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Mano Menezes, o melhor técnico do Brasil. Foi o que um Blog decretou há quatro meses. Com menos de cem dias de futebol jogado em 2019. Com Libertadores ainda na primeira fase. Sem o começo do Campeonato Brasileiro. Com um título mineiro a duras penas (literalmente, dado o mascote do rival) contra um Atlético bagunçado pelo jurássico Levir Culpi. Eis que, cento e vinte dias mais tarde, o melhor do país foi parar no olho da rua. Pois é… A crônica esportiva abusa da máxima “futebol é momento”. Depois só resta rezar pra que os leitores não lembrem. Falar o que pensa é um tormento quando não se pensa no que fala.
Por ser jogado por humanos e sujeito a diversas evoluções (incluindo preparo físico, equipamento e qualidade do campo de jogo), o futebol sempre será sujeito a imprevistos. Mas a imprevisibilidade é bem menor do que muitos querem crer. É possível reduzir bolas fora aplicando simples regras advindas de anos observando. Todas com exceções, porém excepcionalíssimas. No caso de Mano, a cautela seria óbvia. Não era ponderado, salvo algo saltando aos olhos, decretar o sucesso tão cedo. Obstáculos viriam. Por parte dos adversários e do próprio treinador. Gosto de recordar uma charge de Condorito, astro dos quadrinhos sul-americanos. O personagem é um psiquiatra avisado pelo padre que não teria trabalho naquela cidade. Todos eram muito sãos. “Pode deixar que eu resolvo isso!”. Plop! Um técnico pode ser o Condorito de seu próprio elenco.
O texto pró-Mano poderia ter evitado constrangimentos futuros se, no lugar da afirmação, colocasse uma interrogação no título. No conteúdo, poderia rememorar o futebol pragmático dos anos anteriores, para questionar se o desempenho do Cruzeiro era por causa ou apesar de Mano Menezes. Ou uma combinação de ambos, que não raro é a versão mais próxima dos fatos reais. Até o mais completo dos treinadores tem suas falhas que, num dia infeliz, podem comprometer as virtudes. Com os menos brilhantes, a probabilidade de autolesão tática é proporcionalmente maior. É claro que, para saber os prós e contras de cada profissional, é preciso ir além dos vídeos de melhores momentos. Tem que estudar, questionar e também saber ouvir as respostas aos questionamentos. Quanto mais definitiva a afirmação, mais ampla deve ser a análise. Não há intuição que sobreviva à preguiça.
Isso não se aplica apenas em solo brasileiro. No Barcelona, o técnico Ernesto Valverde esteve, por dois anos seguidos, perto da consagração. Liderava La Liga com folga e não perdia uma na Champions. Mas havia deficiências, mascaradas pelas virtudes, que poderiam ser fatais. Não só foram, como deram as caras de forma retumbante. Voltemos a nosso território. E se o Santos de Sampaoli perder o pique na reta final? Não repetiria a piora do Sevilla no segundo semestre de 2017? São possibilidades que precisam, ao menos, ser consideradas num texto. Do contrário, o destinatário ficará sem todos os elementos para pensar a respeito. Pode-se protestar dizendo que, desse jeito, comentaristas só terão pauta quando a temporada terminar. Os que concluem primeiro e “fundamentam” depois, sim. Os que não têm compromisso com opiniões lacradoras (a “polêmica”), de jeito nenhum.
Para finalizar, não sou contra que se busque as exceções das regras. Foi sensacional quando, antes de todo mundo, Nelson Rodrigues decretou que o garoto Pelé era o Rei. Mas seria levado a sério se fizesse um decreto por semana? Claro que não. De mito, o dramaturgo mais cultuado de seu tempo (e outros tempos) passaria a folclórico, até se tornar um mascote de programa esportivo. O excepcionalismo, consistente em inverter regra e exceção (sempre lembrando o caso que deu certo e esquecendo os trocentos furados), é um dos flagelos das discussões. Muito além do futebol. Mano não foi exceção à regra do “vamos esperar um pouco”. Não esperou, dançou. Outras danças virão.
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