Créditos da imagem: Reprodução SporTV
Sobre os milhões de entendidos de futebol no Brasil
Durante um Arena, programa de debates do qual participava, no SporTV – o último foi em julho de 2005 – Casagrande disse que planejava ser técnico do Corinthians. Normal. Tinha sido bom jogador, artilheiro, é pessoa inteligente, e bem poderia seguir a carreira, como tantos ex-atletas vêm fazendo .
No tradicional cafezinho após o programa, papo sempre descontraído, Cléber Machado, que comandava o debate, indagou ao Casagrande como ele programaria sua primeira semana comandando o time. Casagrande pensou um pouco e, sem a menor noção do que faria, foi simples e direto:”terei que contratar alguém para essa parte”.
Não posso afirmar ter sido ali e assim, que o Brasil deixou de ter – quem sabe? – um grande técnico para continuar com um bom comentarista. Assim como tantos ex-jogadores – cada vez mais – têm ocupado microfones de rádios e televisões para, com boa, razoável e má qualidade, quando param de chutar a redonda.
Não é de agora essa “invasão” de ex-boleiros. E perde no tempo a grita de jornalistas e radialistas contra ela. Os apelos aos sindicatos da categoria, às autoridades e até aos ouvintes e espectadores. Nada feito. Talvez por falta de amparo legal, não sei. Na certa, porque os patrões consideram que dão mais “ibope” que os portadores de canudos.
De longe, vejo que alguns ex-jogadores enxergam o jogo e sabem expor o que enxergam. Alguns enxergam mas não sabem se expressar. Tem os que nada sabem e ainda agridem os ouvidos dos ouvintes e espectadores. E, por fim, tem os que comandam verdadeiros “circos de periferia”, achando-se o máximo e sendo sustentados não sei por quem. Será que dão “ibope” e geram lucro?
O caminho inverso é muito mais curto e estreito, mas existe. Sim, jornalistas já se tornaram técnicos de futebol. Por aqui, um português batizado Jorge Gomes de Lima, conhecido como Joreca, depois de trabalhar como jornalista, cursar educação física e ser árbitro de futebol, acabou dirigindo o São Paulo, com amplo sucesso, sendo campeão paulista por três vezes nos anos 1940.
Por lá, sem atravessar o oceano, viveu Cândido de Oliveira, fundador do jornal A Bola, que fez as duas coisas ao mesmo tempo
Em tempos mais de agora, de quem ainda não perdeu os cabelos e os têm brancos, todos sabem de João Saldanha, botafoguense confesso, colocado no cargo em 1957, ganhou o título carioca e voltou à cena em 1969, por um período breve na seleção brasileira.
Se podemos dizer que o jornalista Saldanha teve sucesso como treinador, o mesmo não dá para garantir com outros que se lançaram à aventura. Washington Rodrigues dirigiu o Flamengo em 1995, justo no ano do seu Centenário, sem deixar saudades nos flamenguistas.
Devem existir outros, não me recordo. Mas vejo a cada rodada, comentaristas e críticos esbanjando conhecimento, ganhando jogos, virando resultados, fazendo substituições perfeitas – se, como disse alguém, “na prática a teoria não fosse outra”. Nada contra, tudo a favor.
* foto meramente ilustrativa