Créditos da imagem: Luis Moura/WPP/Estadão Conteúdo
O são-paulino começou a semana passada encantado. Com o time? Não. Com uma narrativa intitulada “a maravilhosa volta por cima de Jucilei”. O volante desacreditado, que ninguém mais queria, fora reabilitado por Fernando Pedro Paulo Diniz*. Alimentada pela imprensa chapa-branca e por mães de hienas, a bonita fábula somou-se à do “Diniz retoma o domínio tricolor no Morumbi”. Em questão de quatro dias, os contos de fadas foram invadidos pela malévola realidade. Duas derrotas no Morumbi e Jucilei tão útil como antes de ser dispensado. Mais papo furado na lixeira mais superlotada do Jardim Leonor.
Parece e deveria ser mentira, mas pás de desavisados seguem caindo nas lorotas. Mesmo após dez anos de narrativas fajutas. Como quando o golpe do Juvenal se tornou um “mal necessário” pra, entre outras coisas, recolocar o Morumbi na Copa do Mundo e evitar que o despreparado Leco fosse candidato da situação. O Morumbi, como todo mundo sabe, não foi parte da Copa. Leco, como todo mundo também sabe, foi eleito. Com o apoio de… Juvenal Juvêncio. Sua persistência como capacho foi recompensada. Inclusive pelos mesmos sujeitos que, quatro anos antes, diziam que ele jamais deveria ser presidente. Mais: com direito a especulação de patrocínio milionário na hora de votar. Adivinhem se torcedores e conselheiros não caíram nessa. Caíram e agora agem como o sargento de Guerra, Sombra e Água Fresca: “eu não ver nada, eu não dizer nada!”.
Um habitante de outro planeta poderia achar que, pra conseguirem levar tantos na conversa, os criadores destas narrativas têm enorme capacidade de persuasão. Praticamente Mandrakes. Errado, amigo marciano. A técnica é repetitiva e tão manjada quanto os dois gols de falta de Messi no fim de semana. Só que os chutes do argentino entram. As “boas novas” tricolores são, invariavelmente, bolas fora. Normalmente começam com notinhas sutis. Aí, antes que dê tempo de fracassar, surgem longas matérias intituladas “saiba como…” ou “entenda por que…”. Foi o que o UOL/Lance fez pra garantir que Daniel Alves e Juanfran estavam adaptados, em tempo recorde, ao futebol daqui. Tinham feito apenas um jogo. Cuca, suposto responsável pelo milagre, logo foi pro olho da rua. Nada de canonização ao padroeiro do galo doido.
Não existem malandros sem otários na praça. Boa parte da torcida do São Paulo se entrega ao estranho prazer de ser enganada o tempo todo. Lembram os corintianos em meados da década passada. A cada derrota, ligavam a televisão pra ouvir promessas de reforços. Vibravam quando os comentaristas explicavam que Marcelinho, Rincón e Vampeta, mesmo se arrastando, ajudariam na confiança do grupo. Soa familiar, torcedor do SPFC? Na verdade, é ainda pior. Antes havia meia dúzia de loroteiros. Agora são dezenas ou mais. Na TV, no rádio e, é claro, nas redes sociais. Todos eles ganhando com a credulidade alheia. E os crédulos, vexame após vexame, querem sempre mais. São atendidos prontamente. Logo ficam “sabendo” como os cofres não serão afetados com a vinda de um centroavante pra jogar na zaga – ou vice-versa. Ficam felizes da vida.
Claro que felicidade de otário dura pouco. Aí existem duas opções: deixar de ser otário ou continuar sendo otário. No mundo soberano, a primeira ainda é minoritária. A maioria está ciente de ser tapeada há dez anos. Sabe que tem jornalista virando assessor de imprensa do SPFC por tapear bem. Não tem como não perceber que aquele blogueiro otimista (o que diz que torcedor de verdade não para de incentivar) enche o bolso. Mas preferem continuar acreditando. Foram otários por tanto tempo que se acostumaram. Até gostam. Por algum motivo, pensam que isso os torna mais são-paulinos que os outros. Já estão ensaiando “sou, sou tricolor” e “o campeão voltou”. Onde? Na Praça da Sé, que eles compraram semana passada…
*homenagem ao ex-piloto de mesmo sobrenome e lento como o SPFC. E olha que Galvão Bueno tentou ajudar…