Créditos da imagem: Globo Esporte
Vira-e-mexe vem à tona a ideia de internacionalizar o futebol brasileiro de clubes. Como se esta fosse a última barreira a nos impedir de nos tornar a maior potência do futebol mundial, prontos a competir com qualquer grande representante europeu em pé-de-igualdade.
E mais uma vez trata-se de colocar o carro na frente dos bois, analisar e buscar soluções supérfluas antes de resolver os problemas estruturais, que existem, estão na frente de todos, mas muitos se recusam a enxergar.
Este tema voltou a circular recentemente quando da discussão sobre a venda dos direitos de transmissão internacional do Campeonato Brasileiro de 2019 a 2022. Há uma discussão entre os clubes, pois uma oferta de R$ 110 milhões feita por um grupo brasileiro estava para ser assinada quando surgiu um fundo de investimentos inglês oferecendo US$ 220 milhões pelo mesmo pacote. Independente da questão de valores, algumas falas de dirigentes apontam para a necessidade de formatarem o produto de uma maneira que seja atraente ao público de fora do Brasil.
A ideia de “formatar” é trabalhar a embalagem, quando o que torna um produto atraente é seu conteúdo. Ou seja, a ideia é vestir um produto que não agrada plenamente nem o consumidor interno e tentar vende-lo para outro público. Funciona na primeira tentativa, mas se a experiência não for boa, encalha na gôndola.
Existem vários aspectos que dificultam a aceitação dos jogos brasileiros pelos públicos do exterior. Primeiro é a questão do fuso horário. Para a Europa são 5 horas, para os EUA pode variar de 1 a 5 horas, para a Ásia são 10 a 12 horas. Dá para resolver? Sim, dá. Basta montar uma agenda com jogos na rodada, em dias e horários, voltados para este mercado. E esses jogos não podem competir diretamente com outros campeonatos. Até aqui parece simples, desde que se resolva jogar às Segundas-feiras às 15h00 ou então às Sextas às 8h00, ou talvez às 1h00 para atingir o mercado do Oeste Americano.
Mas este é um ajuste possível. Vamos aos demais. Tem que haver divulgação de como funciona o campeonato no Brasil. Precisa ter uma divulgação de quem são os times, onde jogam, quem representam, quais suas cores e mascotes. Qual a história, quem são os ídolos reconhecidos na Europa?
Uma boa agência de publicidade dá conta. Mais um ponto que leva em direção à internacionalização e conquista do mundo.
Bem, até agora falamos apenas em embalagem. Vamos ao produto em si.
Há muita gente que fala sobre os campeonatos europeus, questionando a qualidade dos mesmos. Quem nunca ouviu alguma expressão parecida com “Ver o Barcelona é fácil. Quero ver aguentar Getafe e Levante”. É verdade. Nem todos os jogos das grandes ligas europeias são assim incríveis. Geralmente há meia dúzia de clubes que se responsabilizam por jogar o melhor futebol de cada país, e por fim acabam se encontrando na Champions League. Mas esses clubes protagonistas existem em todas essas grandes ligas. Então as pessoas param para ver jogos do Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid, Bayern, Chelsea, Manchesters, Liverpool, Arsenal, PSG, Juventus, Milan, Roma, e mais alguns, porque eles proporcionam bons espetáculos e seus adversários estão longo de serem galinhas mortas. Dá jogo. Dá espetáculo.
Agora voltamos ao Brasil. A reclamação mais recorrente ultimamente é a de que a qualidade dos jogos é ruim. Daí reclama-se do calendário, do campo, da Seleção, e ao final, pode pegar qualquer jogo entre os 6 primeiros e a qualidade observada em campo será questionável. Jogos amarrados, tecnicamente ruins, lentos para padrões europeus. E nem temos craques assim para serem exibidos.
O pacote ainda contempla estádios que enchem apenas em clássicos ou com os líderes, porque alguns clubes já abandonaram o Brasileirão em busca do título da Copa do Brasil e da Libertadores, e isto faz com que os torcedores também assumam esta opção.
Nada mais comum que ouvir que “O que se joga no Brasil é outro esporte, não futebol”. Ou não?
Aqui não entro no mérito da emoção do torcedor. Os líderes e candidatos ao título estão num momento quente, de jogos disputados e emoção, mas pouca qualidade técnica. E é justamente nesse ponto que o espectador estrangeiro se apega, porque não tem a emoção, apenas a busca por um bom entretenimento.
Então, no lugar de resolver os problemas estruturais e melhorar a qualidade do produto – poderíamos apostar mais em jovens e nos transformar na liga que mais exporta atletas de qualidade no mundo – preferimos tentar empurrar um produto ruim, cobrando alto por ele. Faz parte da negociação, mas uma mal feita pode tirar o produto da gôndola, que, encalhado, atinge o prazo de validade.
Olha, um árduo trabalho, viu?! Pois se nem a gente está aguentando o futebol brasileiro, imagine os gringos!!!!!!!!!!