Créditos da imagem: Patrik Stollarz/AFP
Em algum momento as coisas mudaram. Assistindo os jogos da recém encerrada Copa América, comecei a perceber que o futebol e seus rituais mudaram, pelo menos no meu imaginário. Há algo de fake e ansioso nos atuais jogadores e em seus ritos. Parece que, aos poucos, o jogo e a graça de um passe de Falcão, o “Rei de Roma”, ou gritos como “Rei, Rei, Rei, Reinaldo é nosso rei”, foram abolidos por novos rituais e comportamentos erráticos, dentro e fora de campo.
Ouso fazer elucubrações sobre a estética do futebol atual, dominado por tatuagens e Ferraris entre seus principais protagonistas, estes que repetem um ritual sinistro: o esforço familiar até ser descoberto, seguido do atual modelo dos clubes em fabricar talentos cada vez mais jovens, seguido de contratos milionários (de preferência com um clube europeu), a consagração, os carrões, as festas e o inevitável declínio.
São generalidades, eu sei, mas não vou falar nas exceções. Penso no jogo e na beleza de um Batistuta, guerreiro argentino com a gola da camiseta levantada na nuca e do quanto havia de empenho e talento e, principalmente, comprometimento. Nos últimos anos, os calções ficaram mais compridos, ao contrário dos cabelos hirsutos e das sobrancelhas depiladas à la Cristiano Ronaldo.
Mas há um clichê desesperançoso – ao menos para mim – no atual modelo estético/financeiro do futebol. Onde e quando perdemos a graça? Quem são estes jogadores desconhecidos da Seleção Brasileira, sem carisma ou amor incondicional ao seu talento? Todos tão iguais, com fantasias de enriquecimento e vaidade tatuadas pelo corpo. Serão os novos tempos de cada um por si?
Ainda vislumbro a garra em algumas seleções latinas, herdeiras do nosso futebol valente e indomável. Mas repito, como e onde perdemos a graça do futebol que encantou o mundo?
Talvez a culpa não seja do Dunga ou de outros treinadores tão ineficientes quanto ele. Penso que nosso futebol é a cara da CBF e de seus dirigentes: mesquinho, fraco e sem brilho. Um arremedo do que já foi grande.
Se tem um setor que precisa ser renovado, refrigerado e esfoliado é o do futebol. Saudade do Batistuta tão belo e cheio de si e de um futebol guerreiro que deixamos pelo caminho em troca de Ferraris e pedaladas no Imposto de Renda.
Mas como falar em renovação com a CBF de Marco Polo Del Nero, Gilmar Rinaldi e Dunga? A Confederação Brasileira de Futebol sempre foi cartorial. Como explicar que apenas três pessoas (quatro agora, com a prisão do capo na Suíça) tenham sangrado a entidade, sob o beneplácito de mídia, sequiosa e subserviente aos cartolas e jovens craques milionários e tenham mandado e desmandado na CBF nas últimas cinco décadas? Sem falar que o capo supremo João Havelange deixou o cargo para o genro, numa acomodação de interesses vergonhosa.
O que se viu até o estouro do escândalo semanas atrás foi um festival de arrogância e coronelismo da CBF e compadres da FIFA com velhos dirigentes imitando os boleiros e distribuindo fanfarrices e fotos de um exibicionismo atroz, como se isso fosse um padrão inquestionável. O abalo ainda continua ou como explicar a ausência do Del Nero na Copa América, aqui ao lado, no Chile?
Onde estavam nossos cronistas esportivos e a mídia que sempre conviveu de migalhas para acompanhar esse mundo milionário e colocar a sujeira para baixo do tapete, sem denunciar essas falcatruas? Exceto algumas honrosas exceções, acho que a mídia corporativista do esporte brasileiro tem que fazer um mea-culpa e tentar sair desse processo menos burra e parcial e mais consciente do seu fundamental papel.
Quando a nike começou a lançar as chuteiras que vocês já sabem né
Quando o “fora de campo” passou a importar mais que o “dentro de campo”. Mas a chama continua acesa! 😉
Wilson Godoi Carlos Matsubara Rodrigo Dutra da Silva Maria Carmen Romero
Texto bom demais da conta, Lena Annes! Abraço apertado!
Vindo de ti Dra é um baita elogio.abcs
Imagina . . . não se esqueça que somos filhas da FAMECOS também! Beijos!
Não sabia que escrevia sobre futebol também! Muito bom, tem muito fundamento o que escrevestes!
De tanto ouvir e ver a gente acaba gostando, mas só de libertadores para cima Carlos.
O charmoso gauchão não? Kkkk
Sem chances Carlos….
Idem
muito bom