Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Nesta altura do campeonato todo mundo já sabe o que aconteceu no Mundial de Clubes. Mas, assim como cada jogo é um jogo, e partidas eliminatórias transformam costumeiros “pés-de-panos” em leões candidatos a Melhor do Mundo, há algumas coisas que só podem acontecer se os deuses do futebol estiverem a fim que aconteça. E competitividade em 2023 é uma delas.
Vamos aproveitar que a competição já acabou e fazer aquela velha comparação entre os representantes da América do Sul e da Europa sob o ponto de vista financeiro. Inclusive para colocar algumas coisas no lugar em termos de expectativas e críticas.
Abaixo temos os dados dos últimos anos fechados de Flamengo e Real Madrid, lembrando que no caso do clube brasileiro o período vai de janeiro a dezembro de 2022, enquanto no clube espanhol representa o período entre julho de 2021 e junho de 2022, refletindo assim o período de competições.
O Real Madrid faturou mais de 5x o que o Flamengo faturou em termos recorrentes, e perto de 4,7x em termos totais, quando adicionada a negociação de atletas. Note, inclusive, que o clube madrilenho fatura bastante com negociação de atletas.
Isso permite que o Real Madrid invista em remunerações totais da sua estrutura mais de 8 vezes o que o Flamengo investe, e isso inclui todas as áreas dos clubes. E por mais que o time da Gávea seja a potência que é em território nacional, investiu 14% do que o clube espanhol investiu nas temporadas equivalentes.
Portanto, nesta coluna que é breve e marca meu retorno ao No Ângulo, peço encarecidamente que deixem de lado a ideia de que os clubes brasileiros podem concorrer com os maiores clubes europeus. Clubes brasileiros podem, no máximo, brigar de igual para igual com a parte média das tabelas em termos financeiros quando falamos nas 4 maiores ligas (Premier League, LaLiga, Serie A e Bundesliga), e no segundo quartil quando tratamos de Ligue 1.
Aliás, quando fizerem aquelas comparações com o ótimo Deloitte Money League, lembrem-se de comparar as receitas que aparecem lá com a Receita Recorrente que está citada neste artigo, porque lá não se utiliza o valor da negociação de atletas, uma vez que a grande maioria dos clubes publica apenas o lucro da venda.
Vencer um clube europeu numa competição contra eles, considerando que estará presente sempre um dos top 10 do continente, é o mesmo que ver o Al Hillal vencer o Flamengo: uma surpresa. Nossos melhores atletas chegam de clubes médios europeus ou em final de carreira. Nada contra, nada mal, mas é uma realidade. Lutar contra ela não nos transforma em nada além de Don Quixotes dos dias de hoje.
Está na hora de transformarmos o Mundial numa grande festa, tirar a pressão e a expectativa, e ignorar que sua hora vai chegar. Talvez assim tenhamos mais chances de que o improvável ocorra.