Créditos da imagem: Instituto Ayrton Senna
Certa vez, um amigo jornalista proferiu uma frase certeira: “o brasileiro é sócio das vitórias e crítico implacável dos fracassos”. Esclarecendo que o “fracasso” aqui é considerado do segundo lugar para baixo.
Como tenho o automobilismo como segunda paixão esportiva, sempre achei que essa frase cabia perfeitamente na relação do brasileiro com a F-1. Antes de surgir o até então pouco conhecido Emerson Fittipaldi, no início de 70, nem a imprensa falava muito de automobilismo. Ele se tornou o ídolo das manhãs dominicais assim que começaram as transmissões de F-1 na TV brasileira. Fittipaldi fez com que todos se considerassem campeões do mundo. Bastou o ídolo decidir montar sua própria equipe, e mesmo tendo alguns bons resultados, incluindo pódios, se tornou motivo de chacotas.
Nelson Piquet, pouco tempo depois, assumiu a condição de ídolo-campeão e fez o automobilismo voltar a ser “uma paixão nacional”. Na sequência, surgiu Ayrton Senna. Aí, a febre de F-1 atingiu seu ponto mais alto. Com a aposentadoria de Piquet e a morte de Senna, teve fim a mania de acompanhar as corridas todos os domingos.
E excelentes pilotos, como Rubens Barrichello e Felipe Massa, começaram a ser ridicularizados por não terem sido campeões. E olhe que Rubinho foi vice por duas vezes e ainda é o piloto que mais provas disputou na F-1. Massa só não foi o campeão em 2008 por causa de uma ultrapassagem de Lewis Hamilton na última curva da última prova do ano -fora os dois erros infantis da Ferrari que lhe tiraram duas vitórias certas na temporada.
Certamente, não se tratava de torcedores de F-1. Eram torcedores de títulos mundiais. Não conheciam nada do esporte, não sabiam os detalhes técnicos que fazem os carros serem melhores nem as diferenças de pilotagens que influem nos resultados. O julgamento é sumário: se é campeão, eu aplaudo; se é de vice para baixo, eu faço piadas.
No futebol, sempre foi diferente. Mesmo com todos querendo ser campeões, muitos torcedores entendiam que os resultados dependem de vários fatores. Mesmo em derrotas, havia algum reconhecimento ao bom desempenho. O caso mais marcante é a Seleção Brasileira que brilhou e não ganhou a Copa de 1982. Até hoje, são respeitados. Na outra ponta está o time de 1994, que foi campeão, mas não despertou paixões nos torcedores que gostam do bom futebol.
Agora, em 2018, o comportamento em relação à Seleção se compara ao que se tem com a F-1. Perdeu? É ruim, fracassado. Quando estava ganhando, até as encenações de Neymar eram mais aceitas. Agora, Tite, que fez o time recuperar a autoestima, passou a ser considerado fraco. Muita gente, inclusive jornalistas, estão criticando barbaramente a quem elogiavam entusiasmados nos últimos dois anos, e até o jogo contra a Bélgica.
Não sei se o brasileiro desaprendeu a observar futebol, mas a reação está muito acima do razoável. A Bélgica jogou bem e ganhou do Brasil. Foi jogo duro, parelho. E temos um trabalho iniciado e que pode muitas alegrias no futuro.
Mas, os “torcedores sócios do sucesso” jamais admitirão que podemos perder. E que nem por isso somos um bando de fracassados representados por incompetentes. Está faltando conhecimento e humildade para muita gente.
Torcedor de seleção brasileira, no geral, conhecem pouco de futebol. Em copas, esses são os primeiros a citar os altos salários, a suposta falta de vontade e, pasmem, o carater de alguns atletas alegando, inclusive, que entregariam um título a um adversário por $. Algo que eu não creio de forma alguma! E, buscando audiência, parte da imprensa embarca nessa.
Eu ainda sou daqueles q coloca despertador pra ver Formula1.
Brasileiro trata o futebol como se o país fosse igual aos EUA em relação ao basquete. Não é, lamentavelmente. Protagonismo é diferente de hegemonia. Na história das Copas, tivemos dois ciclos hegemônicos – três títulos entre 1958 e 1970 e dois títulos e um vice entre 1994 e 2002. Nas demais Copas, tivemos desempenhos pífios até desclassicacoes honrosas, como agora. Mas, muito longe de ser uma hegemonia na modalidade, como os EUA são no basquete. No dia em que o brasileiro médio perceber, talvez a expectativa seja mais adequada ao porte da equipe.
Boa sacada. Mas será que isso ocorre apenas com os brasileiros?
Ou essa ânsia pela vitória (e apenas ela) não é algo incutido no ser-humano?
Pode ser. Mas nesta Copa não foi fácil ver toda aquela corintianada no elenco da seleção!!!
Grande maioria dos esportes são assim aqui no Brasil, ex : MMA com Anderson Silva, surf com Medina, vôlei com a seleção br entre outros.