Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Já há algum tempo o Brasileirão é conhecido como um campeonato no qual reinam os quase-aposentados. Jogadores que já passaram de seus auges, muitos com a carreira estabelecida entre Europa e Seleção, que chegam aqui e brilham de maneira soberana, quase sem concorrência dos mais jovens. Os exemplos são muitos ao longo dessas últimas temporadas, desde Ronaldo Fenômeno até Zé Roberto, passando por outros como Kaká e Robinho.
Neste ano, eles também deram as caras. Afinal, Ricardo Oliveira é artilheiro do campeonato, Zé Roberto e Emerson Sheik são importantes em seus clubes, e Nenê é o grande destaque da reação do Vasco.
Mas nesta temporada, há um detalhe relevante: eles não são mais absolutos no pedaço. Na verdade, eles agora são até mais raros. E há dois fatores que explicam: o primeiro é o cronológico. Como já debati algumas vezes, estamos numa entressafra. A última grande leva de jogadores já está à beira da aposentadoria, e veem em países emergentes a chance de ganhar seus últimos milhões como atleta. É o caso de Kaká e Robinho. Outros, como Ronaldinho e Adriano, levam vida de aposentados, abdicando de alguma maneira de suas carreiras. Na teoria antiga, os quatro estariam destruindo aqui no Brasileirão.
Do outro lado, os que estão na casa dos 30 e atuam na Europa não chegam a ser “sonho de consumo” de nenhum grande clube, como eram os das gerações anteriores. Repatriar Felipe Melo, Ramires, Fernandinho, Diego e companhia não chega a ser um sonho, até por conta da qualidade desses jogadores ser claramente inferior aos da geração anterior, fato que é comprovado no próprio desempenho da Seleção.
Mas o outro fator é provavelmente o mais preponderante: o financeiro. Há alguns anos, o Brasil vivia um boom econômico que empolgou o futebol. As grandes transações aconteceram sem regras e trazer jogador da Europa era mais fácil. Só que o jogo virou, o país entrou num cenário econômico desfavorável, que atingiu os clubes de futebol, mais endividados ainda do que de costume. A opção, então, foi pela cautela. As transações do mercado da bola no Brasil são bem menos valiosas do que há cinco ou seis anos. Isso faz com que atletas como Kaká e Robinho optem por ganhar seus dólares em campos obscuros, e os citados Felipe Melo e Diego, por exemplo, não sejam opções com o custo-benefício favorável, ainda que seja inegável que estes seriam facilmente titulares em 20 dos 20 clubes da Série A.
A aposta em veteranos trazia a reboque a complexa e mal feita mescla com jovens valores. O futebol brasileiro era, então, um misto de “muito velhos” e “novos demais”. Mas com a diminuição do destaque dos veteranos, abriu-se para os mais jovens. Garotos como Gabriel Jesus, Jemerson e Gabigol, por exemplo, têm a chance de brilhar no futebol local antes de serem vendidos para Europa.
E aí, verificamos outra mudança: há algum tempo, eles não estariam mais em campos tupiniquins. Após o caso de Neymar no Santos, os clubes tentam (e conseguem quase sempre) segurar seus valores por mais tempo, mesmo com o pires na mão. Sabem que o ganho técnico pode ser imenso, e o ganho financeiro maior daqui a algumas temporadas.
Então, a fórmula “veteranos + muito jovens” ganhou peso do outro lado da balança, o que em tese favoreceu a qualidade do espetáculo. Além disso, alguns frutos do boom financeiro são sentidos, e atletas mais maduros que já estariam fora do país, hoje brilham em campo nacional, como Pato, Lucas Lima, Renato Augusto, Rafael Carioca – e até Elias e Jadson, que, na tese antiga, estariam voltando ao Brasil agora).
A conclusão que se chega é: o Brasileirão melhorou tecnicamente. É claro que ainda estamos longe, bem longe, do que fomos. E muito distantes dos centros europeus, onde se pratica o futebol de verdade. Entretanto, se passageiro ou não, entendo que o nível apresentado aqui no Brasil mostrou uma leve melhora técnica, noves fora a ainda atrasada parte tática.
Torcemos para que não seja um fato isolado, e que seja acompanhado por um crescimento estrutural de verdade, base para manter os nosso valores aqui, sejam eles velhos ou novos.
Bem interessante o ponte de vista, Caio! E concordo! E além do nível técnico, acho que avançamos principalmente em bola correndo (apoio 100% a “tolerância zero da arbitragem) e no trabalho dos técnicos, que estão priorizando toque de bola e jogando bom menos brucutus 😉
É um ponto de vista bacana também, sobre a arbitragem. Há de se ressaltar.