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Festivo regresso?
Há dois meses, qualquer pesquisa sobre eventual retorno de Neymar ao Barcelona obteria ampla rejeição. Mas, no futebol, as opiniões definitivas tendem a durar poucas semanas – quando não dias. O desastre em Liverpool colocou vários na berlinda e sedimentou uma constatação óbvia: nenhum dos caríssimos contratados para suceder o polêmico craque estava lá. Dembélé, que o presidente Bartomeu disse ser melhor que ele, estava lesionado pela enésima vez – com suspeitas de que seu desregramento contribua para a reincidência. Coutinho foi visto no Anfield, mas seu futebol ficava bem melhor de vermelho. Agora cerca de 75 % dos barcelonistas querem Neymar no time. Não desprezem a capacidade de perdão do ser humano.
Se a temporada do Barça acabou deprimente, a de Neymar foi pior. O projeto de levar o PSG ao topo seguiu amaldiçoado. Enquanto o brasileiro tinha um replay da mesma fratura do ano passado, o time vivia um “treplay” nas oitavas da Champions League. Mesmo sem atuar, um chilique virtual vai deixá-lo de fora das três primeiras partidas da próxima edição. Já em realidade física, um soco em torcedor e uma acusação (em vias de arquivamento) de estupro, além do corte da Copa América (mais lesão), dispensam comentários quanto aos efeitos em sua carreira. Em vez de reverter a chacota que seus mergulhos provocaram na Rússia, Neymar sucumbiu ao perfil de craque celebridade – não necessariamente nessa ordem. Está desvalorizado em todo o futebol europeu, incluindo o PSG. Seu refúgio de prestígio passou a ser o clube que deixou para ser protagonista. O que não é nada pouco. Seria uma boa?
A eventual volta à Catalunha é um daqueles negócios que, a primeira vista, parece ser ótimo para todas as partes. Pelas especulações iniciais, o PSG ganharia dinheiro e jogadores de alto nível em troca. O Barcelona voltaria a ter seu futuro número 1, como planejado, e Messi perderia os quilos de responsabilidade que Suárez anda precisando perder em sentido não-figurado. Já a segunda vista traz algumas perguntas simples, porém de respostas complexas. Vejamos algumas:
- embora as partes neguem por razões legais, o atacante Griezmann deve ser anunciado em 1º de julho. Ao contrário de Neymar, a torcida não quer ver o francês pintado de ouro após a recusa do ano passado. Caso ambas as contratações se confirmem, como é que todo mundo (Messi, Suárez, Neymar e Griezmann) vai jogar no mesmo time?
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sem Neymar, a solução ofensiva pelo lado esquerdo passou a ser o avanço de Jordi Alba. Considerando que a participação defensiva não é seu forte (Liverpool que o diga), valeria a pena mantê-lo ou seria melhor repensar sua titularidade no time?
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embora espetacular, o trio MSN trazia um problema para a formação do elenco ofensivo, já que ninguém de renome topava assinar para ser reserva absoluto. O que, inclusive, virou drama quando o competente Pedro foi para o Chelsea. Partindo da hipótese de que Coutinho iria a Paris, como ficaria a situação do pouco profissional – e de ganhos milionários – Osmane Dembélé?
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a falta de um jogador de escape para pressão adversária é um problema no esquema de Valverde. Mas não é o único. Segue faltando um companheiro confiável e rápido para Piqué, o que se agravará se Umtiti também estiver na barca para o PSG. Em termos de Fair Play financeiro, haveria dinheiro para continuar lutando pela vinda do holandês De Ligt?
Como se vê, seria tão simples se fosse tão simples. Ainda mais para uma diretoria que está mui distante da eficiência madridista. A começar pela filosofia provinciana de só ir atrás de treinadores que tenham jogado pelo clube. Contratações como a de Prince Boateng como centroavante, para “descansar” Suárez, têm muito a cara de dirigente brasileiro – incluindo, ou principalmente, um ex-jogador que marcou dois contra o próprio Barcelona, há mais de 25 anos. Trazer Neymar de volta já não será uma missão fácil. Se não houver um planejamento para o resto, talvez o melhor para as partes seja ficarem como estão.