Créditos da imagem: UOL Esporte
A canetada de Ricardo Teixeira e a história modificada
A noite do último domingo reservou um ambiente bastante controverso nas redes sociais em virtude da quantidade de títulos do Campeonato Brasileiro que o Alviverde acabara de acumular.
O futebol brasileiro sobreviveu por mais de meio século em função das rivalidades estaduais. Imenso como é, nosso país viu o esporte mais querido do planeta ser disseminado regionalmente. Só no final dos anos 50 houve a criação de um primeiro torneio de âmbito nacional, chamado Taça Brasil, que nada mais era do que o embrião da Copa do Brasil, que tinha em sua origem a participação dos campeões de cada estado.
A Taça Brasil era um torneio curto, em que os campeões de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, entravam só na fase final e jogavam no máximo quatro jogos.
Nessa época, os campeonatos estaduais eram os de maior repercussão no País, seguidos pelo Torneio Rio-São Paulo, que, por reunir os principais times das duas maiores praças do futebol brasileiro, concentrava grande interesse.
A CBD, antecessora da CBF, organizava importantes torneios entre seleções estaduais. Uma fórmula que despertava interesse e que começou a mostrar nacionalmente os grandes jogadores espalhados pelo Brasil.
Porém, os torneios interestaduais de seleções foram perdendo o apelo, e logo a Confederação resolveu criar o TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA, ESTE SIM UM EMBRIÃO DO CAMPEONATO BRASILEIRO.
A conquista do Cruzeiro da Taça Brasil de 1966 (de maneira épica, contra o Santos de Pelé!), fez com que a CBD se convencesse de vez que o futebol brasileiro estava muito além da fronteira Rio-São Paulo.
As quatro edições do “Robertão” foram disputadas entre 1967 e 1970, e reuniu em cada edição 17 times, representando 7 estados da Federação (com exceção da primeira edição, que contou com 15 times representando apenas 5 estados).
O sucesso do Robertão foi grande, e os estados que não participavam da festa passaram a pleitear suas participações em um campeonato que pudesse contemplar todo o país.
DIANTE DESTE CENÁRIO, FOI CRIADO, EM 1971, O CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL. O NOSSO CAMPEONATO NACIONAL.
É bem verdade que ao longo de muitos anos, o Campeonato Brasileiro serviu como cabide de interesses políticos, quando fórmulas malucas alteravam o regulamento a cada ano. Também verdade que, até o final dos anos 80, ele ocupava ainda meros 3 ou 4 meses do calendário anual.
Mas o Campeonato Brasileiro tem sua história contada a partir de 1971, algo que está registrado nos arquivos dos principais veículos de comunicação do Brasil.
Em meados dos anos 2000, o então presidente corrupto da CBF Ricardo Teixeira resolveu com uma canetada fazer um agrado a dirigentes e confederações, reconhecendo como campeões brasileiros todos os antigos campeões da Taça Brasil e do Robertão.
Não é preciso desmerecer as grandes equipes brasileiras que conquistaram os títulos da Taça Brasil e do Robertão. Estamos falando do Santos de Pelé, da Academia de Ademir da Guia e Djalma Santos, ou do Botafogo de Didi e Garrincha, ou o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes. Alguns dos maiores times da história do nosso futebol.
Mas o Brasil só foi conhecer o seu primeiro campeonato nacional em 1971, e a esse campeonato só se pode fazer algum paralelo com o Robertão, jamais com a antiga Taça Brasil.
Ricardo Teixeira desrespeitou a história do futebol brasileiro para atender interesses espúrios. E mesmo assim, a mídia repete aos quatro cantos que o Palmeiras se tornou decacampeão do Campeonato Brasileiro. Uma enorme mentira dita sem que ao menos a história seja meramente consultada.
A lista de campeões brasileiros é a seguinte:
Corinthians – 7 títulos (90, 98, 99, 2005, 2011, 2015, 2017);
Palmeiras – 6 títulos (72, 73, 93, 94, 2016, 2018);
São Paulo – 6 títulos (77, 86, 91, 2006, 2007, 2008);
Flamengo – 6 títulos (80, 82, 83, 87, 92, 2009);
Vasco – 4 títulos (74, 89, 97, 2000);
Fluminense – 3 títulos (84, 2010, 2012);
Cruzeiro – 3 títulos (2003, 2013, 2014);
Internacional – 3 títulos (75, 76, 79);
Santos – 2 títulos (2002, 2004);
Grêmio – 2 títulos (81, 96);
COM UM TÍTULO CADA – Atlético – MG (71), Guarani (78), Coritiba (85), Bahia (88), Botafogo (95), Atlético- PR (2001).
O resto é conversa de gente oportunista que não se importa com a história ou que não sabe discernir os contextos de cada época.
Parabéns ao Palmeiras, legítimo hexacampeão brasileiro. Mas a teoria do Deca fica por conta de uma sociedade que a cada dia escolhe em quais mentiras acreditar…
Pelo amor de Deus, o texto não tem fundamento lógico-factual nenhum.
1 – Há um dossiê mostrando com fontes primárias o tratamento da mídia do final dos anos 50 e anos 60 aos campeões da Taça Brasil como “campeões brasileiros”;
2 – Até hoje é comum existir hierarquia de participação de clubes de diferentes praças do futebol conforme a não consolidação do legado futebolístico de algumas delas. Só ver que os times sul-americanos e europeus ainda hoje já entram na semifinal do Mundial de clubes, enquanto os da América do Norte, África, Ásia e Oceania precisam disputar fases preliminares do mesmo campeonato, além das próprias eliminatórias da Copa do Mundo ter a repescagem como uma fase a mais para as seleções da Oceania;
3 – Se houveram mudanças de nomes e fórmulas do campeonato Brasileiro de 1971 para cá, que por sua vez não alteraram a consideração dos mesmos como tal, então as mesmas categorias de mudança nos campeonatos entre 1959 e 1970 também não podem ser usados para não considerar a Taça Brasil e o Robertão como campeonatos brasileiros, pois seria uma falácia de non sequitur;
4 – Não eram campeonatos restritos ou com vantagens descabidas aos clubes do sudeste, uma vez que os campeões de estados de todas as regiões participavam e times como Bahia, Fortaleza e Grêmio foram campeões, vice e terceiro lugar;
5 – O que será que é mais “politico”, reconhecer esses títulos como campeonatos brasileiros, combatendo o revisionismo histórico, ou ignorar a unificação para deixar os dois times com as maiores torcidas do país como os maiores campeões do torneio?
6 – Colocados todos esses fatos, o que define a legitimidade da unificação dos títulos é o propósito dos campeonatos, que tanto entre 1959 e 1970, quanto de 1971 para cá, trata-se de eleger o melhor time brasileiro do ano.
Meu caro amigo, sem ser clubista, pois sou Palmeirense, mas seu comentário é pelo menos umas 25 milhões de vezes melhor que esse texto do cidadão acima, que ainda foi publicado nesse espaço. Um site de alcance nacional e de grande prestígio deveria ter um crivo mais apurado em relação aos textos que serao publicados aqui!