Créditos da imagem: incrédulos
Palmeiras e Corinthians estão dividindo os títulos brasileiros nos últimos quatro anos. Situações financeiras à parte, é o que consta nos registros. E o rival tricolor? Mais: e a torcida do rival tricolor? Durante este período, estava ocupada entre dizer que seu time é o soberano e time grande não cai. Como se o objetivo de time grande fosse jogar pra não cair. É tanta confusão mental que transformaram pequenez em grandeza. Talvez, seguindo o costume de discussões políticas, uns me chamem de nazista ou comunista por questionar essa abobrinha. Dane-se e dane-se.
Outra estranha ligação com os tempos modernos foi a imposição do “agora não é hora de criticar”, por jornalistas, blogueiros e donos de site – normalmente interessados em favores e proventos. Não é hora de criticar porque a temporada acabou e tem que pensar no ano que vem. Não é hora de criticar porque a temporada começou e tem que dar tempo pra ver no que vai dar. Não é hora de criticar porque não deu em nada, mas vai ficar pior se ficarem reclamando no lugar de incentivar. Foi nesse clima de mordaça (pra não ser chamado de sofazão, corneteiro, etc…) que Leco, herdeiro jurássico que sobrou de Juvenal, acabou reeleito. Alguns apoiadores até quebraram o pacto de não-reclamação mais adiante, mas não se iludam. Em 2020 estarão dizendo, adivinhem, que “não é hora de criticar” e melhor “manter a continuidade”. Apostas?
Não foram apenas corintianos e palmeirenses que, enquanto o SPFC se gabava das glórias do passado, comemoraram conquistas. Cruzeiro, internacional, Grêmio, Atlético-MG e até o Fluminense dividiram o bolo de troféus. Não raro com refugos e desprezados no próprio São Paulo. Menos raro ainda com técnicos tão ruins quanto os tricolores – muitos, inclusive, tendo passado pela Barra Funda. Enquanto o soberano desfilava sua pompa sem circunstância, nobreza e plebe se esbaldavam em suas supostas terras. No Morumbi, só uma Sul-americana com cara de série B de Libertadores. Ainda teve mané dizendo “el campeón volvió”. Depois foram três ameaças de rebaixamento, intercaladas por brilharecos sem taça, como a semifinal da Libertadores de 2016 – o ano das “derrotas dignas” de Bauza. Nem assim a torcida são-paulina se revoltou. Não era, afinal, hora de criticar…
2018 trouxe alguma coisa de diferente. O time terminou o primeiro turno na liderança. Quando foi ultrapassado, parece que a máscara do auto-engano não serviu mais. Não vejo ninguém com forças pra desdenhar do Palmeiras- de novo sem Mundial. Mesmo a torcida pela queda do Corinthians parece mais gosto comum pela desgraça alheia, que propriamente um ensaio pra outro “time grande não cai” – embora sempre haja meia dúzia de trouxas entrando nessa. Raí está sendo cobrado, ainda que com eventuais pedidos por Luxemburgo – provavelmente pela mesma meia dúzia de trouxas. Há até quem queira saber, sem rodeios, o que o super-ultra-hiper-mega-power-intendente Lugano faz de verdade. Eu mesmo achei que era o responsável pelo borrão celeste na camisa. Raí disse que não. Então faz o quê? Puxa a corrente da camaradagem com Ricardo Rocha? Diós mio – ou melhor, deles…
As críticas são sementes de clube grande. Mas não dá pra garantir que brotarão. Logo aparece a erva daninha dos anos repetidos: a esperança natalina. O são-paulino, por condicionamento externo ou conta própria, termina as temporadas acreditando que falta pouca coisa pra vencer. Falta muito. Pra mudar o roteiro, a esperança de crescer dez anos em um precisa ser a primeira que morre. O São Paulo precisa ficar à beira do desengano. Saber que ou faz o tratamento completo, ou segue com melhoras efêmeras seguidas de internações. E o tratamento completo é de pelo menos dois anos. A cada “terapia miraculosa” tentada, mais dois anos. Abaixo a esperança! Viva o descrédito!