Créditos da imagem: Fama Show
Já faz um bom tempo que futebol italiano era sinônimo de futebol europeu. Era final da década de 80, início dos anos 90, quando Sílvio Luiz e Flávio Prado, acompanhados por Sílvio Lancelotti, faziam parte das manhãs de Domingo, até que o almoço chegasse às mesas.
Além deles, ainda havia a ilustre presença de Maradona, Careca, Gullit, Van Basten, Baresi, entre tantos outros astros do futebol mundial da época. A Itália era o centro do mundo futebolístico, onde os principais jogadores queriam estar. Mas isto foi ficando pelo caminho. Com a revolução do futebol inglês e a chegada da Premier League, com o fortalecimento descomunal de Real Madrid e Barcelona e mesmo do Bayern Munich e agora PSG, os Italianos ficaram pelo caminho.
A segunda metade dos anos 2000 ainda viu um Milan forte e vencedor, apoiado em Kaká e a trupe de Brasileiros, além de Maldini, Pirlo e Seedorf. Depois houve a Internazionale da mesma Milão e seu pragmático futebol assinado por José Mourinho. Uns bons anos depois a Juventus, maior força disparada do atual futebol italiano fez duas finais de Champions League, e tem incomodado. Mas incomodar é o máximo que faz, mesmo para um time forte financeiramente e que dominou as 7 últimas Séries A (o Campeonato Italiano). E mesmo a chegada da Roma às semifinais de 2018 foram muito mais na base da vontade que do futebol qualificado.
Apesar disso, o futebol italiano ainda fica aquém dos pares europeus mais midiáticos, como espanhóis e ingleses. O Calcio envelheceu e perdeu status de grande. Perdeu dinheiro e relevância. Milan e Inter foram definhando, a Juventus domina e tentam chegar, mas ainda estão longe, Roma e Napoli.
A temporada 2018/2019 tinha tudo para ser mais do mesmo, com um Milan punido pela UEFA, a Inter gastando apenas o que pode, Napoli e Roma apostando em mudanças singelas, e a Juventus mantendo o bom elenco. Mais um ano como coadjuvantes do continente.
Mas chega o dia 10 de Julho de 2018. Auge da Copa do Mundo (que não teve participação italiana) da qual as duas principais estrelas já tinham partido. Mas Cristiano Ronaldo volta a ser a atenção do esporte mundial, agora acompanhado da Vecchia Signora. O português melhor do mundo chega à Juventus para mudar o futebol italiano de patamar.
Dito de forma simplória, foram cerca de 100 milhões de euros para o Real Madrid e algo parecido para o atleta de 33 anos, por 3 anos de contrato. Parece uma sandice, num futebol onde se paga cada vez mais por atletas cada vez mais jovens, como Gabriel Jesus, Vinícius Jr., Mbappé e, vá lá, Neymar. Mas assim como o mais caro do mundo, Cristiano Ronaldo é mais que um atleta: é uma marca que atrai holofotes, fãs, e dinheiro. Talvez com mais eficiência que o par brasileiro, mas esta é outra história.
Vamos a alguns números do Efeito CR7: em 3 dias as redes sociais da Juventus viram crescer em 1,4 milhão o número de fãs no Instagram, 1,1 milhão no Twitter e 500 mil no Facebook. Se isto não representa dinheiro na partida, representa aumento no número de potenciais fãs e consumidores do clube de Turim. E que se hoje não são torcedores, ao acessar as redes por conta de CR7, passarão a conhecer mais sobre o clube, e possivelmente se tornarão consumidores das duas marcas: CR7 e Juventus. Aliás, a Juventus é um dos clubes que melhor trata sua marca no mundo, sinal extra-campo que ajuda a explicar o intra-campo.
