Créditos da imagem: Youtube
No início da transmissão do último jogo do Corinthians, a dupla Milton Leite e Maurício Noriega repetiu a tradicional crítica à escassez de gols de fora da área. No decorrer da partida, com o adversário vencendo, os corintianos parecem ter ouvido as recomendações e passaram a bater de tudo quanto é lugar. Alguns arremates foram por cima. Outros bem pelo lado do gol. Já a grande maioria colidiu na defesa adversária e voltou, inclusive expondo o time a contragolpes. Milton Leite observou que era difícil chutar com tantos defensores. Pois é, Pedro Bó…
Mas não pensem que o festejado locutor estava se contrapondo ao que ele mesmo observou no começo. Na próxima partida lá estarão ele e Noriega, em coro, defendendo que a solução contra retrancas é chutar de longe. E, provavelmente, depois vão lamentar os chutes desviados, do mesmo jeito que fizeram no sábado. Este é apenas um dos exemplos de verdades absolutas que os jornalistas esportivos falam, sem perceber que não raro eles mesmos se desmascaram. Não é nem questão de estudo. Bastaria ter a disposição de observar a realidade e conferir se ela bate com o “manuel”. De preferência, sem culpar a própria realidade se não bater.
O que pode espantar é que este congelamento de avaliações permaneceu, se é que não aumentou, justamente quando existem mais programas de debates esportivos. Na teoria, uma excelente oportunidade para trocas de ideias e consequentes avanços no conhecimento. Como exemplo, seria questão de um bloco para o comentarista que fala em dupla de ataque ouvir o outro debatedor esclarecer que o time em questão estava jogando no 4-3-3 (com óbvios três atacantes) e corrigir seu entendimento. Mas, na prática, isso não acontece. E por que não acontece? Porque o que temos não são programas de debates. São painéis, onde cada um chega, expõe o que acha e só presta atenção à opinião alheia para defender a própria até a morte.
É assim que a maioria dos jornalistas, se não dos brasileiros em geral, entende que funciona uma discussão. A começar pelo espectador, que usualmente sintoniza o rádio ou escolhe o canal em que estará o comentarista que fala o que ele, plateia, também acha. Do lado dos debatedores, por sua vez, existe a tendência a levar qualquer assunto a sua zona de conforto. Ocorre até com os melhores, como o comentarista Mauro Cezar Pereira. Volta e meia, seja qual for a pauta, lá está ele achando um jeito de defender o povão nos estádios e, de carona, ofender quem considera torcedor Nutella. E não haverá quem o questione detalhadamente, mesmo porque há outras pautas a comentar. Só dá tempo para cada um fazer o seu sonzinho, eventualmente dar uma lição de moral e trocar de assunto. Poucos gols de fora? Brasileiro quer fazer gol com bola e tudo pra agradar o torcedor Nutella. Próximo tema, por favor.
“Ah, Gus! Mas se eles realmente forem discutir até o fim, logo vão ficar sem assunto e terão que cancelar os programas!”. Engano seu, amigo internauta. Futebol é fascinante porque, entre outras coisas, está em constante mudança. Em questão de semanas, uma certeza plena pode se tornar incógnita. Um jogador faz uma estreia fabulosa, marca quatro gols e, dois meses depois, não acerta um chute ou passe. Um treinador completa uma temporada vitoriosa e é demitido em março do ano seguinte, depois de seis semanas sem vencer. Como estas coisas ocorrem? É o que jornalistas realmente deveriam estar questionando uns aos outros. Preferencialmente, ouvindo o que cada um tem a dizer para, quem sabe, chegarem a uma resposta. Quando chegarem a ela, virão outras perguntas. Assunto não faltará a quem estiver disposto a debater – ainda mais sendo pago para tanto.
Mas é sempre mais cômodo passar o ano todo falando a mesma coisa. Tem que chutar de longe, Nori. E a bola não entra por culpa da avelã. Next…
Gustavo, uma das coisas que gosto nos seus textos é que eles invariavelmente fogem do lugar-comum e ajudam a dar uma oxigenada nessa mesmice que – concordo – muitas vezes toma conta do nosso jornalismo esportivo.
