Créditos da imagem: Thibault Camus / AP
Como tantos, estou farto de ter que falar de Neymar. O termo é este: TER que falar. Um fato como o deste fim-de-semana não pode ser ignorado. Fugir é uma opção do mau jornalismo. Não podemos sair pela tangente da conveniência. Neymar é mais que um jogador. É uma pauta ambulante. O triste é que raramente esta pauta versa sobre seu maravilhoso futebol. O futebol que rendeu uma cobrança de escanteio brilhante para o voleio de Daniel Alves, fora o golaço de cobertura. Nada disso importou, porque Neymar aos 27 é mais imaturo do que era com 12.
Há, no Youtube, um vídeo de final de futsal infantil transmitida na TV. Nela, o time de Neymar perdeu, apesar de um belo gol. Ele não mostrou qualquer despeito com o revés. Já era preparado para o que viria em caso de sucesso. O sucesso veio. Mas os orientadores deram lugar a fomentadores de autoindulgência. Entre os criadores do monstro*, estavam muitos dos que hoje o criticam, mas apoiavam os primeiros vedetismos. Insistiram, ainda ano passado, em babaquices perigosas como a do “menino Ney”. O verdadeiro menino Ney era um exemplo. O Peter Pan de hoje é um estorvo. E sempre há quem defenda. Como Benjamin Back, ainda abobado (como de costume) por ter falado com ele antes da final da Copa da França. Na entrevista prévia, elogiou o suposto amadurecimento do atleta. No Brasil, entrevistador bajula em vez de perguntar. Seja o entrevistado atleta ou presidiário.
Bobeiras à parte, Neymar se tornou um dos atletas mais detestados do mundo – fora as zombarias. Isso não é necessariamente um problema para um competidor. O ex-tenista Jimmy Connors comentou que forçava situações para ser odiado. De alguma forma, aquilo lhe fortalecia nas disputas. Ganhou mais de cem torneios. Difícil é vislumbrar no que ser execrado por tantos ajuda Neymar. O modo como se descontrola evidencia que não é intenção competitiva. É repugnância natural. A ponto de, como disse Mauro Cezar Pereira, ser o caso de desconfiar se ele realmente é tão querido por todos os companheiros, ou se não haveria medo de se queimar com o protegido. Chega a ser ingenuidade achar que é bem quisto pelos colegas de PSG. Inclusive ao lavar roupa suja em público, com direito à cara-de-pau de dizer que, quando jovem, ouvia os mais velhos. Conta outra.
O único lugar em que o atleta conseguiu se proteger de si mesmo foi o Barcelona. Costuma-se justificar isso pelo fato de que não era o jogador principal. A vontade de ser o protagonista o teria feito deixar o clube, ganhando o ódio de torcedores – antes encantados com atuações como a da remontada contra o próprio PSG. Talvez tal glória tenha sido um prenúncio ruinoso. Voltou a conversa de “melhor do mundo”. Voltou o vedetismo desgovernado. Voltou e não quer sair. Mesmo com o assunto Bola de Ouro virando piada internacional. Mesmo com o risco cada vez mais iminente de perder o protagonismo em Paris para Mbapé. Que, por sinal, teria sido o vilão da noite, não fosse o soco do camisa 10 num torcedor idiota. “Errei, mas não tenho sangue de barata!”. Até para autocrítica consegue ser autoindulgente.
Eis que jornalistas, torcedores e dirigentes encarnam as freiras de A Noviça Rebelde. Só que, no lugar de Maria, tem o “menino”. Cresce a pressão para que a madre superiora Tite não o convoque. Grande bobagem. Nossa imprensa e nossa torcida não têm maturidade para tanto. Se o Brasil perder a Copa América sem ele, o castigo se transformará em volta triunfal, com salvo conduto (inclusive de Galvão Bueno) para seguir detestável. Não vale o risco. Ainda que, jogando, uma conquista possa produzir o mesmo efeito. Pelo menos ele teria que se esforçar, em vez de ficar viajando por aí. Um problema como “Neymaria” não se resolve. Apenas se convive da forma menos irritante possível. E com muito antiácido.
*um dos poucos acertos inequívocos do medíocre Renê Simões
Brilhante: “O insuportável Neymar” e o “digno de pena Benjamin Back ” (atraso de vida de qualquer Empresa competente e Inteligente de Comunicação Esportiva).