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Allons enfants… Um soberano e sua cabeça sem noção
Não sei se são 18 milhões. Mas o São Paulo tem uma das maiores torcidas do país. Assim como é certo que a maioria esmagadora desta torcida não suporta Leco. Desde 2002, quando já chegou tropeçando como diretor. Não foi por acaso que seu retorno, em 2008, fez parte do fim de festa. Tanto que o receio de que fosse presidente virou desculpa pra Juvenal se coroar Imperador. A trupe chapa-branca só conseguiu torná-lo popular por curto período. Ainda assim, porque exploraram horrores o teto de vidro do adversário. Fora o jornalista que inventou, no horário da votação, que seria fechado um grande patrocínio. Assim, até meu primo Belmiro seria eleito.
Toda essa introdução pra ressaltar o quão afastada do sistema solar foi a declaração de Leco. Não suportou uma singela vaia estrondosa em jogo de basquete. Talvez insatisfeito por não ter provocado a derrota com sua presença, resolveu qualificar os apupos como atos de minoria manipulada. Conseguiu arrebentar o fio de paciência que restava. Nem o mais alegre dos bobos aguentou. Tirando quem conta com o dinheiro do clube (que ele entrega por medo, orgulhosamente), o “pequeno grupo de torcedores” virou fermento. O descolamento da realidade conseguiu ser mais constrangedor que o ataque são-paulino na temporada. Talvez o único equivalente histórico seja o rei Luís XVI. Aquele que, depois de ignorar a turba, foi pego tentando fugir disfarçado. Como? Por pagar uma refeição usando moeda com a própria imagem. Como não guilhotinar um paspalho desses?
Leco começou sua gestão rejeitando outra Monarquia famosa. Sabedores de sua incapacidade relativa (e nunca se teve certeza do “relativa”), os algozes de Aidar – o golpista do golpista – tentaram descentralizar a administração do sucessor. Só que Leco não queria apenas ocupar o trono que tanto lhe foi negado. Esperneou publicamente. Disse a amigos da imprensa que espalhassem o seguinte: não queria ser “Rainha da Inglaterra”. É curioso como as pessoas se ofendem ao serem comparadas com um modelo de sucesso. Majestosa ignorância. A Rainha do Reino Unido (e da Comunidade Britânica) é prestigiada no mundo inteiro. Pessoas vão de todas as partes pra ficar perto de seu Palácio. Já rendeu Oscar de melhor atriz e hoje tem até série da Netflix. Ofensa é chamar a Rainha da Inglaterra de Leco. O contrário tem outro nome: mentira.
Mas voltemos à comparação com a Revolução Francesa. Tem um final mais divertido. A Marselhesa do Jardim Leonor também quer a cabeça de Leco – no sentido figurado, muito bem entendido. Não tem Maria Antonieta nesta infame versão, mas nobreza e cardeal é o que não falta. Mosqueteiros chapa-branca, também. Estes tentaram até parodiar a falecida do filme de Sofia Coppola (leitores de esquerda, não corram, ela não é parente do Caio). Escreveram matérias retumbantes dizendo “se o povo não tem Gerson, que se deliciem com Jucilei”. Sai brioche, entra bolo fofo. O capitão da guarda até quis engolir pra animar o terceiro estado. O time teve diarreia no Morumbi, tentou segurar as pontas com Floratil, mas devolveu tudo no intervalo da batalha na Vila Belmiro. Se tentar de novo no Ceará, capaz de dar refluxo no primeiro tempo. Assim não há Bastilha que resista.
Mas levar o soberano até a lâmina da renúncia não é fácil. Se houvesse Twitter na época, com certeza o #LouisXVIdemerde seria Trend Topic. Nem por isso o Reinado cairia. Muito menos fariam uma constituinte pra enterrar o estatuto dos cardeais. Pra derrubar um status quo desses, tem que persistir. Na França revolucionária, ninguém cantava “le champion est revenu” (fonte: Unigoogle) por qualquer migalha. Foi paulada até cair. Levando junto quem estivesse com ele. Inclusive heróis de batalhas anteriores. Raí vai continuar apodrecendo na realeza ou correrá (se não for corrido) enquanto é tempo? Esse não tem desculpa pra se fazer de desavisado. Mesmo porque jogou na França…