Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Paulo Vinícius Coelho é um exemplo de dedicação jornalística. Longe de ter perfil e dicção naturalmente televisivas, tampouco afeito a sensacionalismos, tornou-se um dos mais respeitados do ramo esportivo. Concordando-se ou não com suas opiniões, usualmente não há controvérsia sobre a confiabilidade das informações. A credibilidade é – ou deveria ser – o principal atributo de um jornalista. Conquistá-la não é fácil. Mantê-la envolve, acima de tudo, responsabilidade. Exatamente o que faltou numa de suas últimas colunas.
Ao defender que o Palmeiras releve o passado e alugue o estádio ao rival, PVC começa o texto dizendo que “o São Paulo tentou tomar o Parque Antarctica do Palmeiras durante a Segunda Guerra Mundial”. Ponto. Nenhuma explicação complementar. Nenhuma fonte. Tomou como indiscutível aquilo que, quando muito, é incontroverso apenas nas rodas palestrinas. Por mais que as linhas e parágrafos seguintes defendam o esquecimento do episódio, choca que um jornalista tão obstinado pela precisão baseie uma coluna inteira em ponto nebuloso. Das duas, uma: ou apresentava referências para os leitores conferirem a suposta veracidade da afirmação, ou se valia da capacidade de escrita para redigir um previdente “vamos supor que o SPFC realmente tentou tomar o estádio do Palmeiras”. Talvez a pressa para chegar ao bojo da opinião tenha goleado a compreensão perfeita.
Como moderador de um fórum no qual um dos lemas é torcer sem distorcer, sou favorável a esclarecer os fatos de sete décadas atrás. Não é fácil. Se fosse, o assunto realmente estaria inquestionável há muito tempo. Vão-se as possíveis evidências. Vão-se as possíveis testemunhas. Mas não se vai a lógica diante dos fatos notórios e certos. Na época da suposta tentativa, o São Paulo tinha (ou estava em via de ter) a preferência para uso do Pacaembu – fato que, conferindo excelente obra de Orlando Duarte e Mário Vilela, mostrou-se essencial ao crescimento do clube. Tanto não havia ânsia por um estádio próprio (o Canindé era apenas campo de treinos) que nem a criação do Morumbi foi unanimidade. Por que, em situação estável, o grande emergente São Paulo tentaria algo contra um rival para ter um estádio então desnecessário?
É esta premissa inicial, consistente na falta de motivação razoável, que precisa ser apreciada e rebatida por quem pretende provar a tentativa frustrada. Pela situação envolvendo o outrora Palestra Itália e governo Vargas, um estádio pronto poderia ser expropriado e repassado a terceiro. Para assegurar que o São Paulo tivesse interesse em ser o terceiro, sem necessidade efetiva, é preciso bem mais que eventuais acusações de jornalistas da época. O papel, assim como a tela nos dias de hoje, sempre aceitou tudo. Uma situação de tal assombro, ainda mais se envolveu pólvora e invasão (como asseguram certas versões) requer o que um ex-treinador em inatividade chamaria de “provas-provas”. Do contrário, uns ficam com as obras sobre a História do Palmeiras, outros com as do São Paulo e a dúvida deve continuar a favor do acusado. Tanto no Direito quanto no jornalismo.
Neste contexto, com a coluna solta no mundo, o jornalista tem a obrigação profissional de dedicar um texto para sustentação ou retratação do que afirmou. Dependendo de sua escolha, incluindo eventual inércia, o clube atingido tem o dever moral de interpelar judicialmente o jornalista. É um dos preços da credibilidade. Ninguém dá a mínima se um blogueiro ou guru de fanáticos afirma que seu time quis roubar um estádio. Quando a assertiva vem de uma pessoa crível, agir é imperioso. A não ser que fosse primeiro de abril. Ainda estamos em março.