Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Enxergar futebol é fácil. Expor o que vê, nem sempre. Jogar é complicado para quem não traz a arte do berço.
Tostão já disse, em resposta, que quem joga sem bola é tonto. Justo ele, que elegi o melhor da Copa de 70, no México, exatamente porque jogou como ninguém, sem a bola. Tostão brinca.
Num jogo coletivo, com 22 em campo – sim, goleiro também joga, é parte ativa no esquema tático de um time, e não apenas defende – e apenas uma bola, o mais importante e decisivo se faz sem a redonda. Aplicando os ensinamentoe de Gentil Cardoso, técnico de alto nível na década de 1940: “quem pede recebe, quem se desloca tem preferência”.
Em triângulos móveis ou quadrados mágicos, o segredo está em ocupar os espaços vazios. Corre a bola, o jogador pensa. Edu Bala era veloz, daí o apelido. Num treino, no Palmeiras, Osvaldo Brandão, o técnico, pediu para que ele levantasse a cabeça ao chegar à linha de fundo e olhasse onde colocar a bola. Ouviu: “não dá, chefe, ou eu corro ou eu penso”.
Uma das reportagens que escrevi e gostei – são poucas – foi com Pedro Rocha, em longo papo, na casa dele. Falei ter anotado que em pelo menos cinco oportunidades, no jogo da noite anterior, ele teve chance de lançar Mirandinha, um velocista, mas preferiu reter a bola e ir por outro lado.
E ouvi dele uma das maiores lições que já recebi sobre futebol. “José, o forte do Mirandinha é a arrancada, a velocidade, para chegar antes e vencer os marcadores na corrida. Se eu lançá-lo em um espaço de tempo inferior a dez minutos ele cansa e perde o tempo que faz a diferença. Precisamos dele os 90 minutos”.
Se você amigo está pensando em dizer que a preparação física de agora é muito melhor, desista. Pois melhorou para todos…
No geral, os times procuram se arrumar na defesa para depois desenvolver o ataque. O que resulta nesse jogo chato, amarrado, que leva o gênio da estatística a contar os passes – de centímetros, para os lados – e a falar em posse de bola, como se isso tivesse peso definitivo no resultado da partida.
O São Paulo está propondo o inverso. Está indo ao ataque e depois buscando se arrumar na defesa – com o jogo em andamento. É mais difícil, leva tempo, aumenta os riscos de sofrer gols, mas resulta em um espetáculo melhor de se assistir. A quantidade de chances criadas é enorme, e as desperdiçadas, também.
Por quê? Por conta do “mal de Edu Bala”. Que Pedro Rocha corrigia não acionando Mirandinha a todo instante. Arrematar sempre e de primeira, exige uma sequência de treinamentos que ainda não foi possível. São muitos os chutes a gol, mas o desperdício é grande. O lance do terceiro gol contra o ABC é a prova do que digo. Reveja.
O São Paulo tem feito esse ano o que o Santos deixou de fazer. Correr riscos, mas buscar o gol.
O Santgos dos anos de ouro fazia, Pietro. Por isso era vencedor. Podia sofrer tres, mas fazia seis. Alcançou esse nível graças a muitos treinamentos e manutenção de um time base. Repare que todos os grandes jogadores que nasceram na Vila nesses tempos todos – montando vários Mininos da Vila – são atacantes. Não defensores. abs
E tomar bastante também kkkk Palmeiras 3×0
Pois está escrito. Qual a dúvida?
Genial. Parabéns
Brilhante, Mestre José Maria de Aquino!
Provavelmente dirão “mas veja a defesa do São Paulo, como está inaceitável”. E é verdade, precisa ser corrigida. Mas e o ataque, não conta? Está realmente muito forte, e nem se pode dizer que é um grande esquadrão do meio pra frente…
Inclusive as suas observações inspiraram um texto que pretendo escrever hoje 😉
TKS
Muito interessante. Ri muito