Créditos da imagem: Fredy Builes/Reuters
Existem vários aspectos a serem analisados na proposta de mudança da forma de disputa da Libertadores, anunciada pela Conmebol. O torneio aumentará de 38 para 42 times e será disputado em 42 semanas, de fevereiro a novembro. Além disso, poderá ter uma final de jogo único em estádio pré-definido. Isso tudo já a partir de 2017.
A ideia de sair da mesmice é interessante, mas é preciso analisar alguns pontos que terão de ser tratados, sob o risco de se perder uma boa oportunidade de organizar melhor o futebol sul-americano. Se forem realmente efetivadas nos moldes anunciados, as mudanças esbarrarão, especialmente no caso do futebol brasileiro, em alguns obstáculos, como:
Calendário anual
O ano tem 52 semanas. Quatro delas têm que ser destinadas às férias dos jogadores. Sobram 48. Jogando-se duas vezes por semana ao longo de todo o ano, cabem 96 jogos para cada time –sem levar em conta a necessidade de pré-temporada. O Campeonato Brasileiro usa 38 datas. Se o time chegar à final da Libertadores, disputaria hoje 14 jogos, mas isso pode mudar por causa do aumento de clubes e de alterações na disputa. Para falar dos regionais, podemos pegar como exemplo o Paulista deste ano, que usou 14 semanas. Sem esquecer a Copa do Brasil, que prevê sete fases com 21 datas em 2017. E ainda temos a Sul-Americana e a final do Mundial em Tóquio, caso um clube brasileiro se qualifique. Acrescente aí que as Eliminatórias da Copa estarão a pleno vapor, desfalcando times e provocando interrupções nas tabelas.
Jogar duas vezes por semana durante quase todo o ano é sobre-humano. E, no calendário previsível, se nada for feito, os times com mais sucesso serão cada vez mais massacrados. Será obrigatório se pensar em mudar os regionais e a própria Copa do Brasil.
Janela de transferência
Atualmente, no Brasil, o ano é dividido em dois. No primeiro semestre, o que vale é a Libertadores e os regionais. Ainda que em maio comece o Brasileiro. Mas é muito difícil que um time de qualidade consiga manter a mesma formação depois da janela de transferências da Europa, no meio do ano. Por isso, os mais importantes clubes brasileiros começam a temporada com uma escalação e terminam com outra, às vezes quase que totalmente diferentes.
Se isso ocorrer no meio da Libertadores, a fase final será sempre uma surpresa. Ninguém saberá com quais jogadores Boca, River, Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Nacional etc contarão nas fases decisivas do campeonato.
É inevitável, portanto, discutir o calendário nacional. A temporada no Brasil vai de janeiro a dezembro. Na Europa, onde estão os maiores compradores de nossos craques, vai de agosto a junho/julho. A única forma de garantir o mínimo de manutenção do trabalho técnico é alinhar nosso calendário ao Europeu. Assim, os clubes perderiam os jogadores no final da temporada (meio do ano) e iniciariam a seguinte, em agosto, sabendo com quem poderiam contar até julho.
Final em jogo único em estádio pré-definido
Essa é uma prática discutível da Europa. Reduz o efeito da consistência dos times e abre espaço para o acaso. O Chelsea venceu o Bayern de Munique na final de 2012 em jogo heroico. Mas será que os bravos ingleses conseguiriam superar o excelente time alemão se houvesse dois jogos, um em cada campo dos finalistas?
Um time brasileiro poderá fazer a melhor campanha da Libertadores e correr o risco de pegar o Boca na Bombonera, se este campo já estiver escolhido de antemão. Mesmo que o time argentino tenha chegado à final aos trancos e barrancos, passa a ser o favorito, independente do histórico do torneio. O mesmo raciocínio pode ser feito para o Corinthians em Itaquera, Flamengo no Maracanã, Cerro em Assunção, Nacional em Montevidéu etc.
Pode parecer arrogante um brasileiro falar disso depois da Copa de 2014, mas quantas cidades sul-americanas possuem estádios em condições de receber uma final continental? A não ser que a Conmebol esteja prevendo bancar reformas necessárias nos locais escolhidos como sede da decisão.
Altitude
Será estabelecido limite máximo de altitude para a escolha do estádio da final? A Europa não tem esse problema como nós, sul-americanos. Será justo levar final de times de países com baixa altitude para La Paz, por exemplo? Quito? E seria justo não dar a chance de bolivianos ou peruanos jogarem em casa se conseguirem a classificação?
As intenções da Conmebol parecem ser boas. Mas será necessário muito cuidado na implantação das mudanças. E observar, também, um aspecto mais urgente e que merece há muitas décadas especial atenção: a arbitragem. Será frustrante ver a Libertadores com tantas boas intenções na organização, mas ainda com tanta suspeita na ação dos juízes.
Que excelente observação sobre a altitude, Emerson Figueiredo, isso não tinha me ocorrido e nem vi ninguém pensar nisso!
Qualquer decisão é injusta: tanto obrigar atletas não habituados à altitude a jogar nas alturas, quanto condenar as populações de lá a nunca verem uma final da Libertadores.
Realmente é bem complicado!
Realmente tem que ganhar uma dessa ai pra disputa mundial né
Luiz Castro , nem tinha me ocorrido essa questão da altitude em uma final em jogo único! Já pensou?
Fala, Gabriel Rostey…eu acho que não teria problema ter final na altitude de vez em quando (bem de vez em quando rs)…já teve Copa América na Bolívia, final de Libertadores em Quito… Pra mim o maior problema dessa ideia é a falta de estrutura dos estádios, as dificuldades de fazer essas viagens (etc). Mas pra mim a ideia de final única é legal, independe de copiar gringo ou não. Eu ate acho que a final da Copa do Brasil podia ser sempre no Mané Garrincha, num fim de semana. Até pra dar utilidade pra aquele trambolhão de R$ 2 bilhões….mas enfim, é questão de gosto…
[…] – Nova Libertadores exige mudanças no futebol brasileiro e sul-americano. E que tal final em jogo ún… […]
Libertadores durando um período maior me parece uma ótima ideia, com mais clubes e etc. Porém, uma final com jogo único, em campo neutro, é um pecado terrível. Nem tudo o que se aplica à Europa é aplicável à América do Sul por diversos fatores. Vamos exemplificar com a renda média do Europeu vs a renda média do sul-americano. Ou então com a infra-estrutura para transportes entre os dois países. É inviável e extremamente maldoso com o torcedor tirar a possibilidade de o mesmo ver o seu time de coração em uma final de libertadores, pois ele terá que ir até Bolívia, Paraguai, Equador e etc.