Créditos da imagem: Bruno Cantini
Eu tinha 15 anos na Copa de 1990. Com a ansiedade da adolescência, procurei imaginar quem seria o jogador que poderia liderar a seleção no futuro, após o vexame daquela edição. Pensei num jovem meia-atacante do Grêmio, que levara o time à conquista da primeira Copa do Brasil, um ano antes. Chamava-se Assis. Mas o talentoso gremista não foi muito longe. Aceitou jogar no futebol suíço e sumiu. Só voltei a ouvir falar dele sete anos mais tarde. No Mundial sub-17, a seleção brasileira venceu a fortíssima (no sentido físico) Gana graças a uma assistência do camisa 10, Ronaldo Assis. Sim, irmão daquele. “Esse vai!” – decretei. Meu otimismo se baseava no seguinte: o Grêmio não repetiria, com ele, os mimos que estragaram o outro promissor. Desta vez acertei. Ao menos por um tempo.
Dois anos depois, Ronaldo já tinha virado Ronaldinho e, com um drible histórico em Dunga, foi o personagem do título estadual tricolor. Com paciência, a seleção chegaria logo. E chegou mais rápido ainda graças a uma confusão com Edílson na final do campeonato paulista. Vanderlei Luxemburgo responsabilizou o capetinha e o cortou da Copa América. Escolheu o então desconhecido gremista para o lugar. No amistoso preparatório, ele caiu nas graças de Galvão Bueno, que alterou seu nome profissional. Como o vedetismo do locutor impunha o mesmo apelido ao Fenômeno (que era Ronaldo no resto do mundo), o de Porto Alegre virou Ronaldinho Gaúcho. Vieram o golaço contra a Venezuela e uma boa participação na Copa das Confederações (sem as estrelas titulares). Mas não foi essa moleza toda. Afinal, falando em vedetes, o técnico da seleção era a plumagem em pessoa.
Estranhamente cortado da estreia nas Eliminatórias, Ronaldinho teve poucos bons momentos em 2000. Na verdade, só uma grande atuação contra a Argentina, no Morumbi. Nas Olimpíadas, foi parte do vexame contra Camarões e, depois disso, amargou um tempo de ostracismo. Foi para o PSG, na época sem grandes chamativos, e só voltou a ter chances reais na seleção (agora com Felipão) por conta do desespero. Como nada dava certo, a esperança para 2002 era repetir os três Rs (Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo) que encantaram no primeiro tempo de amistoso contra Portugal. Eis que, no jogo em que era quase certa a eliminação, com o Brasil já perdendo para a Inglaterra, dois lances geniais do meia dentuço mudaram tudo. Nem mesmo a expulsão, seguida pelos gols decisivos de Ronaldo nos dois jogos finais, afastou seu brilho. Não estávamos mais diante de uma promessa.
Ainda foram precisos mais dois anos até que, depois de jogadas antológicas pelo PSG, Ronaldinho fosse parar no Barcelona. Em compensação, não precisou nem de duas semanas para virar ídolo no novo clube. Logo em seguida, já era o dono da cidade (ainda mais depois de sair aplaudido pela torcida madrilista no Bernabeu). Mesmo sem a Champions League de 2004/2005, não havia como tirar dele o prêmio de melhor da temporada nos dois anos. Mas foi uma condecoração até supérflua, pois nem havia o que discutir: com ou sem Bola de Ouro, Ronaldinho era o melhor jogador do mundo. Foi com esse status que, enfim, ganhou o título continental numa equipe que também trazia uma revelação argentina que muito aprendeu com ele. Com a Champions no bolso, mais uma seleção experiente, era levar o hexa e desafiar os maiores da História. Só que não…
Como num filme que troca o roteirista e se transforma de épico em tragédia, Ronaldinho regrediu. Primeiro, talvez esgotado pela temporada européia e com péssima preparação coletiva, foi uma nulidade na Copa. Individualmente, perdeu o terceiro troféu da FIFA, para o zagueiro Cannavaro, herói da tetra Itália. Teve temporada até razoável no Barça, mas distante da anteriores. No ano seguinte, despencou de vez. Mesmo com os privilégios táticos obtidos com seu talento, não os justificava. Ficava parado em campo e, assim, tornou-se inesperada presa fácil para os marcadores em grandes jogos. Os catalães, já em vias de ganhar um novo soberano em Messi (sim, aquela revelação do parágrafo acima), negociaram seu ex-rei com o Milan. Não apenas foi um fiasco, como a convivência com o garoto Alexandre Pato pode ter prejudicado o futebol deste. Nem exemplo positivo era mais.
