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Da enxurrada de informações sobre as confusões provocadas pelos imbecis torcedores do River, destaquei que a partida contra o Boca, para decidir a Libertadores deste ano, no Monumental de Nuñez, foi adiada para amanhã porque os jogadores do Boca se negaram peremptoriamente a ir para o gramado. Claro que não havia clima emocional para eles, diante de toda barbárie que se viu. Mas é preciso destacar, também, a postura profissional que os argentinos assumem em momentos sérios, como o de hoje.
Sou testemunha. Em 1975, fui escalado para cobrir o jogo River Plate x Argentinos Juniors, penúltima rodada, quando o time da faixa encarnada podia, finalmente, voltar a ser campeão, 18 anos depois. Viajei imaginando como seria a festa em São Paulo, quando chegasse a vez do Corinthians, então na fila há 21 anos. Cheguei na segunda, o jogo seria na quarta, e logo fui informação de que a Mutual – Sindicato dos Jogadores Profissionais – estava em greve. Reivindicava piso salarial, que os clubes não aceitavam. Segunda, terça e parte de quarta, foram muitas as reuniões, inclusive com o Ministério do Trabalho. Nada feito. O comando da greve não cedia e os jogadores acatavam a ordem de não se apresentarem para jogar. Às cinco da tarde, Federação, clubes e Ministérios tomaram uma decisão. Vai ter jogo. Marcaram para as 20 horas no estádio do Vélez, com os times escalando amadores.
Rádios e televisões foram acionadas para chamar os juvenis. Todos que pudessem chegar a tempo no estádio, que rapidamente ficou lotado. Peguei um cantinho na tribuna, de onde podia ver apenas uma parte do campo. Jogo nervoso, equilibrado. Só aos 39 do segundo tempo o River conseguiu marcar um gol – e o jogo acabou. Torcedores derrubaram o alambrado, invadiram o campo, arrancaram as redes, para lembrança, e praticamente toda a grama. A pé, de carro, metrô – o que desse – seguiram em carreata para o Monumental. Fomos atrás, eu e o JB. Scalco. Saímos de lá para o hotel quando o dia clareava. E milhares de torcedores, famílias inteiras, ainda estavam chegando. Eu saia para escrever a epopeia, eles chegavam para desabafar, cantar, correr pelo campo, com os refletores acesos. No domingo, já campeão, o jogo contra o Racing só teve meio tempo. No intervalo os torcedores voltaram a invadir o campo e decretar o fim do martírio.
Você consegue imaginar o sindicato paulista fazendo greve e o Corinthians, em 1977, sendo obrigado a jogar com juvenis? Acha que os sindicatos daqui teriam força para tanto?

Em seus mais de cinquenta anos de carreira, teve passagem marcante pelos principais veículos de comunicação do país, como Rede Globo, SporTV, Placar, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Portal Terra. Além de expoente do jornalismo esportivo brasileiro, é advogado de formação.
Um comentário em: “Da barbárie, é preciso destacar a histórica postura profissional dos jogadores argentinos”