Créditos da imagem: Jornal Zero Hora
A patrolada do domingo teve requintes históricos centenários: desde 1912, o Grêmio não vencia o Internacional por uma diferença de gols tão grande. E isso jamais foi um detalhe, que se poderia chamar de algo como uma ausência de oportunidade das circunstâncias. Não! O Grêmio, pode-se dizer, jamais goleara o Inter com tamanha diferença, exatamente em razão da atitude colorada na história do embate.
Sempre muito vibrante em Grenais (e se formos fazer uma comparação com o estilo de jogo clássico de cada clube, sim, mais do que o tricolor), seja com times opacos ou fortes, nunca foi do feitio colorado esmorecer e dar uma peleia local como vencida antes da hora. Do tipo “pensar no próximo jogo ainda antes dos noventa minutos”. Mesmo nas grandes derrotas, o clube dos Eucaliptos (e depois do Beira-Rio) tratava de reagir ainda em campo a resultados adversos, visando garantir a honra de uma história de hegemonia no clássico, obtida em duas grandes eras: a do Rolo Compressor dos anos 40, e a do esquadrão dos anos 70. Quer dizer: perder faz parte; ser goleado, jamais.
Nos últimos 25 anos, fatia de tempo em que podemos posicionar o momento atual do futebol, com jogo rápido, pautado no preparo físico e marcação intensa como elemento fundamental de competitividade, só no ano passado o tricolor alcançou, de forma muito atípica, e sem ter dominado tanto para isso, uma goleada mínima de 4 a 1 sobre o Inter. Era uma escrita para os mais novos: o Grêmio pode ser muito superior, mas jamais goleia em Grenal. Só o Inter.
O Inter que foi humilhado na Arena no início de noite quente do domingo que, agora sim, inaugurou o estádio na alma dos gremistas e concretou bastante a sensação de seu pertencimento – ainda frágil, como se sabe – foi irreconhecível. Deixou o tricolor impor sua superioridade sem reagir. Jogou, com a devida vênia, como time carioca. Deu espaços o tempo todo. Autorizou o Grêmio a tocar a bola à vontade, agindo como se fosse o Brasil de Pelotas em um rompante de arrogância pelotense, querendo jogar e deixar jogar. Se sabia desde o começo que estava fadado a perder, agiu diferente de outros clássicos, em que reagiu imediatamente, lutou, marcou seu(s) gol, pelo menos devolveu a raça azul na mesma moeda, com movimentação, faltas e brio, e minimizou o desastre. Este Inter de ontem nem parecia vestir vermelho. Jogou como uma equipe pequena e, ainda por cima, resignada.
O jogador que expressou o comportamento colorado em campo foi Anderson, inevitavelmente um protagonista, pelo status profissional que tem. Será mesmo que vestiu a camisa colorada desde que voltou ao Brasil? Será mesmo que “virou a casaca”? Pelo que se vê dele na temporada, e especialmente ontem, momento chave que define a reputação de um jogador pelas bandas gaúchas, não. Desinteressado, lento, burocrático, atordoado e passivo. Esse foi Anderson. Esse foi o Inter.
D’Alessandro nunca fora goleado em Grenal. Minto, foi no ano passado, com gols no finalzinho. Mas dificilmente teria sido novamente, caso estivesse em campo ontem, afirmo. Foi exatamente o que faltou ao Inter. Um verdadeiro líder, conhecedor da aldeia e das circunstâncias de um Grenal. Que saberia articular algum tumulto para evitar um vexame. Que saberia ler o presente, pararia o jogo, provocaria faltas, compraria alguma briga para evitar o pior dos piores.
Um time jamais pode prescindir de líderes. Na casamata sequer havia treinador, e sim um interino. Em campo, ninguém. A atitude tão conhecida do colorado no eterno clássico dos pampas, personificada recentemente em D’Alessandro, ontem encontrou seu antônimo na camisa 8 de Anderson.
Dia de Grenal é dia de honrar a história. Não se brinca em Grenais. O Inter sempre soube disso, mais do que o Grêmio. Ontem esqueceu. Tomou cinco para lembrar-se disso por muito, mas muito tempo.
Foi palmeiras.
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