Finalmente chegou o ponto que já se esperava: Ronaldinho entregou os pontos no futebol europeu e o Milan, desiludido, não exigiu muita coisa para que fosse embora. O primeiro destino foi o Flamengo – com a torcida gremista amaldiçoando os irmãos Assis (o mais velho virou seu empresário). Com mais espaço, teve brilhos nostálgicos como a vitória no incrível duelo com Neymar na Vila Belmiro. Mas logo voltou o marasmo e a próxima tentativa foi o Atlético Mineiro. Foi quando, com a vida noturna menos intensa, teve o melhor desempenho desde antes da Copa de 2006 (ficou de fora, sem surpresas, de 2010). Porém, ainda bem abaixo dos melhores dias. Conquistou sua Libertadores em 2013, mas saiu de um início empolgante para um final burocrático, limitando-se a bolas alçadas na área. Em seguida, nova queda. Provavelmente descobriu as melhores boates de BH.
Nestas idas e vindas (mais vindas que idas), momentos de clamor popular o levaram de volta à seleção. Primeiro em 2008, quando Ricardo Teixeira obrigou Dunga a convocá-lo para as Olimpíadas. Nova decepção. Depois, com os lampejos, outras convocações por conta da pressão da imprensa (que simplesmente não aprende a usar parâmetros e até se orgulha disso). Mas nem o desempenho no Galo justificaria a presença na Copa de 2014, e certamente não foi por sua ausência que o Brasil fez papel de ridículo. Frustrado o sonho da última Copa, desanimou de vez. O Fluminense foi o último trouxa, digo, clube a apostar altos valores em seu futebol. Mal jogou e já rescindiu. Ao menos teve a decência de não enganar por muito tempo. E assim, pelo menos dois anos antes do anúncio oficial, abandonou o futebol – que, cansado de tanto desleixo, já o abandonara.
Afinal, o que aconteceu? Como um gênio, capaz de dar assistências até com as costas, desandou desse jeito? A resposta é mais simples do que parece. Ronaldinho, tal como Sócrates e outros craques de menor grandeza, foi um jogador espetacular enquanto o físico deu competitividade. Talento e repertório não são tudo. Dependendo da dedicação, são quase nada. Parece ser o único que ainda acha que a preparação brasileira para a Copa da Alemanha era exemplar, porque não deixou de segui-la. Nunca foi super-atleta, mas se cuidava o suficiente para ajudar na marcação na Copa de 2002. No Barcelona, era dispensado de formar linha defensiva, mas se movimentava constantemente no ataque e pressionava a defesa adversária. Enquanto foi realmente profissional, produzia bem mais que instantes inspirados. Sem tal condição, tornou-se o que tantos têm dito: melancólico.
Ronaldinho até pode dizer que preferiu ser feliz a se sacrificar por marcas e recordes. Não seria o primeiro a pensar assim. Mas será que, olhando para tanto tempo perdido, ele sentirá tal felicidade? Até que ponto um competidor se satisfaz, sem remorsos, ao abrir mão de grandeza? Vejo o caso de Gustavo Kuerten. Ele não teria sido um Federer ou um Nadal, mas passou anos lutando contra uma lesão irreversível, na tentativa de voltar a ser o gigante do tênis que foi. Quando parou, comovendo o esporte com suas lágrimas, tinha consciência e orgulho de só desistir quando não havia mais o que tentar. E é, aos olhos de todos, um sujeito feliz consigo mesmo. Ronaldinho sequer se deu ao trabalho de anunciar, ele mesmo, que parou. Coube a Assis, aquele que nunca foi, encerrar a trajetória de quem já foi tarde. Talvez tenha sido timidez. Talvez vergonha.
Felipe Barros olha esse texto
Final infeliz essa é a verdade!
“LA NAVE VA”
É o show mem ñ tem igual
O melhor de todos
Ronaldinho Gaúcho
Vc sempre será o melhor do mundo
Esse cara era um mago, mas nunca foi bom de decisão!!!!!!!!!!!!!!
Ronaldinho parou de jogar em 2006, de lá pra cá só deu pro gasto.
Só fala merda. Pqp!!! O cara comeu a bola na conquista do galo na libertadores.
Obrigado pela educada resposta. Mantenho o que disse. Só ficou levantando bola na área nos jogos finais. Passar bem.