Créditos da imagem: Zak Kaczmarek
So long, fairwell, auf wiedersehen, adieu…
Arsène Wenger encerra sua trajetória de 22 anos no Arsenal. Na maior parte, teve plenos poderes para definir contratações com o gordo orçamento proporcionado. Um desavisado pode achar que o clube vem obtendo resultados piores que a concorrência por falta de dinheiro. Muito longe disso. Na verdade, os últimos anos de Wenger mostram que, assim como o imediatismo é inimigo da gestão profissional, seguir cegamente o manual tampouco é o modelo para o objetivo principal de um grande clube.
Wenger levou menos tempo que Alex Ferguson para fazer seu clube campeão inglês – dezoito anos depois da conquista anterior. O Arsenal ganharia mais quatro vezes. A última, em 2004, de forma brilhantemente invicta. Foram também sete FA Cups. Mas os frutos de seu trabalho, além de não atingirem a glória internacional (os gunners seguem sem conquistar a Europa), reduziram-se a terceiros ou quartos lugares na Premier League. Mesmo quando os papões Chelsea, United e City se complicaram, quem levou foi o Leicester. Foi quando a paciência da torcida se esgotou, não sem motivo. O modelo de contratações do técnico, privilegiando jovens de qualidade discutível (caso do volante Denílson) e medalhões irregulares (como Özil) espantaram até os que podiam levar os londrinos ao topo, como o chileno Alexis Sanchez. Paciência de jogador também tem limites.
Com estádio moderníssimo, renda gigantesca e parceria com a Emirates (eterno sonho – delírio – de consumo dos clubes brasileiros), o Arsenal não podia se dar ao luxo de demorar tanto. Tornou-se, por demérito próprio, a sexta força inglesa. A vocação ofensiva agrada a torcedores do mundo todo, até que a simpatia vira decepção a cada eliminação melancólica. É verdade que lutaram até o fim na última delas – semifinal da Liga Europa. Mas convenhamos: foi o fim que todos – incluindo seus torcedores – imaginavam. Faz pelo menos três anos que qualquer comentarista, esbaforido ou ponderado, não ousa afirmar que Wenger aplacará as desconfianças. Só os dirigentes do clube, por incompetência ou soberba, grudaram os dedos na página sem conseguir virá-la. Vê-lo superar os vinte anos no clube foi bonito. Mas, com o perdão do óbvio complemento, ordinário.
O crepúsculo de mãos vazias serve como exemplo para quem acha que profissionalismo é viajar sempre pela mesma estrada. O futebol é um esporte dinâmico cujas constantes mudanças precisam ser captadas. O que funcionou por muitos anos pode se tornar um entrave. Às vezes até um retrocesso. No Brasil, embora não haja um caso de técnico com tamanha longevidade, existe o gosto por requentar soluções já superadas. O São Paulo, que se assemelha ao Arsenal em diversos aspectos (especialmente na defasagem quanto aos rivais), é um destes museus de grandes novidades. Tem o(s) ídolo(s) que volta(m). Os três zagueiros que voltam. O sistema político arcaico que não vai embora. Não se segue adiante olhando o tempo todo para o retrovisor. As lições do passado ajudam, mas apenas quando não se faz do passado um eterno presente – ou futuro.
A torcida do Arsenal agradecerá a Wenger, assim como os são-paulinos seguirão tendo o que reconhecer de bom naquilo que hoje os encalha. Mas nem todos os agradecimentos apagarão, no derradeiro momento do adeus, a sensação de que já vão tarde. A diferença é que o já ir tarde britânico se deveu a uma interpretação equivocada de ser profissional. O triste entardecer tricolor é uma interpretação convicta de ser amador, mesmo que remunerado. Outra: os ingleses agora vão tentar sair da esquina dos atoleiros. Já os paulistanos logo arrumarão outro buraco enlameado. Com direito a fleuma britânica.
No último parágrafo fala que a torcida do Arsenal agradecerá ao Ferguson. Não seria ao Wenger?
Valeu!!!
Excelente!
Esse Wenger foi o maior enganador que já vi por lá!!!!! Conquistou a simpatia de todo mundo no começo e depois ficou só surfando em cima do patrimônio acumulado!!!!!!! É o Autuori francês!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!