R. do Flamengo, clube que frequenta o topo das receitas do futebol brasileiro nos últimos 4 anos, incluindo 2017. Vamos então analisar com algum cuidado os dados financeiros e de desempenho esportivo do clube nos últimos anos. Isto, porque há uma crítica generalizada sobre o fraco desempenho esportivo de um clube que saneou suas finanças ao longo dos últimos 5 anos e que neste período não conquistou nada de relevante em campo.
Primeiro vamos analisar os aspectos financeiros. Um dos grandes equívocos das análises gerais é tratar informações isoladas e tirar conclusões a partir delas. Em finanças há uma necessidade de se criar relações entre números para definir indicadores. Por isso a composição de dados se dá a partir de Ativo, Passivo, Demonstrativo de Resultados e Fluxo de Caixa. Nesse sentido, vamos olhar alguns dados do Flamengo:
Comparando a evolução das principais contas do clube observamos um salto relevante de receitas, gastos e investimentos, ao mesmo tempo em que houve forte redução de dívidas.
Mas vamos usar a lupa. Enquanto as receitas crescem desde 2013, gastos gerais e investimentos crescem efetivamente a partir de 2016. Ou seja, foram 3 anos utilizando o crescimento das receitas para reduzir dívidas e colocar a casa em ordem. Apenas nos 2 últimos anos o clube iniciou um processo de reforço e reformulação do elenco. Até então, gastos estáveis indicam elenco mais modesto, e o flamenguista certamente sabe disso, lembrando as escalações do período.
Vamos agora comparar o crescimento dessas linhas:
Observe que as receitas cresceram 194% no período, enquanto as despesas com remuneração –salários e encargos totais do clube e não apenas do futebol– cresceram 157%. O destaque é que até 2015 as receitas cresceram 60% enquanto a remuneração cresceu apenas 6%. No mesmo período a dívida caiu 27%. Isto significa que o clube está gastando dentro de suas possibilidades e passou a fazê-lo apenas após a situação efetivamente saneada. Isto se confirma analisando a comparação entre receitas e custos totais:
Veja que a remuneração em 2017 equivale ao mesmo de 2013 e inferior a 2012. Isto num elenco claramente mais qualificado que o daquele período. Além disso, observem que entre 2012 e 2017 o nível de remunerações caiu de 40% das receitas para 29%, para depois retornar. Ou seja, apesar do crescimento da receita, não foram investidos recursos na reformulação mais profunda do elenco neste período.
Mudando o rumo e caminhando para o desempenho esportivo, vamos analisar a classificação final do Flamengo nos Campeonatos Brasileiros entre 2008 e 2017, e uma avaliação ponderando esta classificação pela “premiação” embutida nela, que em nosso cenário é a presença na Libertadores do ano seguinte.
Primeiramente, vamos à colocação:
Note que entre 2008 e 2011 o desempenho foi bom, na média. Campeão em 2009, bem colocado em 2008 e 2011, e com desempenho ruim apenas em 2010. Agora, entre 2012 e 2015, período de reorganização financeira do clube, o desempenho médio foi muito ruim, sempre abaixo da 10ª posição e com risco real de rebaixamento. Mas a partir de 2016, junto com o aumento de investimentos e de gastos com remuneração, o desempenho foi substancialmente melhor. Não por acaso, diga-se. Afinal, qualificando melhor o elenco o desempenho melhora.
Passando para a ponderação, vemos abaixo o desempenho:
É claro que o desempenho em 2016 e 2017 é substancialmente melhor que o histórico recente. Isto no principal campeonato do país, depois de pelo menos 4 anos reformulando o elenco.
Agora, vamos lembrar que o último título do clube foi a Copa do Brasil de 2013, e que desde então o clube só voltou às finais de competições relevantes em 2017. Foram 2: Copa do Brasil e Sul-Americana. E sim, o clube foi muito mal na Libertadores, da qual não participava desde 2014.
Um processo de reformulação de elenco não é simples nem rápido, por mais dinheiro que se tenha. Como já falado anteriormente, há alguns aspectos que precisam estar combinados para que haja sucesso. O clube está se reformulando há 2 anos, teve dificuldades com treinadores no período, com atletas, fez escolhas equivocadas e outras não apresentaram o resultado esperado. Muitas vezes se gastou mal, com custo-benefício alto. Mas vamos lembrar de um clube e sua trajetória: Real Madrid.
Entre os anos de 2000 e 2007, vigorou a chamada “Era dos Galácticos”, com a formação de um elenco estrelado, possivelmente o primeiro grande elenco com jeito de seleção do futebol mundial. Foram dois períodos, sendo que no primeiro, entre 2000 e 2007, vieram Figo, Zidane, Ronaldo, Roberto Carlos, Beckham, e no segundo, entre 2007 e hoje, chegaram Cristiano Ronaldo, Kaká, Marceloo, Modric, Kroos, Bale, Benzema, entre outros. Veja os resultados:
A linha azul mostra a evolução acumulada de títulos na Champions League, enquanto a linha vinho são os títulos acumulados em La Liga. Marcado em cinza é a primeira era, e em laranja a segunda.
Pois bem, durante todo o período somado, as duas eras, o clube passou entre 02/03 e 12/13 sem vencer a Champions League, e nesses 10 anos foram 4 Ligas. Convenhamos, bastante pouco para um clube milionário e que gastou muito dinheiro nesse período. O grande salto em termos de Champions League recente se deu justamente a partir de 13/14, com 3 conquistas em 4 anos. Ou seja, houve um enorme tempo de maturação de elenco, correções e ajustes até se transformar na máquina atual.
Significa que será sempre assim? Não. Significa que está correto? Não. Significa apenas que alguns projetos demoram um pouco mais a maturar e que nem sempre as escolhas mais óbvias são as melhores. Estamos falando de futebol.
Logo, a despeito do incômodo e crítica geral da torcida do Flamengo, e da real necessidade em melhorar a gestão esportiva do clube, o Flamengo está no caminho certo. Precisa se ajustar, precisar corrigir rotas, mas quando acertar a mão, tem tudo para se manter no topo.
Imperdível! Muito ilustrativas as comparações com o estágio do Manchester United e do Real Madrid!
Acho que o Flamengo realmente precisa ter uma “forma de pensar futebol” definida, com um treinador como pilar, como o Corinthians vem fazendo. E nisso, realmente o clube deu azar, com a imprevisível saída do Rueda e com a negativa do Renato Gaúcho…
Como se o Rueda fosse uma certeza de resultados positivos, mas não é e veio como aposta, apenas!
Raphael Avilla
E agora aparece essa conversa de que o Flamengo quer o Rodriguinho!!!!!! Esses caras só sabem gastar com jogador de frente, é????????????????
fora presidente lixo vc pagou as contas mais nao ganha nada 8 anos sem títulos nimguem te respeita nem juízes nem jogadores vc e um morto vivo….
Nice