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Há algumas semanas, parece que todos os programas esportivos não falam de outra coisa, mas, afinal, o que é a Primeira Liga, e qual o motivo de tanta confusão?
A Primeira Liga nada mais é do que uma competicão interclubes independente, de caráter amistoso, organizada por alguns dos principais clubes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina – América-MG, Atlético-MG, Atlético-PR, Avaí, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Figueirense, Flamengo e Fluminense.
Todos estes clubes resolveram se organizar para fazer um campeonato sem intervenções de quaisquer federações, nem CBF, nem Clube dos 13. Foi decidido que o campeonato ocorreria no início do ano de forma paralela a todas as outras competições que estavam previstas no calendário oficial, estaduais e Libertadores.
Calendário montado, locais decididos, tudo de certa forma pronto, e a CBF falou, em um primeiro momento, que não deixaria. A FERJ, sob a asa da CBF, falou que não aceitaria, chamou os presidentes de Flamengo e Fluminense de milicianos, e informou que não pagaria as cotas de televisão, e sim repassaria aos outros clubes que não estão participando da Primeira Liga.
Que coisa, não? Como que os clubes passam assim por cima de suas federações? Pode isso?
Pode, desde que não interfira nas outras competições previstas, pode, está previsto em lei. *
Então por que raios a CBF e suas filiadas estão causando tanta confusão?
Bom amigos, acredito que a resposta dessa todos saibam, mas, vale ressaltar, única e exclusivamente por causa de dinheiro.
A CBF sabe que a Liga nada mais é que um experimento, de menor porte, que se bem sucedido, pode vir futuramente a substituir o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil, os estaduais etc. E quanto de dinheiro a CBF receberá de participação sobre os rendimentos da Primeira Liga? Zero. Direitos de transmissão, patrocínio, renda de publico, tudo isso vai para quem organiza a Liga, ou seja, os clubes. E é exatamente isso que a CBF não quer, a Primeira Liga não pode dar certo de jeito nenhum, e o melhor jeito de evitar isso, é evitar que ela aconteça.
A CBF recebe muitos recursos do governo através de patrocínios (Caixa e Banco do Brasil) e isenção de impostos, mas apesar disso, é uma instituição puramente privada. Tem CNPJ, e não presta contas a população, como fez questão de enfatizar Ricardo Teixeira nessa entrevista à Piauí que marcou o momento em que eu deixei de torcer para a Seleção Brasileira. Aquela declaração calorosa: “Que porra as pessoas têm a ver com as contas da CBF? Que porra elas têm a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade pri-va-da. Não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?”**
Então, como uma instituição pri-va-da, a CBF é a empresa gestora da Seleção Brasileira de futebol feminina e masculina, e a empresa que organiza os campeonatos Brasileiro, Copa do Brasil, e os Estaduais, através das federações regionais. Sim, a CBF é só isso. Uma empresa prestadora de serviços, que agora quer proibir seus clientes de organizarem um campeonato entre eles. É como se você há anos utilizasse o serviço da mesma empresa para administrar os seus imóveis, e agora você resolveu administrá-los sozinho, e a empresa que te prestava o serviço quer te proibir disso. O quão louco é isso?
A verdade é que a CBF se acha dona do futebol no Brasil, é uma ditadura, que já se perpetua nestes modos há 37 anos.
A Primeira Liga é linda! Ela pode significar tanta coisa! Pode mudar todo o cenário do nosso futebol. As dívidas dos clubes podem diminuir muito, a infra estrutura deve melhorar bem, o calendário pode ser mais justo, a forma como são tratadas as organizadas muda. Enfim, o sonho é palpável, e quem é a CBF pra impedir isso?
Ontem, saiu na imprensa que a entidade autorizou a realização da Primeira Liga em 2016. A nova resolução, publicada no site da Confederação Brasileira de Futebol, permite a realização de todos os jogos da Liga, em caráter amistoso. A Federação de Futebol do Rio (FERJ) confirmou a autorização para a participação dos seus filiados, Flamengo e Fluminense, na competição, em outra resolução em seu site. A autorização acontece dias depois de a CBF ter publicado outra resolução determinando que só permitiria a realização de amistosos até o dia 30 de janeiro.
Sentiram a pressão?
CBF querida, você não é ninguém sem o clubes, já os clubes, são muito sem você.
Há luz no fim do túnel.
Vai ter Primeira Liga, sim!
* As condições esportivas para a constituição das ligas estão previstas nos artigos 16 e 20 da Lei Pelé, que asseguram aos clubes ampla e irrestrita autonomia para organizarem uma liga. Não há na lei nenhuma obrigação aos clubes de solicitar prévia aprovação de federações ou da confederação para a constituição de uma liga. A única obrigação prevista é a necessidade de comunicação de sua existência. Além disto, a Lei Pelé assegura às ligas independentes a ausência do risco de sofrer intervenção das entidades federativas. (Eduardo Carlezzo, diretor jurídico da Primeira Liga)
**http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/o-presidente/
Leia também “Copa ‘Rio Sul Minas’: modelo é a chance dos estaduais sobreviverem”
Bom demais o texto, Bruna Hortsmann! E assino embaixo!
Só lamento pelo futebol paulista ter sido omisso neste momento tão importante. Felizmente os outros grandes estão sendo corajosos pra nos liberar dessas instituições hierárquicas. E que não tenha mais volta, que este momento de fragilidade total delas seja aproveitado para que caiam podres de vez.
A omissao dos clubes de SP, tem muito a ver com a quantidade de dinheiro que recebem do governo, o Corinthians e a Arena é o melhor exemplo.
[…] Leia também “Nós precisamos da Primeira Liga” […]
Isso mesmo, PELO PODER NAS MÃOS DOS CLUBES!!!
Muito bom o artigo, e revela que os torcedores(as) estão muito atentos ao que acontece dentro e fora dos campos. E também muito críticos.
Excelente! 😉
Excelente artigo. Agora quando se falar de Ligas há de se considerar as particularidades do país e, obviamente o comportamento narcisista dos dirigentes. Diferentemente da Europa, existem centenas de clubes no país que não podem ser esquecidas. Infelizmente, o futebol brasileiro requer um órgão regulador / mediador para tratar dessas questões. Talvez, essa é minha opinião, o melhor caminho seja a reorganização das Federações e consequentemente da CBF de forma a permitir uma administração mais democrática e profissional nessas entidades.
Não nos esqueçamos : são os clubes que elegem deus dirigentes nas Federações e consequentemente na CBF. Criaram o monstro e até agora, não aprenderam a lidar com ele.
Parabéns! !! Excelente artigo!
Bruna Horstmammm, eu vou mais além das suas posições, as quais considero ter todo o sentido, nos dias atuais. As Federações estaduais tem sim seu primor de necessidade social..Já que possuem incentivos governamentais, verbas, etc…e tal,… deveriam, sim, incentivar a prática esportiva com motivos mais chegados ao social, ao amadorismo, aos adolescentes, tirando jóvens da ruas e longe das drogas, e deixar o lado mais profissional por conta de quem sabe gerir o futebol profissional, efetivamente. Hoje, deixamos de ser o país do futebol, pq continuamos no amadorismo barato, ou porque nossos clubes se deixam tomar pela politicagem barata, deixando em seus quadros, pessoas que só querem utilizar as instituições, exclusivamente para fins de seus próprios interesses. Falei…
É isso! Fora CBF!