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É normal que um site com colunistas independentes, sem patrulha travestida de “linha editorial”, tenha colunistas discordando entre si. Não escreveria para nenhum endereço sem esta liberdade. Por isso é construtivo criar debates em torno de determinados temas. Um deles é Paulo Henrique Ganso. Unanimidade ele só foi até meados de 2011. Criou-se até o termo “Ganso de 2010” para expressar o nível altíssimo daquele tempo. Duas cirurgias nos joelhos tornaram aquele padrão impossível de retomar. Mais: criaram uma discussão que deve continuar para além do fim de sua carreira. Daqui a vinte anos haverá debates sobre qual teria sido sua melhor posição. Na Europa, não há dúvidas: banco de reservas – se tanto.
Após dois anos e meio declarando que seu objetivo era vingar no Velho Continente (nem que fosse para provar que Seedorf estaria errado, ainda no final de 2013), o atleta dá sinais de ter capitulado. Aceita propostas para voltar ao futebol brasileiro. Muitos acreditam que, em nosso futebol, ele ainda seria um ótimo reforço para qualquer time. Discordo por vários motivos. Antes de mais nada, vejo este pensamento também como uma capitulação. Significa dizer, depois de longa fase de negação, que o futebol doméstico não apenas decaiu drasticamente, como esta decadência é irreversível. É também o que estará pensando o dirigente que o contratar. Com Ganso no time, podem esquecer qualquer coisa além do já manjado 4-2-3-1, com dois volantes marcadores e Ganso “solto para criar”. Só será preciso pensar em outro detalhe: combinar com os adversários.
Sempre que se fala na vinda do “meia clássico” (entenda-se: parado no meio), os otimistas o imaginam recebendo a bola livre, girando o corpo também livre e, ainda intocado, dando assistências aos homens de frente. Pode acontecer por alguns jogos, o que renderá matérias sobre volta por cima e tal. Em seguida a facilidade acaba. Passará a receber marcação no setor e, com movimentação reduzida, será dominado por quase todo o jogo. Quando conseguir dar uma assistência ou fazer um gol nos poucos segundos livre, dirão que craque resolve num lance – como o próprio Ganso declarou já no Sevilla, dando Messi como exemplo. Quando isso não acontecer, provavelmente na maioria dos jogos, dirão que é sonolento e a torcida se irritará – com razão. Uma vez controlado, a distribuição de bolas passa aos volantes. No lugar do futebol arte, tem-se um jogo feio e sem resultados.
Pode-se contra-argumentar que, mesmo neste contexto, Ganso se destacou no SPFC. De fato, alternou momentos muito bons com outros ruins. Nenhuma de suas temporadas foi inteiramente boa – salvo a última, em que saiu na metade. Porém, além do atraso tático, tenho muitas dúvidas quanto a ele ser capaz de repetir, ao menos, o desempenho físico de 2016. Com 25 anos, já parecia um veterano, deslocando-se lentamente entre um ponto e outro. A tendência é que, com o passar dos anos, pareça um amador jogando entre profissionais. Um pique natural para outros é, para ele, um esforço extraordinário. Provavelmente foi o que assustou os treinadores – e mesmo os torcedores – europeus. Ninguém negou seu talento excepcional com a bola. O que ninguém acreditou é que poderia desenvolver este talento, salvo em jogos menores. Especialmente por outro detalhe: ele parece não entender que tem um problema.
Mencionei, acima, sua declaração sobre Messi aparecer pouco e decidir jogos. Não sei a que Messi ele se refere, porque Léo retribui seus privilégios táticos (especialmente não marcar) com uma participação constante. É raro um jogo em que não cria ao menos cinco chances de gol – para ele ou para os outros. Não tem nada de “soneca”. O segundo ponto é que Ganso não faz a mesma função de Messi. Até chegou a ser usado como falso 9, no SPFC, para correr menos e ficar mais perto do gol. Deu certo contra um nanico da vida e depois naufragou. Nem ele, nem os técnicos sabem onde deveria jogar. Essencialmente, isso é fruto das limitações físicas. Não se desloca rápido o suficiente nem para ser armador, muito menos para jogar na frente. O “Ganso de 2010” poderia tanto armar como ser mais agressivo. Por isso era considerado mais especial que Neymar. Uma especialidade que seu corpo não suportou.
É por estas razões que Ganso até pode, relativamente, ser um reforço de peso para boa parte dos clubes brasileiros (com os pesares e riscos descritos), mas nunca para todos eles. Aqueles com pretensões maiores, como Libertadores, não deveriam gastar tempo e dinheiro negociando sua presença. A não ser que esteja sobrando dinheiro para uma opção de banco destinada a determinadas situações de jogo. Desde que ele esteja de acordo com isso, ou então haverá uma crise anunciada. Vale a pena? Fosse eu dirigente do meu time, não arriscaria. Não se volta às glórias do passado sendo prisioneiro deste.
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Minha visão é bem simplista porém pragmática: Se o Ganso jogar o que jogava no São Paulo quando saiu para a Europa, está muito bom, diria que estaria ótimo para o São Paulo atual, jogava muito mais que o Nenê ou do que o Shaylon…Acho que ele não “esqueceria” como se joga bola nesses anos de Europa…., a questão é sem dúvida seu condicionamento físico (ele estaria “baleado”? já um veterano aos seus 29(?) anos?). Para isso creio que o departamento médico do São Paulo tem plenas condições de conduzir essa questão.
Abraços
De que departamento médico você está falando? Porque o SPFC tem estado longe de ser exemplo de excelência tanto na parte médica quanto fisiológica. O mito do REFFIS, se é que foi verdadeiro um dia, não existe mais. Abs.
Sempre alternou ótimos com péssimos momentos. A mim me parece estar LIQUIDADO. Por favor SANTOS F.C. não embarque nesta FRIA