Créditos da imagem: Unisport
Um dos motivos que me levou ao estudo das finanças no futebol foi a quantidade de informações desencontradas e opiniões baseadas em conceitos incompletos ou equivocados. Ainda que não seja rocket science, conhecer de finanças requer um mínimo de estudos e falar sobre um tema tão específico deveria levar as pessoas a estudar o assunto ou consultar um especialista.
O problema de falar sobre o que não se conhece é emitir opiniões baseadas em premissas equivocadas, ou ser extremamente superficial e tratar de rankings. Vivemos uma Ditadura de Rankings no Futebol. É muito fácil compilar algumas informações básicas como Receitas, Superávit/Déficit e Dívida, jogar numa planilha e deixar que ela diga que são os melhores ou piores. Falar em cima de informações simplórias como estas e dizer que faz análise de algo é como preparar um miojo e se intitular chef de cozinha italiana.
Análise financeira é bem mais que isso. Tem origem nos dados contábeis obtidos através de um balanço, mas é a arte de interpretá-los sob a ótica do fluxo de caixa, que no fim do dia é a peça que traduz e concentra tudo numa análise.
Para isso é preciso partir do balanço e do demonstrativo de resultados, destrinchá-lo, realocando suas contas para ter uma visão mais ampla. Nessa hora é que percebemos que nem tudo é receita considerável, nem todos os custos são efetivamente realizados, as dívidas são diferentes, e o superávit é menos importante do que se pensa. Deixe-me falar sobre ele para esclarecer algumas coisas.
Análise de superávit/déficit é superficial, tola até. De maneira simplista, trata-se de pegar as receitas e retirar custos e despesas. Mas ignora uma série de coisas. Alguns exemplos: (i) as Receitas nem sempre são recebidas à vista, especialmente a venda de atletas. Logo, o clube pode ter vendido muito, mas se receber apenas no ano seguinte o impacto no caixa no ano da venda é zero; (ii) dentro dos custos há baixas contábeis referentes a anos anteriores (amortizações), que não tem nenhum efeito no caixa. Ou seja, o volume pode ser grande, mas é apenas ajuste contábil; (iii) nas Despesas Financeiras há valores relevantes de correções monetárias que impactam resultado, mas não significam saída de dinheiro do clube; (iv) não vemos aqui os pagamentos de impostos parcelados; (v) e o mais importante: nenhuma movimentação de investimento é vista aqui. A compra de atletas e seu pagamento parcelado não impactam em superávit ou déficit! Claro que os salários pagos impactam/impactarão, mas o valor desembolsado pela aquisição não. Só se encontra no fluxo de caixa.
Ora, qual a validade de fazer rankings e analisar um clube a partir de dados que não são conclusivos? Nenhuma. Apenas geram conclusões equivocadas.
É comum ouvirmos que “o clube teve superávit, mas onde está o dinheiro?”. Sim, é normal ocorrer, porque o dinheiro foi gasto na aquisição de atletas, no pagamento de compras parceladas e nem todo o dinheiro da receita de vendas do ano corrente entrou no caixa.
Ou seja, o superávit não diz muito sobre a saúde financeira do clube. Mas é fácil calcular, ranquear e debater.
É muito interessante ver a quantidade de tempo dispendida na imprensa sobre o tema. Mas ainda falta muita informação para que os debates sejam mais ricos, e menos emotivos. Lembrando uma propaganda antiga, “consulte sempre um especialista”.
É que a gente quer olhar um gráfico da Folha de São Paulo e achar que dá para entender tudo, kkkkkkkkk
Dá pelo.menos pra gente entender que se tem déficit é porque tá ruim??????
EXCELENTE!
Não estou aqui para rasgar seda gratuitamente, Cesar Grafietti, mas acho importante reconhecer quando estamos diante de um talento. Faltam no futebol brasileiro – em todas as suas ramificações – pessoas do seu gabarito, daí a importância do seu espaço aqui no No Ângulo, para que todos possamos aprender e aplicar o seu conhecimento em nossas análises.