Créditos da imagem: Reprodução: Jp Soares / Lance
Enquanto o Flamengo sabe que o normal é que saia campeão do confronto no Maracanã, o Corinthians é consciente de que precisa fazer a partida da vida para levar a taça. E, como tudo na vida, isso traz prós e contras para os dois lados.
Nos últimos anos os alvinegros andam traumatiizados com os rubro-negros, de quem se tornaram fregueses tanto em São Paulo quanto no Rio. A mera criação de chances claras de gol em partidas contra os algozes cariocas vem sendo muito rara para os corintianos. Assim, é fundamental para os paulistas se imporem territorialmente no começo do jogo, para poderem realmente acreditar que são capazes de vencer no estádio que já chegou a ser conhecido como “O Recreio dos Bandeirantes”. Se o Flamengo logo de cara for o dono da bola e das ações, é bem possível que o a parte mental corintiana não resista.
Por outro lado, é justamente a natural confiança na vitória que pode fazer o Flamengo se enrolar caso as coisas no primeiro tempo não saiam como esperam. Porque se o segundo tempo estiver marcando empate ou vitória alvinegra, é bem possível que a impaciência e decepção joguem pesadamente contra os favoritos.
Penso que o confronto de ida, em Itaquera, foi equilibrado, com duas equipes que basicamente se anularam: Flamengo superior na primeira metade dos dois tempos e o Corinthians melhor nas metades finais (a única diferença é que o domínio flamenguista nos primeiros 25 minutos da etapa final foi o maior de todos). Fora o sem pulo de Gabigol dentro da área, defendido por Cássio à queima-roupa, as equipes não conseguiram criar chances claras. A grande diferença nas estatísticas se deveu à melhor pontaria dos flamenguistas de fora da área, cujas finalizações de longa distância foram no alvo (a de David Luiz chegou a atingir o travessão; as demais renderam defesas protocolares de Cássio que só comprovam como a área alvinegra estava bem protegida), enquanto as dos corintianos foram para fora.
Se é verdade que o Corinthians é um mandante muito forte e visitante fraco, também é fato que desde que o Flamengo se acertou com Dorival, após superar o Galo nas oitavas, vem se destacando mais ainda como visitante do que como mandante. Tanto que tinha vencido todos os jogos de mata-mata, em casa ou fora, tirando o empate com o Athletico Paranaense no Maracanã, na única vez em que não decidiu em casa. Em todas as outras, liquidou a fatura na partida de ida, como visitante, e no Maracanã só administrou contra adversários que precisavam se expor. Desta vez precisará lidar com os nervos e responsabilidade de vencer diante da torcida, o que pode mudar tudo.
Tanto quanto os jogos, gosto de observar as análises e interpretações sobre eles. E me chama atenção a quantidade de brasieirices até aqui na repercussão sobre as finais desta Copa do Brasil:
- A choradeira para o cartão de João Gomes foi absurda. Se é verdade que o árbitro demorou estranhamento para mostrar um exagerado amarelo no começo da partida na Neo Química Arena, no segundo tempo o volante fez uma falta claríssima para cartão que não rendeu nada. Em vez de a midia criticar o jovem promissor que justa ou injustamente se colocou em situação até de ser expulso, preferiu dar voz ao vitimismo do jogador que só se apegou à primeira jogada. Isso e muito ruim para um garoto em formação;
- Por outro lado, reclamávamos corretamente das frequentes intervenções indevidas do VAR no Brasil, e quando isso melhora, há choro pelo retrocesso. Para mim é claríssimo que a mão de Leo Pereira não foi pênalti, mas até quem acha que foi deve entender que não era lance para VAR. Essa de “o árbitro deveria pelo menos ir olhar” não encontra nenhum aparo nas regras e é puro choro por conveniência;
- As substituições de Renato Augusto e Roger Guedes por Giuliano e Mateus Vital fizeram o Corinthians sair de totalmente dominado para dominante no jogo. Ainda assim, vi não apenas torcedores como ANALISTAS criticando Vítor Pereira pelas trocas. As mesmas substituições ocorreram quando o Corinthians saiu de um apertado 1 a 0 para o 3 a 0 contra o Fluminense na fase anterior. Mas mesmo com demonstrações tão claras da realidade, ouvi argumentos bizarros como “foi uma alteração pensando mais em não perder do que em ganhar, pois abriu mão de jogadores que podem decidir”. Como é possível que se diga isso quando a equipe estava muito próxima de levar um gol e passou a ficar mais próxima de marcar?;
- Na mesma linha, poucos notaram que o Flamengo melhorou após as saídas de Arrascaeta e Gabigol para as entradas de Victor Hugo e Cebolinha, já no final da partida. Mas parece que nossos analistas ainda não entendem a importância de trocar jogadores de frente para manter a pressão na saída de jogo rival.
Embora sejam poucas e cada vez menos, felizmente também há as brasileirices positivas. Uma delas é a valorização da copa nacional, que realmente é uma competição de maior importância para os clubes, ao contrário das copas nacionais europeias esvaziadas de sentido. Outra é a imprevisibilidade que permite ao azarão Corinthians ter chances reais de título como visitante contra o claro favorito Flamengo.