Créditos da imagem: Fabrice Coffrini/AFP
Era só mais uma daquelas acaloradas discussões na casa do meu pai. Dessa vez, a política já tinha sido deixada um pouco de lado, passadas as eleições. O assunto voltava a ser o esporte bretão.
Como sempre, um desavisado acharia que a porrada ia comer no próximo segundo. Mas era só mais uma conversa. A ascendência italiana, que não aparece em nossas feições, é explanada em cada debate lá na morada do patriarca. Quem fala mais alto, ganha. Ou não, mas falar alto é argumento recorrente.
O assunto era o Botafogo e afirmei, reafirmando a fama do clube da Estrela Solitária: “Muito azar do Glorioso. Teve sua melhor fase junto com o Santos do Pelé e acabou não ganhando muita coisa”. No que meu pai completou, sem precisar gritar: “Claro. Se o Botafogo fizesse três, o Santos fazia quatro. Um tinha Pelé, o outro não”.
Não sei se teve algum Santos quatro, Botafogo três, mas essa frase pareceu resumir a discussão. “Também não era assim”, ponderei, lembrando de cabeça os feitos de Cruzeiro e Bahia. Mas logo me dei conta. “São aplaudidos até hoje exatamente por serem considerados façanhas. Façanhas de quem não tinha Pelé sobre o time que possuía o talento do Rei”.
Meu pai não tem idade para ter acompanhado toda a carreira do Rei desde o início, de perto. Até pela distância e pela pouca tecnologia. Mas viveu, mesmo jovem, no radinho e nos jornais, aqueles momentos e decidiu: eles tinham Pelé, os outros não.
Essa frase se fixou na minha cabeça. Definitiva.
Tão definitiva quanto a certeza de que Lionel Messi é o Pelé deste século, desta geração. É o Pelé depois de Pelé. É o Pelé branco, o Pelé argentino.
Falta uma, duas, três Copas e pode ficar faltando. A verdade é que o grande torneio do planeta já não é tão grande quanto era na época. Hoje, a Champions League divide as atenções e o patamar da Copa. E essa taça o Messi tem de sobra.
Não nutro uma adoração pelo craque do Barça, como era a minha por Romário na infância.
Aliás, o argentino sofre desse mal também em seu país. Quase apátrida, La Pulga não desperta 10% do sentimento que outro baixinho provoca até hoje entre os hermanos. Messi não é o personagem que Maradona é. Não representa um país inteiro, como Maradona fez e ainda faz. Não deu uma Copa do Mundo para a Argentina, pelo menos ainda não.
Não vou me ater a dizer se Messi é melhor que Maradona ou Pelé, não vi jogar nenhum dos dois. Isso é bobagem. Cada igreja que reze pro seu santo, e no futebol, o meu ainda é Romário.
Mas o fato é que Messi me desperta a mesma sensação que Pelé causava em meu pai. Quando meu filho me perguntar sobre o argentino e sua coleção de títulos individuais e com o Barcelona, o resumo é simples: “Um time tinha Messi, o outro não”.
E isso, por si só, é um grande prazer.
Muito bom, Caio! Mas eu sinceramente não consigo fazer qualquer comparação com o Pelé, mesmo achando que o Messi deve mesmo ser o segundo maior da história.
Como exemplo disso, só o fato de ter gente que prefere o Cristiano Ronaldo já deixa clara a diferença. Com o Pelé não existia “rivalidade”, ele era absoluto 😉
Joga de mais
Melhor do mundo sempre
Excelente texto!!!!
[…] o acho nem mesmo “o Pelé da minha geração”, como muita gente disse esses tempos, entre eles o colega … O termo “Pelé” sempre foi usado para definir aquele que está absolutamente acima dos […]