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Houve um tempo em que o placar de 1 a 0 era muito comum. Fruto da evolução do preparo físico, reduzindo espaços e contando com um recurso defensivo que desequilibrava: a possibilidade de o zagueiro pressionado simplesmente recuar a bola para o goleiro segurar. Depois da chatíssima Copa da Itália, tornou-se imperioso fazer alguma coisa. A nova regra, que existe até nossos dias, mudou para muito melhor algo que estava em vias de se tornar insuportável.
Pois bem… Na presente edição do Campeonato Brasileiro, o 1 a 0 voltou a seus “dias de glória”. É o resultado de praxe. A última rodada foi emblemática. Metade das partidas terminou com a contagem mínima, incluindo os jogos dos líderes. Enquanto o rodada-a-rodada indica uma luta pelo título como há tempos não se via (em vez de um time disparar na metade e seguir tranquilo até o fim), o futebol praticado remete a um tempo mais longínquo ainda. Parece um paradoxo, mas o que anima é efeito do que desanima, em malfadado nivelamento por baixo. Se as primeiras rodadas sugeriam progresso técnico e tático, o pós-Rússia vem consagrando a pobreza mais do heroína de novela mexicana. Os dois times que terminaram o primeiro semestre com um futebol vistoso, Flamengo e Grêmio, sofrem com as despedidas e desfalques. Abriram alas, assim, aos esforçados competitivos.
No rubro-negro, em que Lucas Paquetá começava a ter destaque e Diego ressurgia, era a presença de Vinícius Jr que dava equilíbrio ao esquema. Com um jogador veloz, de boa técnica e capacidade de definição (ainda que imaturo) pela esquerda, a marcação adversária tinha que prestar atenção em todos os setores do ataque. Sem o promissor atacante e com Everton no São Paulo, as opções Marlos e Vitinho vêm sendo o que Willian foi para os belgas – uma preocupação a menos. No clube gaúcho, que chegou a ser comparado com o campeão mundial de 1983, foi a transferência antecipada de Arthur que deu ares mais corriqueiros ao time de Renato Gaúcho. Para complicar, dois ícones do ano passado, Luan e Geromel, vêm tendo jornadas melancólicas e até desastrosas. Ambos os clubes ainda podem beliscar um título. Mas terão que transpirar além do outrora imaginado.
A queda dos virtuosos abriu espaço a quem passou 2017 com a série B na cabeça. O Internacional por estar nela. O São Paulo por rumar a ela, não fosse Hernanes. Eis que o Colorado, recém-promovido, e o tricolor paulista, sem seu salvador, dividem a primeira posição com um gol de diferença no saldo. Ambos têm uma vantagem decorrente da própria incompetência no primeiro semestre, já que estão fora de outros torneios. Quem pode complicar a vida dos dois é o Palmeiras, com elenco numeroso e um trunfo: num futebol doméstico que não avança, o professor Felipão é catedrático, ainda mais com novo auxiliar (livrou-se do “mini-me” Murtosa). Nada de realmente novo, porém mui suficiente num futebol que não anda. Vale também para a Libertadores, em que é quase impossível distinguir um jogo de 2018 e um de 1998. Problema com atraso, só contra europeu. Aí complica.
Por isso não me encanto. A suposta magia do Campeonato Brasileiro não passa, neste momento, de um truque que não enganaria os grandes profissionais do ramo – como a dupla Penn & Teller na série “Fool Us” da Netflix. Não é esse tipo de campeonato que atrairia público de fora – salvo brasileiros residindo no exterior. Vibrar com as mudanças na tabela só requer um clique no Google. Pagar para assistir ao conteúdo? “Well, nevermind”…

Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de São Paulo, não resiste a um bom debate sobre esportes, de futebol a curling. São-paulino, é fundador e moderador do Fórum O Mais Querido (FOMQ). Não esperem ufanismos e clichês. Ele torce, mas não distorce.