Jurgen Klopp iniciou a semana sob a probabilidade de treinar o melhor vice-campeão inglês da História e ser eliminado na Champions League após cruel resultado em Barcelona. 90 históricos minutos mudaram o cenário da Champions League, com os reds em mais uma decisão para ratificar o status de maior campeão inglês de Copas europeias. Talvez outros 90 transformem o vice-campeonato em título da Premier League. Mesmo que nada disso aconteça, nem mesmo o mais tacanho dos debatedores pode dizer que Klopp não venceu. O mais pérfido dos destinos não apagará o que já fez pelo clube – e pelo esporte.
Tal como Pep Guardiola, o que move este técnico alemão não é o currículo. É a vontade de levar o futebol a parâmetros mais altos. O espanhol vive para aperfeiçoar seu estilo de posicionamento avançado e trocas de passes para chegar aos gols e dificultar aos adversários fazer o mesmo. Klopp tem outra visão. Acredita na intensidade. Um jogo mais vertical, forte e veloz. Porém, jamais violento. Seu maior desafio é encontrar o equilíbrio na intensidade, que por vezes leva os comandados à exaustão antes do fim do jogo. Tanto com Pep quanto com Jurgen, não é fácil ser defensor. Encontrar quem soubesse jogar adiantado – cobrindo grandes espaços – foi a dificuldade em comum na primeira temporada inglesa de cada um. Não foi por outro motivo que, para espanto de muitos, Klopp fez o clube gastar uma fortuna com o jovem Van Dijk. Hoje quem se espanta é o ataque adversário.
Outra semelhança entre Klopp e Guardiola é que não ficam apenas nas intenções. Ao contrário de outros revolucionários, conseguem executar o que imaginam. Os jogadores cumprem as funções determinadas. Não há vantagem em ser chamado de “gênio incompreendido”, como figuras mais folclóricas que vencedoras. Afinal, se o sujeito não se faz compreender, como pretende organizar alguma coisa? Não serve nem como preparador de bolinha de gude. Outra característica grandiosa é saber que, mais cedo ou mais tarde, os adversários vão assimilar suas formas de jogo. Muitos trabalhos promissores afundam nessa hora. É preciso pensar em novos planos. O trio de ataque do Liverpool é o mesmo de 2017/2018. Nem por isso joga igual. Firmino recua mais, Salah avança e Mané flutua. Para o ano que vem, provavelmente outra ideia. O adversário que se vire.
Para esta terça-feira histórica, o cenário ia além da imaginação. Não apenas faltava Firmino, como Salah. Sem mágica para fazer, restou acreditar na essência de seu trabalho: tornar o jogo o mais intenso possível. Se a jogada não saísse articulada à perfeição, ao menos a chance de a defesa catalã errar seria maior. Alba partiu para um desvio de cabeça banal, sem imaginar que Mané apareceria antes de Lenglet. Um novo abafa no infortunado lateral gerou o segundo gol, cujo autor foi improvisado no ataque após a lesão do lateral-esquerdo. Muito coração, mas acima de tudo concentração para aproveitar quando o gigante fosse atingido. A partir daí, foi mais fácil que contra o Newcastle. O competente, mas ordinário Valverde não sabia o que fazer – assim como em Roma, há um ano. O Barcelona contrata técnico por ter jogado no clube. Critérios medíocres, castigos esplêndidos.
Infelizmente, não tem como não pensar que, fosse o Liverpool um clube brasileiro, talvez Klopp nem tivesse participado da volta. Seria demitido “para criar um fato novo”. Depois trariam alguém menos idealista e com mais títulos – o tal “perfil vencedor. E viriam mais anos de fracassos. O que se custa a entender, aqui, é que grandes técnicos deixam legados, mesmo quando não ganham. Já os imediatistas deixam um vazio ganhando ou perdendo – que é o que mais acontece. Klopp será campeão nos próximos dias? Talvez sim. O certo é que já pode ser considerado o ganhador do ano. Não dá mais para entender de futebol sem conhecer seus trabalhos. Ele e Guardiola são técnicos de cabeceira – para admiradores e invejosos.