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Ao contrário do que preconizou uma péssima coluna publicada na Folha de São Paulo, não é nada impossível evitar uma hegemonia do Flamengo. A vantagem financeira existe, mas não é suficiente pra impedir concorrência. Dá pra competir. O que incomoda dirigentes e parte da imprensa é o “como dá pra competir”. Exige otimização de recurso. Ou seja: enxugamento de despesas inúteis. Ou seja: chega de contratações feitas apenas pra rolar comissão. E chega de “me ajuda a te ajudar” pra jornalista dizer “saiba como fulano se encaixa no seu time”. Aí complica. O clube? Não. Quem vive do clube – no sentido nada nobre e totalmente sanguessuga do termo.
Enquanto o futebol brasileiro era o sapo na frigideira, cada vez mais gente comemorou. Títulos? Não. Dividendos. São os parasitas da estagnação. Bem alimentados pelo hospedeiro decadente, multiplicaram-se. Isso porque a morte do hospedeiro é muito lenta. Suas finanças vivem num tipo de hospital bem equipado. Soro da TV aqui, hemodiálise com benefícios governamentais ali e temos fartos anos de sobrevida. O Flamengo era o doente mais forte, só que o mais judiado dessa turma. Até que resolveu fazer tratamento, em vez de paliativos. Não foi fácil, mas começou a vender saúde. Faltava saber o que fazer com ela. Enquanto isso não aconteceu, os parasitados até deram risada das tentativas. Como vinham dando até Abelão ser demitido. Ninguém falou “não dá pra competir” no primeiro semestre de 2019. Aquele em que a diretoria tentou chamar a Florida Cup de título.
Paralelamente, o São Paulo mostrava o que acontece com o hospedeiro em situação mais avançada. Um ano depois de contratar Diego Souza, revelaram uma comissão que ninguém conhecia. Pra quem? Fábio Mello. Que não era empresário do jogador, mas há tempos é apontado como o carimbador do Sport. Sport, que também repassou Everton Felipe ao tricolor. Contrato de produtividade pra ser renovado. Sob duríssimas condições, tipo acordar e escovar os dentinhos. Fábio Mello, ex-jogador insosso do SPFC. Fábio Mello, ex-sócio de… Raí. Foi assim que a folha de pagamento do clube foi ficando igual à do Flamengo. Ou maior. Com direito a salários milionários no banco de reservas. Nem assim os parasitas capitularam. Deram aquela forcinha pro técnico reabilitar e colocar um deles como titular. Lembram a penúltima coluna? Pois é. Assim não dá mesmo pra competir.
Quando isso acontece, há duas opções. A primeira é chamar o médico, obedecer as ordens e extirpar os parasitas. A segunda é se unir ainda mais a eles. Particularmente, aos da mídia. Não é o seu time que está doente. É o Flamengo que está dopado com saúde. Não faltará ajuda desavisada. Comentarista cultural que nunca falou de uma pelada na vida. Socialista convicto achando que Fair Play financeiro tem que ser cada um ganhando igual. Saudosista que ainda acredita que o atrativo do Brasileirão é ter sempre dez favoritos. Não importa que dando chutão a granel. Mas estes, mesmo juntos, são inofensivos. A linha de frente pela inação é outra. Está nas mesas redondas que se proliferaram na TV paga. Está nos blogs que se proliferaram nos portais. E nos portais que se proliferaram na internet. Todos contra a “hegemonia”. Parasita também tem instinto de sobrevivência.
Por isso fica a mensagem a meus dezessete leitores (o décimo oitavo sou eu mesmo, tentando ser meu próprio parasita). Quando alguém puxar conversa de que “assim não dá, tem que fazer alguma coisa”, não tenha dúvidas. Ou está falando com um tonto, ou com um sonso. Não é moleza competir com o Flamengo. Se perder os pilares, eles podem conseguir outros. Claro que podem quebrar a cara atrás deles, como fizeram trazendo Abelão. Mas aí que mora o problema: tem como corrigir. Pro seu time poder fazer isso, precisa se livrar dos encostos. Sim, se a metáfora médica não ajuda, tem sempre a do velho e bom descarrego. Metáfora é o que não falta. O que falta é competência sem rodeios.
No caso do SPFC, não basta alguns descarregos; há que ser várias sessões de exorcismo, mas não por simples padres. Tem que ser realizada por Cardeais ou Papa.
Somente assim se livrará da possessão causada por presidentes e seus entornos dos últimos 10 anos, amém.
Este trecho é para emoldurar: “Não é o seu time que está doente. É o Flamengo que está dopado com saúde.”
Muita retórica e pouca objetividade.
É evidente que o houve “doping” financeiro ao Flamengo, desde 2012. Números não mentem. A boa gestão (saúde) foi necessária, mas outros clube também a tiveram e não puderam concorrer com um time comprado por 200 milhões para uma temporada. Veja o baile que o Grêmio tomou. 200 milhões! E todo ano vai ser assim.
O futebol como esporte comunitarista — não socialista, nem comunista, aprenda a diferença –, o futebol da lógica esportiva (não puramente econômica), o futebol do amor além do consumo, da grife e da propaganda, esse futebol valiosíssimo começou a morrer.
Corrupção nos clubes e doping financeiro do Flamengo não são realidades contraditórias. Contraditório é explicar a hegemonia unicamente pelo fator “saúde”, não sendo saúde fator exclusivo do Flamengo.
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