Falando por mim, na medida do possível – já que sou humano e, portanto, falível – tento não me deixar contaminar com algumas situações que são quase enfiadas goela abaixo pra gente. Explico dando um exemplo: no Brasil, é quase vergonha alguém assumir publicamente que gosta do Galvão Bueno. Eu adoro! Acho que uma partida narrada por ele é diferente, tem outra atmosfera, muito mais emocionante. O que não impede que eu perceba os seus inúmeros defeitos.
Digo isso pensando nos dois exemplos citados por você no texto (que foram aleatórios, eu sei, mas apenas para ilustrar como, para mim, há muito de “gosto pessoal” quando criticamos A ou B). Veja, tenho o Noriega como um dos melhores comentaristas de jogo do Brasil. Quiçá o meu favorito. Sempre por dentro dos acontecimentos, antenado nas inovações táticas, sujeito educado e agradável e que “pisa no calo” quando é preciso, sem se omitir. E que faz tudo de modo palatável, sem cansar o grande público (que em sua maioria quer apenas ver um bom jogo e não discutir 1001 táticas, algo que, penso, caberia mais em uma mesa-redonda). Ao passo que o Mauro Cezar Pereira, de quem também gosto e percebo alguns inegáveis méritos, por vezes se perde sendo assertivo demais (“vira e mexe” querendo defender de forma categórica os seus pontos de vista como se fossem uma verdade absoluta). Gostaria de ter a oportunidade de respeitosamente dizer isso pessoalmente a ele. Quem sabe um dia…
De maneira que, para mim, uma eventual opinião ruim ou superficial não deveria ser levada tão a ferro e fogo. Noto muita intolerância e irracionalidade no mundo da bola. É quase que um imprensa x torcida. Futebol envolve paixão e é natural que dentro desse contexto a gente simpatize mais com A do que com B, ou vice-versa.
Desculpe se isso não tiver a ver com o que você escreveu, mas acabei aproveitando para expor alguns pontos de vista que a leitura do seu texto estimulou em mim.
Tentando me ater às suas palavras, acho sim que há muito espaço para crescimento e aperfeiçoamento da imprensa esportiva (tem muito jornalista boçal por aí) e, neste sentido, textos como o seu têm grande valor. Primeiro porque eles fazem pensar. E segundo porque pode tirar muita gente da zona de conforto – algo contra o qual pessoalmente eu tento lutar, pois, no futebol, é bem tentador a gente achar que já viu e conhece de tudo.
Obrigado!
E segue o jogo. 😉
O PROBLEMA É QUE SE OS CARAS FALAM ALGO QUE FOGE DO LUGAR COMUM, É PQ FALAM E “TORCEM PRA TAL TIME”, E SE NÃO FALAM, É PQ FICAM NO MURO…
NUNCA VAI ESTAR BOM PARA OS TORCEDORES…
FUTEBOL NO BRASIL É QUASE UMA RINHA DE CACHORROS ENSANDECIDOS…
Que texto maravilhoso, Gustavo Fernandes! Você exemplificou perfeitamente certas verdades inconsequentes e descompromissadas que são lançadas.
Em um ou outro programa ainda tem discordância, mas, como regra geral, a própria formação da mesa ou dos comentaristas dos canais é de gente que pensa parecido.
Acho que o Redação SporTV o que mais abre espaço para discordâncias atualmente.
Concordo inteiramente com o texto e acrescento à problemática dessas verdades absolutas que muitas vezes não se discute futebol de forma aprofundada porque muitos programas partem para um humor sensacionalalista, constrangedor às vezes. Me incomoda, por exemplo, o comportamento da Renata Fan em alguns de seus programas, quando confunde as coisas e me passa a impressão de que força até o choro. Mas há público para tudo isso, mesmo que incomode aqueles que querem só futebol…
O Milton Leite já foi bom, mas hoje ele é praticamente só engraçado!!!!!!!!!!! E tá repetindo muito os bordões, vamos combinar!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um exemplo bem claro disso eh o Benjamin Back que no fim de ano passado elogiou a ida de Wellignto Nem ao São Paulo e ã poucos dias disse não entender pa contratou.
Eu parei de assistir o Fox Sports Rádio exatamente por isso, pq mts vezes eles só expõe suas idéias. Tem um canal que parei de assistir tbm pq tinha um monte de comentarista puxando de um certo time paulista
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