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Achados e perdidos
Raí prometeu encontrar a identidade do São Paulo. Minha avó costumava falar “São Longuinho, São Longuinho” quando procurava alguma coisa. O gerente de futebol foi até o espelho e viu Diego Souza. Pensou que ele poderia interpretá-lo numa recriação do SPFC em seus dias de maior glória. Diego, Nenê e Cueva reeditariam as trocas de passes que ele, Palhinha e Müller faziam sob a batuta de Telê Santana. Como não teve a produção da Netflix, o Mecanismo do Morumbi conseguiu desagradar esquerda e direita. Uma Casa de Papel produzida pela Record. Eis que o professor aloprado tricolor apelou para o super-ultra-hiper-mega-power-intendente Diego Lugano. Que pegou a bandeira do Uruguai e decretou, em péssimo portunhol, que “êsta é la identidad”.
Não é a primeira vez que o SPFC muda o passaporte num momento ruim. Em 1990, por conta do vexame no Campeonato Paulista, a nova diretoria trouxe de volta o ídolo Pablo Forlan, então como técnico. Este, com a ajuda do empresário Juan Figger (aquele do eterno bom relacionamento com o clube), chamou os compatriotas Juan Carrasco e… Diego Aguirre. O time de guerreiros serviria pra reerguer o moral. Meses depois, o São Paulo foi vice-campeão brasileiro. Nos anos seguintes, ganhou tudo. Mas não com Forlan. Nem Carrasco ou Aguirre. O primeiro logo foi demitido e os outros nunca mais foram escalados. Telê preferiu Raí, que os dirigentes já tinham cansado de esperar que se transformasse em Sócrates. Agora do outro lado, Raí teria feito o inverso. Trocaria a si mesmo por Marco Antônio Boiadeiro. Ou por mais um uruguaio.
Demorou, mas outra hora escura trouxe um novo reforço cisplatino. O sempre muy amigo Figger indicou um zagueiro promissor da seleção pré-olímpica. Foi só começar a treinar pra perceberem que a grande promessa mal chutava uma bola. Também não estava na lista pré-olímpica. Mas até 171 tem seus revertérios. A contratação mais errada da década passada deu certo. Lugano trabalhou, virou ídolo e campeão. Só que, quando a ordem do universo é modificada, há um preço a pagar. A idolatria insana gerou picos de oligofrenia. Como quando torcedores torceram pro Uruguai na Copa, fantasiando que Lugano ergueria a taça mostrando a camisa do SPFC. No lugar de uma ducha fria, o SPFC atiçou a celestefilia com a linha de camisas em homenagem ao Uruguai. Deviam ter mudado o clube pro Campeonato Uruguaio também. Talvez desse pra ganhar.
Nada contra o Uruguai. Nada contra os ídolos uruguaios. Incluindo Lugano. Mas o São Paulo teve ídolos argentinos e não vendeu um alfajor sequer com o escudo do time. O Milan teve um trio holandês campeão com o pé nas costas. Sua torcida não usou camisas alaranjadas. Nem com Lugano em campo o São Paulo teve cara de time uruguaio. “Ah, mas jogava com vontade!”. E desde quando isso é monopólio do país vizinho? O Morumbi já venerou muito jogador brasileiro com garra. Nem todos fazendo cara de louco, mas vá lá. Fazer isso é muito legal, mas vamos parar por aí. Transformar em identidade é como aquelas revisões históricas bolivarianas. A Venezuela não tinha nem petróleo antes do comandante. O São Paulo era um clube da elite burguesa que só ganhou quando o sangue latino-americano “fervió”. Menos, Che…
É provável questão de tempo pra que Lugano devolva a batata quente. Seja a Raí ou quem estiver em seu lugar. Talvez concluam que, sem dinheiro pra escolher o time que se quer, esse papo de identidade é falar de bolsa Channel na 25 de Março. Ainda mais com dirigentes e torcedores que não lembram sequer o que é ser dirigente e torcedor de clube grande. Antes de pensar em recobrar a identidade alheia, precisam cuidar das próprias.
Foi bem bizarro mesmo ver são-paulinos, torcedores do clube tradicionalmente mais técnico e “racional” do Brasil, brincando de uruguaios encardidos e botinudos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Que falta de personalidade!!!!!
E quando lançaram aquela camiseta vermelha, “Vermelho cor da raça”???????
Nossa… Nem me fale. Não posso comentar o que aquilo ficou parecendo porque este é um site de família.
[…] fatal requer apenas um toque celestial. Digo, celeste. Danilo Mironga comentou isso em sua última coluna. O apoiador são-paulino não precisa dos atributos de Tóquio, a musa de Casa de Papel, para ser […]
[…] o maior estancamento é o caminho escolhido nesta temporada. Optou-se, como o colega Mironga comentou, pela identidade uruguaia como filosofia de jogo. Na parte tática, Aguirre decidiu que a forma de atuar mais viável, exigindo menos reforços, era […]
[…] Aguirre – como disse Danilo Mironga, a busca pela tal “identidade” clubística fez Raí apostar no… – inclusive por provável, embora depois negada, influência de Lugano. A despeito da […]