A chegada de CR7 fez o valor da Juventus na Bolsa de Milão aumentar 50%, para se acomodar num crescimento de 30%. Nada mal para uma ação que nos 12 meses anteriores havia variado pouco mais de 5%. Mas isto é mercado, não economia real. Vamos mais aos números para analisar esta contratação sobre a ótica do dia-a-dia.
As receitas da Juventus nos últimos 3 anos têm ficado na cada dos 300 milhões, com resultado operacional – que é o que sobra das receitas depois de pagar todas as despesas com elenco e a operação do clube – na casa dos 20 milhões de euros, de forma recorrente. Ou seja, são com esses 20 milhões que o clube tem que pagar juros, dívidas e comprar atletas. Parece pouco para bancar Cristiano Ronaldo. Mas vamos explorar um pouco mais isso.
As duas primeiras ações que ajudaram na poupança que pagará a chegada de CR7 virão da venda de algum atleta – Higuaín está pronto para seguir para o futebol inglês, possivelmente e o Chelsea – e isto renderia ao clube algo entre 40 e 50 milhões de euros. A segunda parte vem da FCA. Hoje a fábrica ítalo-americana de veículos – é a fusão da Fiat com a Chrysler – tem como principal acionista a família Agnelli, que também é a principal acionista da Juventus. Com esta contratação de CR7, a empresa aportaria mais recursos a título de patrocínio para equilibrar as contas e fechar o negócio. Isto tem duas implicações importantes: i) a UEFA controla com mão-de-ferro seus clubes e se a Juventus desandar certamente será punida, como Milan foi há alguns dias (impossibilitado de disputar a competições europeias por dois anos); ii) os funcionários da Fiat na Itália já iniciaram reclamações contra estes gastos, pois estão sem aumento há alguns anos.
Veja como a chegada de um astro do quilate de Cristiano Ronaldo mexe com diversas camadas da economia. Pode parecer pouco, mas desde a movimentação de torcedores, fornecedores, parceiros, empregados dos parceiros, mídia, e chegando aos rivais, tudo se movimenta no mundo do futebol.
Naturalmente, alguns ajustes deverão ser feitos além da venda de Higuaín. E a Juventus não imagina ficar rica vendendo camisas de CR7, mas sim reforçando sua marca de clube grande que quer vencer e buscar o melhor elenco para isso, que faz as receitas crescerem e fazer valer o investimento deste tamanho. É credibilidade, é motivação do torcedor e mexe com os brios dos adversários. O campeonato italiano dos próximos anos tende a evoluir, com o fortalecimento do Milan e seu novo dono, o fundo americano Elliott, da Inter, Roma e Napoli, e isto aumenta a demanda pelo produto Futebol, aumenta suas receitas e fortalece as finanças. O futebol italiano revive a partir de CR7, mas principalmente da Juventus.
Agora é esperar e torcer para que os Domingos de manhã voltem a ter a mesma força que um dia tiveram na voz do craque Sílvio Luiz.
Vejam, amigos Silvio Lancellotti, Flavio Prado e Bruno Prado. 😉
Grato pela citação… Mas eu sou bem posterior ao Flávio Frango… Quando entrei, ele já havia saído da Band.
Silvio Lancellotti é uma lenda!
Mestre Silvio Lancellotti estava conosco na Folha de S.Paulo.
Emerson Figueiredo Obrigado pelo “mestre”…
Bons tempos. Dava gosto de assistir!!!
Top demais!
CR7 é um cara que dá gosto de ver. Sempre aberto a novos desafios. Um monstro do futebol!
Na década de 80 o futebol italiano teve o seu apogeu, Maradona, Careca, Gullit, Van Basten, Baresi, Zico, Platini, Rummenigge, Júnior, Falcão, Sócrates, Boniek e tantos outros.
O futebol europeu está tão acima da média, que seleções como Itália e Holanda , ficaram fora do mundial. Hoje acredito que é mais fácil ser campeão mundial que ser campeão europeu.
Boas lembranças, e que time do Napoli, Maradonna arrebentava.
Careconi.