Créditos da imagem: TVE Brasil
Durante transmissões esportivas nos anos 1970, tão logo a bola estufava as redes a voz forte do narrador, o maior de todos os tempos, Luiz Noriega, destacava: “Esporte é Cultura”.
Muito mais que um mero bordão da equipe de esportes da TV Cultura do qual fora criador e condutor, a mensagem inserida pautou a consciência coletiva de tantos admiradores do esporte bretão.
Não apenas por conta da minha memória afetiva, mas principalmente devido aos muitos que afirmaram ser os defensores da pátria durante os tempos de regime militar, o esporte, principalmente o futebol, foi alojado na categoria de droga, certo ópio do povo. O motivo deste entendimento muito se deveu ao seu uso como maneira de suavizar as relações entre a ditadura instaurada e a população de uma forma geral.
Como se isto acontecesse apenas durante aquele período. Sabemos que mesmo antes de Cristo, o esporte sempre foi utilizado com este fim. Mas justiça seja feita, não apenas este. Em nosso país, coube ao tempo comprovar isso. Muitos daqueles que contribuíram para definir o esporte como distração para o povo, não emitiram a mesma grita quando um presidente eleito democraticamente promoveu a realização de edições de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos em nosso país, proporcionando os maiores gastos já feitos pela humanidade em prol da organização de atividades esportivas. Tendo como legado uma quantidade quase inesgotável de construções que, em sua maioria, permanecem sem uso e se deterioram a cada dia. Um crime ainda maior se considerarmos o fato de vivermos em um país com tanta miséria.
Ainda assim, creio piamente que acusar o esporte por muitas das mazelas que vivemos ao longo dos tempos seja criminoso.
Discurso fácil entre boa parte dos ditos homens públicos, costuma ser destacado outro mantra que diz “ser o esporte um importante meio para formação de cidadãos”. Sabemos, no entanto, que a verdade nela incluída, poucas vezes se faz presente. Em sua maioria, os políticos resumem a utilizá-lo como mero bordão para justificar, diante dos órgãos que controlam suas próprias contas, o gasto de verbas milionárias em iniciativas esportivas geridas por entes e amigos próximos, cujos objetivos, quando não se resumem a apenas acariciar seus caprichos, permeiam-se aos interesses de gerar lucros privados.
A população em geral, sem acesso às benesses proporcionadas, invariavelmente é presenteada com esmolas que estão longe de agir como fontes geradoras das riquezas que o esporte pode realmente proporcionar. Muito por conta disso, nós, pessoas comuns, costumamos vê-lo apenas como um meio para descarregar as angústias vivenciadas em nosso dia a dia tão apurado. Muitos fazemos nossas análises durante um grito de gol, comemorado ou sofrido. Assim é que se vive.
Os registros dos fatos e acontecimentos vividos ao longo de tantas experiências que a vida nos proporciona terão pouca valia se não embasarem nossas decisões futuras. A partir do momento em que os utilizamos na construção de uma nova realidade, estamos falando de aprendizado. Mais do que isso: lições aprendidas. O mero registro não é lição, mas sua existência é um grande facilitador. Apenas ao aprendermos, podemos falar em crescimento.
Convencionalmente, qualquer processo de aprendizagem se utiliza de métodos educativos consagrados. Isto explica, por exemplo, que a alfabetização de crianças, e até mesmo de adultos, seja algo tão básico. Estamos falando de humanos. E para aqueles que não os são?
Dono de uma sapiência sertaneja, Seo Demétrio, uma espécie de ‘faz tudo’ no sítio de meu avô Felipe, costumava ser duro com os animais que cuidava: “Se um animal ‘teimava’ em obedecer minhas ordens, às vezes ‘deixava ele sem cumê’. Só de lembrar da fome que isto causava, no dia seguinte, ‘tava todo mansim’”, confidenciava sobre o assunto.
Diante disso, tendo também como guia o mantra de Luiz Noriega, o River Plate deve ser punido severamente pelas atitudes de sua torcida nos momentos que anteciparam a realização da segunda partida da partida final da Taça Libertadores da América contra o Boca Juniors, inclusive com a eliminação de futuras participações em competições promovidas pela entidade organizadora, a Conmebol.
Assim como deveriam ter sido todas as equipes cujas torcidas proporcionaram situações similares. Esta decisão viria ao encontro do que os próprios argentinos defenderam após sofrerem, juntamente com policiais e atletas alvinegros, violência da torcida do Corinthians após a equipe paulista ser eliminada em partida válida pelas oitavas de final da Taça Libertadores em 4 de maio de 2006. Naquela oportunidade, alguns muitos raivosos torcedores alvinegros, inconformados pela derrota, por 3 a 1, em pleno estádio do Pacaembu, decidiram invadir o gramado.
A tragédia só não foi maior por conta de poucos policiais, heróis, que milagrosamente conseguiram conter a zanga apedeuta dos ditos ‘torcedores’. Em tempo, cabe lembrar que o Corinthians foi punido de forma cândida. Como tantos outros e como, infelizmente, deveria ser o caso do River Plate neste episódio.
Os maiores algozes do futebol são os seus próprios atores. Para o seu próprio bem, que não seja mais realizada partida alguma por esta competição.
José Renato, como sempre você faz um preâmbulo interessante para dar sua opinião sobre o assunto. Gostaria de lembrar, no entanto, que o esporte já foi usado para parar guerras. Não estou me referindo apenas à trégua que países africanos fizeram para assistir a uma partida com o Rei Pelé. Refiro-me às olimpíadas da Antiguidade, em que guerras eram paradas para que os soldados pudessem participar do evento.
Que o esporte continue sendo um fenômeno de paz e não de guerra entre torcidas.