Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Neste último domingo, um fato inusitado aconteceu na Espanha. Controvérsias à parte sobre o pênalti de Casemiro (que pra mim não foi, mas a imprensa catalã – pró-Busquets – considerou claríssimo), o atacante brasileiro Vinícius Jr. sofreu pênalti escandaloso que nem o VAR corrigiu. Mas isso não esconde que, a despeito do passeio no Mundial (o que escancara a diferença de nível), os merengues vêm jogando mal. E um dos principais fatores eu comentei com os outros colunistas, no Whatsapp, ainda durante a decisão em Abu Dhabi. Tanto Bale quanto Benzema, além do resto do time, seguem jogando como se Cristiano Ronaldo fosse aparecer no espaço vazio. Mesmo com seu nome fora da escalação, ele está lá – na cabeça dos ex-colegas.
É inevitável que, ao atuarem com um supercraque, outros craques tenham que aceitar a situação de coadjuvantes no modo de jogar. Seja na preparação de jogadas para ele, seja com uma movimentação que atrai os adversários para que a estrela entre livre. Algo que também acontece no Barcelona. Todo mundo sabe que, quando Alba recebe na esquerda, o cruzamento irá para Messi na entrada da área. Assim como, no Real Madrid do gajo, a maioria das jogadas ia para o lado oposto, onde Cristiano surgia implacável. Neymar, Bale, Suárez, Benzema, Isco, Coutinho, Dembélé, etc… faziam ou fazem seus grandes gols e até podem ser artilheiros, mas nas contas finais eram ou são assistentes ou despistes. O drama madridista é que, após tantos anos bem-sucedidos, o instinto dos atacantes ainda é dar assistência ou despistar. Despistar para quem? Pois é, ora pois…
Gareth Bale poderia ser o favorecido. Mas faz quatro anos que deixou este papel na Inglaterra. Seu reflexo condicionado é deixar a melhor posição para outro. O mesmo vale para o centroavante francês. Pior: vale para os meio-campistas e laterais. A bola vai onde deveria ir. O destinatário, porém, está a milhares de quilômetros. A diretoria do clube, após planejamento espetacular nos últimos anos, vê seus milionários custando a disputar o topo da cadeia alimentar do ataque. Além dos já citados, o jovem Asensio decepciona quem esperava o upgrade na temporada. A esperança no elenco pode ser Vinícius Jr, que fez uma partida excelente contra o Real Sociedad. Mas mesmo o ex-Flamengo mal começa a dominar as funções de atuar aberto pela esquerda. Não tem, ainda, os predicados (especialmente a finalização e a colocação na área) para um salto de tal magnitude.
Neste contexto, o Real Madrid deve analisar com carinho a opção já aventada desde a despedida de Cristiano -contratar. Antes mesmo de sua confirmação, especulavam Neymar. Tanto o preço quanto o desprestígio pós-Copa afastaram o alvo. A bola da vez é o belga Hazard, que vem expandindo seus territórios em campo. Antes, ficava mais restrito ao lado esquerdo, pouco aparecendo para definir. Agora está convencido de que pode ser diferenciado em mais funções e aceitou o protagonismo. Seu estilo, contudo, é bem diferente do futebol de Cristiano. A começar pela altura. Hazard dificilmente completa cruzamentos altos, especialidade dos laterais merengues. Outra: suas principais jogadas ainda começam na esquerda, o que gera o risco de ele e Marcelo marcarem um ao outro. Por fim, o Chelsea não o liberaria em janeiro, nem por um Boeing de euros.
Assim, ou a gestão madridista procura outro protagonista ainda nesta janela, ou segue com o que tem até o meio do ano, quando outras opções podem surgir e o próprio belga pode se tornar acessível. Quem sabe mais algumas semanas sejam o que falta para algum dos atacantes assumir a bucha. Mas, sinceramente, não dá para botar fé. Por mais que não se deva duvidar do Real Madrid, amparado por deuses de todas as dimensões, a lista de conquistas de 2018/2019 deve combinar com a camisa do time. Sendo que, para 2019/2020, talvez outros nomes consagrados busquem outros destinos. Seria, inclusive, o mais saudável para todos.
[…] Gustavo Fernandes fez uma coluna sobre como o Real Madrid pode sair da crise melhorando o time. Danilo Mironga é mais ousado. Enviei ao presidente do clube espanhol uma série de dicas pra que saia da crise sem melhorar o time. Melhor ainda: sem sequer precisar ganhar alguma coisa. Tudo com a chancela de um dos maiores clubes do Brasil, que usou os métodos e passou anos em calmaria, mesmo na seca. Vamos às sugestões (aqui traduzidas) de Don Mironga: […]