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Faço questão de saber os programas de TV e rádio que gastam pauta com “quem é melhor?”. Pra assistir? Não. Pra passar longe, mesmo. É conversa fiada da pior espécie. Cada um volta pra casa com a mesma opinião e se achando o máximo por isso. Afinal, cada um tem seu critério, já criado para viabilizar a opinião pré-concebida. É como se meu fã-clube de dezessete pessoas organizasse um debate com quesitos ajustados para provar que escrevo melhor que Gustavo Fernandes – criatura superando criador? Há quem goste porque rende polêmica e “polêmica é o melhor do futebol”. Se meu gosto por futebol dependesse desse “melhor”, já tinha mudado pro curling – único esporte em que comentaristas não perdem tempo com isso. Ainda.
Meu asco não é com a ideia de comparar atletas, técnicos e times. É interessante analisar como cada um joga ou treina, o que precisa pra dar seu melhor, etc… O enfadonho dá as caras quando esta comparação ganha ares de enquete – a consagração cibernética da ignorância. O objetivo, em vez de acrescentar visões e conceitos pra entender o esporte, passa a ser o de exclusão – elogiar um, mas sempre em detrimento de outro. Como Piquet x Senna. Ou Hortência x Paula. Ou Arrigo x Humberto. Mesmo os “ponderados” parecem jurados de Troféu Imprensa ao explicarem a predileção: “olha, Sílvio! Gosto muito do Pancho Baiano. É uma gracinha, chuta bem, tem bom drible (dibre?), mas…“. O detalhe é que, uma rodada depois, o mesmo aspirante a Décio Piccinini é capaz de dar opinião completamente diversa, como se nunca tivesse emitido a primeira. Está certo “dissum”…?
Se essa encheção de linguiça (com papelão) já enjoa com atletas contemporâneos, o molho estragado vem nas disputas com jogadores de épocas diversas. Aí começa um duelo pior que política em redes sociais. De um lado, os saudosistas – incluindo jovens numa mistura de “Meia-noite em Paris” com “vovô já dizia”. No outro canto do octógono, os presentistas – “o que tem hoje é o mais evoluído, então os melhores de hoje são os melhores de todos os tempos e incomodado ficava o meu avô”. A vantagem dos primeiros é que, como existe menos material disponível sobre atletas do passado, dá pra fantasiar que todo jogo era como na compilação de lances da fita VHS – ou sua digitalização no Youtube. Como contragolpe, os presentistas vêm com aquela do tempo em que jogador tinha um ano pra passar a bola. Uns idealizam o passado. Outros o menosprezam. Pesquisá-lo de verdade, nem pensar. Acabaria “a graça”.
Quanto mais décadas se passam, mais o futebol vira outro esporte. Com prós e contras. Fulano dos anos 60 tinha tempo de olhar, olhar de novo, dar outra espiadinha e lançar. Mas também era outra ciência. Outra educação física. Outra medicina. Rompeu o tendão? Rompeu a carreira. E o campo de jogo? Se alguém tentasse um drible de Zidane em certos gramados, chamariam a ambulância direto pro manicômio. O equipamento nem se fala. Com as chuteiras atuais, até eu posso me gabar de um passe de curva. Nada garante que o grande jogador de hoje não daria vexame naqueles dias. Nem de que o de ontem não seria engolido. Muita gente intui que sim, ambos jogariam bem em todas as épocas. Mas é intuição. Na prática, mais fácil recriar o Big Bang que tirar a teima. Então qual o sentido de buscar respostas impossíveis? “Futebol não precisa fazer sentido, tio Mironga!”. Tá bom, Willy Wonka.
O passado teve lendas. O presente tem lendas. O futuro nem chegou e já estão encomendando lendas. Se tal seleção ganhar a Copa o jogador X será o melhor da História. Ou então o contrário: mesmo que ganhem a Copa, jogador Y e seleção Z nem podem ser comparados àquela de 1970!!!! E tome cara que não era o melhor da classe, o melhor da pelada, o melhor com a mulherada (vamos parar por aí…) obcecado por apontar o melhor em tudo. Que masoquismo é esse, amigo internauta que não me ajuda nas transmissões? Ninguém precisa disso pra curtir futebol e Copa do Mundo. Não consegue resistir? Espere a carreira do dito cujo acabar. Pelo menos evitará o autoconstrangimento de mudar de ideia toda semana. Né, Sílvio?
Ficam fazendo isso pra ter assunto e pra engajar as mídias sociais, é um inferno!!!!!!!!!!!!! Não sabem o que falar, é só inventar um versus que os adolescentes piram kkkkkkk