Créditos da imagem: Rafael Assunção / Estadão Conteúdo
Desde criança, sou fã das charges do Condorito. Gosto tanto dele quanto detesto os taxistas de seu país, o Chile. Além das tradicionais histórias com alguém caindo pra trás (plop!), há algumas em que, diante de algo totalmente nonsense, o atônito Condorito brada “Exijo uma explicação!”. Não sou o pássaro malandro, nem tenho o talento de seus roteiristas, mas ouso plagiar o “Pajarraco” (como a ele se refere o inimigo Pepe Cortisona) para solicitar ao presidente da TTI – Torcida Tricolor Independente, Baby (recentemente ignorado pelo eleitor), bem como ao presidente do São Paulo, Julio Casares, que esclareçam o seguinte texto:
“Respeitável público, o show vai começar. Na compra do nariz de palhaço a R$ 30,00, o seu ingresso é gratuito para o espetáculo de domingo, com direito a um saquinho de pipoca, antes do jogo começar.” – Baby, na semana do que o FOMQ chamou de duelo dos Botafogos (do Rio de Janeiro e do Jardim Leonor).
As perguntas:
1 – considerando que o ingresso para o setor laranja era de sessenta reais, como a Independente anunciou revenda a trinta reais com direito a um nariz de palhaço e um saco de pipoca?
2 – afinal, como a Independente conseguiu os ingressos para revender, indiscriminadamente, a preço de meia-entrada?
Vejamos as possibilidades:
1 – se a Independente comprou os ingressos pelo valor original e assumiu prejuízo de mais de 50 % (ou 100 %, caso não tenha havido compradores), problema dela e dos associados que vão custear essa perda. Seria um ato de verdadeira autonomia e, neste caso, nada melhor que apresentar os comprovantes de compra para confirmar o sangramento do próprio bolso como protesto.
2 – se a Independente adquiriu os ingressos pela metade do preço, penso que todos os são-paulinos gostariam de saber a justificativa para tal benesse. Há alguns meses, Rodrigo Capello escreveu relato de que os clubes alemães mantêm uma relação de ganhos e contrapartidas com torcidas organizadas, para ter maior controle sobre suas condutas. Há até clubes que, em troca de comportamentos exemplares de seus membros, permitem venda de produtos das organizadas no estádio. Não morro de amores por tal solução, mas está tudo lá no papel, com sanções contratuais em caso de desrespeito. Mais: isso é público. Todos, inclusive os demais torcedores, sabem o que acontece e o que pode acontecer.
3 – se a Independente recebeu os ingressos sem custos, o item acima ganha relevância ainda maior. Há alguns anos, o então presidente Leco veio a admitir, sem rodeios, que o medo de represálias levava o clube a prestar favores às organizadas, como ajuda no custeio dos desfiles de suas escolas de samba. Curiosamente, não houve qualquer manifestação de seus líderes negando tal intimidação. Fosse eu presidente de uma delas, teria sido a primeira coisa que faria. Calar seria não apenas admitir, como sugerir orgulho por gerar tal temor.
Se o são-paulino e os que gostam do SPFC (por admiração a sua História e seus feitos) realmente querem que retome seus dias de vanguarda no futebol profissional, devem exigir clareza na relação entre o clube e as torcidas organizadas. Nada de obscuridades ou combinações secretas. Penso que não falo apenas por mim quando digo que tricolores de todas as gerações (desde os tiozões até os mais jovens, jocosamente chamados de “Enzos”) estão ansiando por transparência. Só assim, e não com títulos pega-trouxa (que ainda conseguem perder), tempos mais promissores estarão de volta ao Morumbi. Ao contrário de Condorito, nossos “plops” só divertem os rivais.