Créditos da imagem: Nelson Almeida / AFP
Os leitores já devem ter percebido que não aprecio o comentarista Casagrande. Gostava dele como jogador (hoje seria selecionável tranquilamente, como já foi nos anos 1980) e torço sempre para que siga vencendo seus demônios pessoais. Já no jornalismo esportivo ele se resume cada vez mais a três coisas: 1 – observações gratuitas de cunho político; 2 – brechas para falar de seu drama pessoal com drogas; 3 – comentários que ele mesmo esquece depois, incluindo a farra de indicações à seleção brasileira. Se todos os que sugeriu desde 2014 entrassem num avião, este precisaria equivaler a cinco Jumbos. E a Globo dando corda, em vez de perceber o que salta a meus olhos: ele precisa de ajuda.
Artilheiro no futebol daqui, Casagrande ganhou respeito no seleto futebol europeu mais pela dedicação tática que pela quantidade de gols. Na Itália, chegou até a jogar como libero (de verdade, não beque de sobra), função que só era dada a quem enxergava muito bem o jogo. Porém, tal como o contemporâneo Müller, parece ter sido um exemplo de atleta cuja visão tática só acendia em campo. Fora, são incapazes de explicações básicas e mesmo de compreender obviedades. Na partida entre Chile e Brasil, pela enésima vez vimos sua surpresa e sua indignação com atacantes de lado compondo a marcação. Algo que há mais de dez anos se mostra elementar e só dispensa os fora-de-série – e olhe lá, porque em certo momento da carreira Messi, Cristiano Ronaldo e o próprio Neymar (este, no trio MSN) deram suar corridinhas atrás de lateral.
A sorte de Casagrande é que se tornou uma espécie de Zelig inverso. O personagem de Woody Allen era o camaleão humano que se transformava para ser aceito. Hoje é a Globo que se ajusta ao comentarista. Seu jornalismo se entregou a uma linha tão forçada que, não raro, irrita quem apoia as causas defendidas. Não basta ser contra o racismo. Tem que ver racista em todos os cantos. Defender mulheres no esporte e nos programas esportivos é pouco. Tem que lacrar. Os problemas pessoais do ex-atleta também caem como uma luva para esta linha, mas perfeita mesmo é a combinação com a voz máxima da emissora. O conteúdo raso e impulsivo de Casagrande é o complemento que a histeria e a ignorância – ambas propositais – de Galvão Bueno adoram. Lá se vão vinte anos de parceria. Sorte deles, azar da informação.
Até aí, existe a opção do controle remoto – raramente promissora, por sinal. O intuito deste texto, contudo, é humanitário. Não sou psiquiatra, mas parece óbvio que a aplicação maciça da fórmula pode provocar recaídas na vida pessoal. Casagrande está mais ideológico que nunca, tentando usar até a estupenda Rebeca Andrade como gancho para dizer que “todos temos culpa pelo racismo” – no que a ginasta se saiu com a mesma elegância que nos movimentos dourados. Sua compulsão de pedir jogadores do futebol doméstico na seleção incomoda até colegas como André Rocha (UOL), que deu uma aula sobre por que se trata de péssima ideia. O senso de autocrítica foi parar na lixeira, tornando-o uma caricatura de si mesmo. Virar o próprio personagem é a porta de entrada para outros desequilíbrios. Entrada ou retorno.
Casagrande ainda tem muitos anos de vida e profissão pela frente. Coisa que seu amigo Sócrates deixou de ter há quase dez anos. O comentarista contou que ambos tiveram rusgas porque este era genial, mas imaturo. “Nunca terminava o que começava” – explicou. Precisa aplicar a crítica a si mesmo. Fosse iniciante na profissão, suas características seriam simpáticas e positivas. Mantendo (e piorando) mais de duas décadas depois, já passou do enervante para o melancólico. Sem a sobriedade intelectual, a física vai para a marca de pênalti. Cuidar da primeira é recomendável, antes que venham os lamentos posteriores. Hora de mandar esse pênalti pra fora do estádio, Big House.
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