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Não importa quem vai ganhar a Copa Libertadores nesta quarta-feira. Já está decidido: a região norte do futebol sul-americano é dona, ao menos dentro de campo, da hegemonia no continente. O desconhecido Independiente Del Valle, modesto até em seu próprio Equador (nunca venceu um campeonato nacional) enfrenta o tradicional Atlético Nacional da Colômbia na disputa pela taça. Mas, pelo menos no segundo caso, a presença na final não chega a ser totalmente surpreendente.
A vez dos Verdolagas
Ganhando títulos nacionais em sequência desde 2012, o Atlético – que aqui foi sempre conhecido como Nacional de Medellín – estruturou seu sistema tático sob as mãos de Juan Carlos Osorio, que treinou o São Paulo em 2015 e hoje dirige a seleção do México. Reinaldo Rueda apenas incrementou valores, mas manteve o estilo de jogo, que é o típico colombiano, com toques e talento, só que agora acompanhado de muita disciplina e uma competência defensiva que faz do time uma das defesas menos vazadas da competição. Poucos foram capazes de pressionar a equipe em alguma partida neste ano. Esse novo atributo foi moldado ao longo de quatro anos e atingiu seu ápice agora. Por vezes, um título continental quase esteve ao alcance, como na Sul-Americana de 2014, em que o time foi finalista e perdeu para o River Plate. Mas o Atlético já é assíduo na Libertadores ou na Sul-Americana desde 2012.
A chave do sucesso parece ser mesmo o conceito coletivo, já que a troca de peças não altera em absolutamente nada a eficiência da equipe. O jogador considerado craque do time, o meia venezuelano Guerra, seguidamente inicia no banco de reservas e o padrão de jogo não cai.
E a torcida, um espetáculo à parte. De invejar as maiores paixões brasileiras. Tanto na recepção ao time como no apoio ao longo das partidas. Ir ao Atanasio Girardot numa noite Verdolaga é roteiro certo nos planos turísticos de qualquer amante do futebol sul-americano.
Não parece ser uma insurgência isolada no futebol colombiano. Os fatos mostram: a seleção do país nunca foi tão respeitada como agora. Na última Copa conseguiu sua melhor campanha em todos os tempos. O valor de mercado do time é altíssimo. Los Cafeteros contam no elenco inclusive com uma estrela de ordem mundial, James Rodríguez. E não podemos esquecer ainda que o atual campeão da Sul-Americana é o também colombiano Santa Fe.
Enfim, o país não é refém do brilho do Atlético Nacional. O fenômeno parece maior. Já se foram os tempos em que, para ser respeitado, um time colombiano precisava ser temido de morte, como na época das ameaças de guerrilhas a jogadores adversários que iam atuar no seu território.
Suco? Não. Finalista de Libertadores
E quanto ao Independiente? É claro que chegou no fator surpresa, explorando brechas e lapsos dos adversários. Mas depois de ultrapassar o campeão River Plate, Pumas do México e o “Mr. Libertadores” Boca Juniors, já não pode mais ser considerado azarão. É conhecedor pleno de suas limitações a da proposta cautelosa de jogo que deve adotar. Joga com muita concentração e sempre aproveitou o relaxamento ou cansaço de adversários mais confiantes. Marcou assim quase todos os gols que o remeteram à atual final. E inclusive o do primeiro jogo da final, nos últimos minutos em Quito. É uma espécie de “São Caetano” sem grife. Sim, isso mesmo. Sem grife. Pois não é brasileiro, e sim equatoriano.
Para completar, a seleção do país é a atual vice-líder nas eliminatórias e caminha a passos largos para mais uma Copa do Mundo. O que é comum hoje, já foi inimaginável em outros tempos.
Simón Bolívar comandou a independência da região norte da América do Sul, mas suas equipes quase nunca honraram o nome que homenageou seus heróis. Finalmente, a história mudou. Desta vez, brasileiros e portenhos assistirão pela televisão à decisão da maior competição do continente libertado há uns dois séculos atrás.
Bela análise. Se fosse para eu fazer uma aposta, por incrível que possa parecer, colocaria uma ficha a mais no Del Valle. Um time que me surpreendeu muito nesta Libertadores e apresenta um modelo de jogo bem interessante, especialmente em torneios de tiro curto
[…] – A vez dos verdadeiros Libertadores da América […]
Adoro ver como o futebol sul-americano é descentralizado! Mais um título que não fica com “bicho-papão”, o Atlético Nacional é “somente” um bicampeão. Enquanto isso, na super centralizada Champions, não temos um time que é “só” bicampeão desde o Porto, em 2004 (e o Chelsea foi campeão inédito em 2012).