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Neste 16 de dezembro comemoram-se dez anos de uma das maiores conquistas de um clube brasileiro: o Mundial de Clubes de 2012 pelo Corinthians, no Japão.
O título foi épico não apenas pela invasão da Fiel Torcida (na qual eu estive presente e pude falar sobre no final deste artigo), simplesmente sem precedentes ou paralelos, com seguramente mais de 30 mil torcedores na final; mas também pela dificuldade esportiva. Se por um lado já houve equipes brasileiras muito mais poderosas e que eram, de fato, as melhores equipes do mundo, este Corinthians conseguiu um grande feito: vencer o Mundial desde que o Velho Continente se tornou “a NBA do futebol”, centralizando todos os principais talentos do mundo, sem qualquer limite. Tanto que, depois disso, mais nenhum europeu foi derrotado.
Ou seja, foi uma apoteose, uma coroação perfeita para o torcedor corintiano que tanto penava pela “falta de passaporte”, compreensivelmente esfregada na cara dos fiéis mesmo após a conquista do primeiro Mundial da FIFA, em 2000.
Mas os tempos mudaram. O clube que naquele momento parecia pavimentar caminho para se tornar protagonista destacado no Brasil, e que muitos temiam que pudesse ser agente de uma “espanholização do futebol brasileiro”, agora assiste impotente à partilha entre Palmeiras (o maior rival) e Flamengo (o maior rival estratégico) de praticamente todas as conquistas importantes.
No meio de 2013, quando era campeão mundial, o Corinthians tinha apenas a 11ª dívida do futebol brasileiro, de R$ 177,1 milhões , enquanto a do Palmeiras era a 6ª, de R$ 287,2 milhões , e a do Flamengo era a maior de todas, de R$ 741 milhões. Nesses 10 anos, a do Corinthians saltou para a segunda posição, beirando R$ 1 bilhão e em crescimento, enquanto Flamengo e Palmeiras devem cerca de R$ 450 milhões. Ou seja, os dois rivais empilham taças justamente por causa de seu sucesso administrativo e fiscal, servindo de lição a todos que queiram aprender.
Ainda com esse evidente fiasco, o mesmo grupo político continua presidindo o Corinthians ininterruptamente, e se habituou a tentar atalhos no futebol: sempre que possível, repatria ídolos do passado. O novo “presente” foi o paraguaio Romero, que serve para estampar as perspectivas nada animadoras que o clube do Parque São Jorge vem indicando para a próxima temporada.
Constantemente humilhados pelo Flamengo dentro e fora de campo nos últimos anos – incluindo a saída de Guerrero, autor do gol contra o Chelsea -, os alvinegros receberam mais um duro golpe com a ida de seu ex-treinador Vítor Pereira para o rival carioca, depois de fazer juras de amor e inventar desculpas para não seguir em Itaquera. Os torcedores podem ficar revoltados com o português o quanto quiserem, mas esta ida para a Gávea não diz apenas sobre ele, mas também sobre o Corinthians: qualquer pessoa sabe que hoje em dia o Rubro-Negro é muito mais atrativo do que o Timão. Quem tornou ficar no Corinthians uma espécie de “sacrifício” em relação a ir para o Mais Querido foram os cartolas corintianos, não o luso.
Enquanto o futebol corintiano se torna cada vez mais provinciano, com eterna preferência por “profissionais que conhecem o ambiente do clube”, a própria Fiel Torcida também precisa refletir sobre sua atuação. Hoje pega no pé de Fagner, ídolo histórico do clube, como há 1 ano perseguia Cássio, atualmente reconhecido como merece. Enquanto cultua tipos como Neto, que colaboram para a “toxicidade” de parte da torcida, que protagonizou o vergonhoso caso das ameaças a Willian, neste ano chegou a bancar Roger Guedes no auge do conflito com o treinador, justamente quando o atacante se mostrava sem nenhuma disposição para voltar e recompor a marcação com o apetite que seus companheiros faziam. Corintiano não diz gostar de raça? Como é que apoia o jogador com essa atitude?
Como a torcida organizada que se diz “em prol do Corinthians” pode ser capaz de acender sinalizadores nos momentos mais impróprios para o clube, chegando ao absurdo de, na finalíssima da Copa do Brasil contra o Flamengo, no Maracanã, parar a partida por alguns minutos justo quando seu time empatou a partida e os cariocas pareciam atônitos? Seguramente todo flamenguista agradeceu aos “fanáticos corintianos” que quebraram o ritmo do que poderia, quem sabe, ser a virada alvinegra. E esse foi apenas o exemplo mais absurdo, porque vem acontecendo em muitos outros casos, como contra o Avaí na Ressacada.
O potencial do Corinthians não permitiria que precisasse de binóculo para assistir qualquer outro clube brasileiro. É necessária uma autocrítica geral para relembrar que foi justamente a criação de uma nova receita, com novas cabeças, que levou o clube àquele período de glórias no qual era modelo para o Brasil. Confiar que o real gigantismo do clube tem tudo para conduzir novamente a momentos grandiosos como o documentado abaixo, pelo jornalista Felipe Zamboni, sem seguir escravizado pelo passado, como se dele fosse dependente: