Créditos da imagem: UOL Esporte
E se…
Aquele chute de Edílson tivesse entrado?
A barreira não abrisse no gol do gajo?
O Real Madrid finalizasse umas trinta vezes e nenhuma entrasse?
Tudo isso poderia ter ocorrido. O Grêmio poderia ter sido campeão mundial ontem, no resultado mais expressivo de sua História. A crônica esportiva estaria exaltando Luan pela falta sofrida no gol do título. Ninguém estaria falando da ausência de Arthur como muleta, como se o garoto gremista fosse a mistura de Xavi e Iniesta – muito devagar com o andor. Estaria “provado” que o desnível do futebol brasileiro em relação à Europa é fruto de gringuismo. Chupa, Gustavo Fernandes (rs)!* Só que não…
Tal como Tostão, não gosto das análises de jogos no estilo de crônicas. Não raro são agradáveis e até românticas, criando figuras lendárias que aumentam o charme do futebol. Mas tais textos e matérias televisivas são mais obras artísticas que comentários do que realmente aconteceu. Futebol é um jogo de noventa minutos (fora prorrogação e pênaltis) em que um lance pode mudar toda uma tendência. O time seguro pode se apavorar, o acuado ganhar força e manter a vantagem fazendo das tripas coração. Mas também pode ocorrer o inverso: um lance pode confirmar a tendência da partida. E ser seguido de um empate inesperado, etc… Se um grande jogo de futebol fosse um roteiro de cinema, certamente seria de Tarantino, cuja característica é não ter roteiro. Vai colocando as coisas e vendo no que dá. Incrivelmente, ainda leva o Oscar de… melhor roteiro.
Mesmo que o Grêmio vencesse, não mudaria o fato de que teria sido a hipótese menos provável. O Real Madrid teve o controle das ações. Como usualmente acontece, o campeão sul-americano não encaixou seu jogo contra o campeão europeu. E por que usualmente acontece? Porque o nível para ganhar a Champions League é muito maior que o necessário para vencer a Libertadores. Nem sempre foi assim, como lembrei em coluna anterior. Mas agora é. Resta ao sul-americano aceitar e buscar a vitória dentro de suas menores possibilidades. Foi o que o Grêmio fez, dignamente. Mais não poderia ter realizado, mesmo que Arthur estivesse em campo. O jovem volante se movimenta, marca e tem bom passe, mas não possui a visão de jogo para armar o time. Basta ver que, nos jogos sem Luan na temporada, Arthur esteve longe de suprir a criatividade faltante.
“Ah, mas e se Luan tivesse jogado melhor?”. Se leram minha coluna a respeito do jogador, lembrarão o que escrevi sobre como marcá-lo. O Real Madrid não apenas controlou suas opções de passe, como ainda tinha Casemiro para o caso de um lance individual. Luan teria que estar numa noite mais que inspirada. No mínimo, abençoada. Foi comentado por Fernando Prado que ele deveria ser o Raí de 1992. Só que Raí não era a única opção de criatividade e definição do São Paulo. Se fosse marcado por dois, sobrava Palhinha – o verdadeiro criador de jogadas. Se marcassem ambos, tinha a inteligência de Müller. Fora Cerezo e Cafu (meio-campista naquele time). Outra época, quando um Flamengo podia passar por cima do Liverpool, ou o São Paulo travar um jogo brilhante com times badaladíssimos – teve o Milan em 1993. O que ambos tiveram em comum? Entre outras coisas, tempo.
Como os mais velhos sabem, o épico rubro-negro foi resultado de anos. Não foi questão de contratar para uma temporada, completar com a base e pronto. Fosse assim, provavelmente a surra de 1981 teria mudado de lado. O mesmo vale para o São Paulo, cujo trabalho começou antes mesmo da chegada de Telê Santana. O ícone Raí chegou ao clube em 1987, como mero irmão de Sócrates. O campeão brasileiro de 1991 tinha formação muito diferente da que chegou a Tóquio. Foi um longo processo, em que jogadores mais chegavam que saíam. Hoje sequer existem condições de tal planejamento. Logo nomes importantes deixam o clube e reposições de emergência são necessárias. Pior: com tantas vagas na Libertadores (antes eram só duas), a pressa para montar um time é óbvia inimiga da perfeição. A ordem é sempre “queimar etapas”. O futebol se chamusca junto.
Falta tempo e, naturalmente, dinheiro. Ficou bem mais árduo manter um planejamento sem perder atletas que obriguem a volta ao marco zero. Há alguns anos, o delírio do “Brasil fodão” fez pensar que teríamos um futebol doméstico rico o suficiente para retardar o êxodo. Mas não apenas a situação econômica geral piorou, como a do esporte em particular. As empresas concluíram que estavam gastando bem mais em patrocínios que o retorno efetivo. Agora deve ser a vez de as fabricantes de uniformes fazerem a revisão – vide as possíveis debandadas de medalhões do gênero. Quando os clubes conseguem um padrão acima destas dificuldades, surge a terceira lacuna: competência. Não era para o Grêmio, com seus “refugos”, ser o melhor time do Brasil. Nem o Corinthians apertando os cintos. Palmeiras e Flamengo torraram dinheiro à toa. E nada indica que farão diferente em 2018.
A somatória extracampo é difícil de ser superada, mas ficará ainda mais complicado se não falarmos das carências nas quatro linhas. Faltaram ao Grêmio, como teria faltado às dezenas de participantes da Libertadores, ritmo e repertório individual. Na defesa, os gaúchos conseguiram acompanhar o Real Madrid. No ataque, porém, a bola queimava. Os europeus chegam na bola mais rápido do que os sul-americanos usualmente articulam. Muitas vezes, recuperam a posse sem precisar do desarme. Paralelamente, faltaram recursos técnicos aos atletas. Foram facilmente dominados pelos marcadores, logo acostumados às poucas jogadas de cada adversário. Precisamos abandonar a “mentalidade de especialistas”, em que um jogador só cria, um só desarma, um só finaliza, um só dribla, um só entrega pro que cria, etc… Só cabem onze em cada time. Desse jeito vamos precisar de quinze – por baixo.
Não tenho a solução para cada uma destas lacunas. Se tivesse, estava me oferecendo como gerente, pelo quíntuplo do que ganho por mês. Talvez a maioria seja insolúvel, mesmo. Talvez, com ares de “provavelmente”, o destino invariável dos campeões da Libertadores seja o de zebra, torcendo para que o campeão da Champions League chegue em mau momento. Mas dá para reduzir as listras da zebra, se ao menos as partes técnica e tática forem cuidadas. O Grêmio está no rumo certo. Se outros entrarem no mesmo caminho, maior será a chance de que algum surpreenda. Do contrário, gostem ou não, chegará a hora em que até o torcedor brasileiro, com tudo o que nossa História representa, preferirá abrir mão do Mundial e convidar um rival pra perder em seu lugar…
Em tempo: não entrarei no debate, que dou como infrutífero, sobre se o Grêmio ou outro sul-americano poderiam vencer o vice-campeão europeu. A final é contra o campeão.
Em tempo 2: faltou falar que, embora não justifique, o Grêmio teve desgaste extra por conta do calendário da Libertadores, com a final sendo disputada a menos de um mês do mundial. Houve pouco tempo para recuperação física após o pico de esforço. Se na ponta dos cascos já seria difícil, imaginem sob tais condições. É algo a se repensar. Ao menos a decisão sul-americana poderia acontecer no início de novembro.
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Concordo inteiramente com você, exceto na parte do Arthur. Acho que ele realmente fez muita falta, seria o jogador capaz de ditar o ritmo do Grêmio e fazer com que tivesse uma saída de bola mais segura e dinâmica.
E essa é a característica que sempre foi reconhecida nele, não foi algo inventando para a final do Mundial, rs
Uma coisa é sair com a bola no Brasil, outra é fazer isso contra times que realmente dificultam. Especialmente quando essa saída é feita conduzindo a bola. Pra quem não está acostumado, é um baque. Quando jogar lá fora, vai treinar como escapar disso.
Perfeito! Também acho que ter o Arthur em campo não faria diferença. Por mais talentoso que ele possa parecer, ou até mesmo ser, não teria como jogar sem ter a bola. O Real foi tão soberano no jogo quanto o Barça foi contra o Santos. Não fosse Benzema, que ao meu ver não passa de um jogador mediano, o Grêmio poderia ter sofrido, facilmente, uns 4 ou 5 gols. Até mesmo CR7 estava mais preocupado em “aparecer” e tentar mostrar o quanto é infinitamente superior ao que foi Renato gaúcho, que acabou se atrapalhando e atrapalhando o time. O Real não jogou como poderia ter jogado. Se entram para mostrar o abismo técnico entre o futebol europeu e o sul-americano, não seria surpresa se o Grêmio sofresse uns 6 ou 7 gols.
Se se se , não era nem pra esse arremedo de time estar lá, não fosse a cirurgia que fizeram no River!!!!
A América do Sul precisa se render a Europanonde se pratica o melhor furebol do.mundo. Precisamos.deixar de hipocrisia e aceitar que dói menos
Nossos atletas não conseguem dar passes de.prumeira fundamental nos jogos com.marcações. alta
Infelizmente a classe a surpresana gingando nosso futebol foi superado pela eficiência simples assim
Luan é uma invenção da mídia brasileira á procura de um novo Neymar pra chamar de seu…
Agora… Como competir contra o melhor zagueiro francês, o melhor zagueiro espanhol, o melhor lateral do mundo, o melhor volante da bundesliga, o melhor volante (que era meia) da Premier League, o melhor do mundo cinco vezes… E seu time com Edilson, Cortês, Michel, Jailson, Fernandinho, Barrios, Jael e a maior invenção futebolística dos últimos anos, Luan!
Uma coisa é torcer, outra é entender a realidade!
O “Se” é o pior em campo sempre…não decide nada…
E tem mais, olhando pela TV e vendo o Zidane sempre com a mão no saco, chega-se a conclusão que ele teve mais tempo de bola que o Grêmio!!!
Se tivesse entrado o Real teria começado a jogar de verdade.
O Real está em outro patamar, mas o Grêmio também jogou abaixo do que sabe.
O Grêmio foi melhor do que eu esperava!!!!!!!!!!!!!!!!! Eu achava que ia tomar uma tunda, kkkkkk